Viviany Beleboni, a transex ‘crucificada’ na Parada Gay, diz: ‘Não peço perdão’

‘Não fiz nada de errado. Se eu morrer, pelo menos passei uma mensagem de amor e igualdade’, afirma ela, que diz estar recebendo ameaças de morte.

Por Bárbara Vieira,do Ego

Viviany Beleboni não imaginava que a repercussão da sua participação na 19ª Parada do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), em São Paulo, neste domingo, 7, seria tão grande e negativa. A modelo transexual desfilou em um dos 18 trio elétricos da Parada Gay “crucificada” como Jesus Cristo. Acima dela, uma placa pedia “Basta homofobia GLBT”. Em pouco tempo, uma enxurrada de críticas chegou às redes sociais da modelo, inclusive ameaças de morte.

“Dizem que vão me matar, outros desejam que eu tenha câncer e que morra crucificada. Outros disseram que eu tinha que ter caído do trio e quebrado o pescoço”, contou ela em conversa com o EGO na manhã desta quinta-feira, 11.

Dizem que vão me matar, outros desejam que eu tenha câncer e que morra crucificada. Outros disseram que eu tinha que ter caído do trio e quebrado o pescoço. Fico com medo, claro.”
Viviany

“Eu fico com medo, claro, já chorei muito. Mas também recebi apoio de muitas pessoas, como o padre Fábio de Melo, o Jean Wyllys e muitos católicos, que disseram que o preconceito precisa mudar e que Deus me ama igual. Isso me deixou feliz e mais tranquila. Nos primeiros dias era muito xingamento. Minha mensagem era de amor e transformaram em ódio. Eu não tenho medo de morrer. Se eu morrer, pelo menos vim para o mundo para passar uma mensagem de amor e igualdade. Foi por uma boa causa”, disse ela, que na noite de quarta, 10, postou um vídeo no Instagram dizendo que tinha ressucitado depois de três dias.

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Viviany Beleboni ‘crucificada’ na Parada Gay (Foto: REUTERS/Joao Castellano )

Vivi garante que quer seguir na luta por direitos iguais para gays, lésbicas e transexuais. “Desde criança sofro muitas agressões. Na semana passada uma amiga transexual foi morta no Sul com seis tiros e, antes de morrer, os assassinos disseram que estavam procurando outra trans, mas que a matariam também porque ‘não daria em nada’. As pessoas dizem que não existe homofobia, mas isso é ridículo. Minha performance foi para isso, para dizer que queremos que a lei valha também para nós e para que não sejamos assassinadas por sermos quem somos”, desabafou ela.

Minha mensagem era de amor e transformaram em ódio (…) Fui de coração aberto pedir iguadade de direitos e o fim da homofobia. Só Deus sabe o que a gente passa sendo vítima de preconceito todos os dias”
Viviany

Vivi acrescentou que não quis representar Jesus Cristo e nem desrespeitar a fé de ninguém. “Eu já vi muita morte de trans e gays e quis representar essas pessoas. Jamais eu representaria Jesus Cristo, estava representando as dores e a luta LGBT, tinha uma placa enorme para deixar isso claro.” Apesar disso, Viviani aponta uma incongruêcia na atitude de cristãos que a criticaram. “Os evangélicos disseram que eu representar Jesus Cristo é uma blasfêmia, mas no dia da Páscoa quando tem um ator representando Jesus Cristo eles acham bonito, né? É evidente que é porque eu sou trans que estou enfrentando esse preconceito.”

Segura de suas convicções, Vivi se recusa a pedir perdão a quem se ofendeu. “A minha intenção foi a melhor, fui de coração aberto pedir iguadade de direitos e o fim da homofobia. Só Deus sabe o que a gente passa sendo vítima de preconceito todos os dias. Não pedi perdão porque não fiz nada de errado.”

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Viviany Beleboni durante um trabalho como modelo (Foto: Reprodução/Instagram)

Vivi foi, inclusive vítima de boatos de que estaria morta. “Fizeram um foto-montagem em que eu aparecia morta e começaram a espalhar por aí com uma legenda que dizia ‘É isso que dá mexer com Deus’. É esse o Deus destas pessoas? Minha família e amigos me ligavam desesperados perguntando se eu estava morta mesmo”, lamenta.

Por outro lado, Viviany contou que muitas pessoas aprovaram sua performance . “Eu entendo que tenha sido chocante, a maquiagem estava bastante realista. Na Parada Gay muita gente me olhou com carinho e compreensão. As pessoas aplaudiram, aceitaram, não teve deboche, não me vaiaram. Fiquei cinco horas na cruz, estou até manchada de sol. Eu não fui para brincar, não dancei. Eu representei a dor das pessoas que estão morrendo por causa da homofobia.”

Ela também rebate as acusações de que teria feito a performance em busca de fama: “Eu trabalho como modelo em eventos, revistas e feiras. Me formei como atriz há um ano, mas é difícil conseguir trabalhos. As pessoas que me conhecem sabem que nego trabalhos na TV porque o transexual é sempre motivo de chacota, é sempre para rir da nossa cara. Eu não preciso disso”.

Viviany Beleboni (Foto: Reprodução/Instagram)
Viviany Beleboni (Foto: Reprodução/Instagram)

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