Vote preto, vote preta

FONTEPor Mariana Belmont, do UOL
Sueli Carneiro (Foto: Natalia Carneiro)

E não voto mais em homens brancos mesmo, gente. E você também não deveria.

Tenho constrangido meus amigos e conhecidos para repensarem o voto em homens brancos para o Congresso Nacional e Assembleias Legislativas. Constrangido mesmo, sem nenhum problema. Principalmente para quem se colocou nas redes sociais como antirracista e na hora do voto diz que vai votar no branco, porque precisamos “usar o voto direito e não perder”. Então votar em branco é ganhar?

A minha pergunta aos amigos é “Deu certo votar em deputados brancos até hoje?”.

Semana passada declarei meu voto no Lula, e repito que não há outra saída, precisamos eleger para sobreviver. Precisamos! Vamos de Lula!

Para as câmaras legislativas é preciso votar em lideranças negras e indígenas. Um quilombo nos parlamentos e uma bancada do cocar. Construir uma democracia de fato exige equidade racial, justiça social e respeito aos direitos humanos. Lembremos o lema mote da Coalizão Negra Por Direitos: “Enquanto houver racismo, não haverá democracia.”.

O movimento negro tem um projeto para todos os brasileiros, e a iniciativa do Quilombo nos Parlamentos busca avançar na agenda antirracista para uma agenda, com um projeto com negros para o Brasil.

“Reafirmando que não se trata de um Brasil para os negros, mas de um projeto com negros para o Brasil. Precisamos de mais lideranças negras para que possamos falar e agir em nosso próprio nome. Mesmo sendo a maioria da população, lutamos por direitos básicos dos quais a população negra é constantemente privada, como direito à vida, à saúde, à educação, à alimentação”, nos lembra Douglas Belchior, professor de história, militante da Uneafro Brasil e da Coalizão Negra Por Direitos.

“Esse é um momento de reviravolta na política. É um absurdo sermos mais de 56% da população e termos apenas 21 parlamentares negros e negras no Congresso, em um universo de 513. Mas, não estamos falando apenas do Congresso Nacional, mas também das assembleias legislativas. Nós resolvemos pautar isso de forma estrutural e estruturante e assim,’aquilombar’ a política”, afirma Vilma Reis, defensora de direitos humanos do Coletivo Mahin da Bahia e integrante da Coalizão Negra Por Direitos.

Vilma Reis e Douglas Belchior são candidatos para a Câmara Federal, militantes do movimento negro brasileiro, que constroem esse país e salvam vidas que o Estado executa, se colocando à disposição para representar a maioria da população brasileira.

Segundo o IBGE, 56% da população brasileira é composta por negros. Porém são sub-representados nos parlamentos e instituições democráticas pelo país. Em outros indicadores, no entanto, os negros são, infelizmente, maioria. Por exemplo, o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar, mostrou que 10,7% dos lares de pessoas negras convivem com a fome, contra 7,5% de lares de pessoas brancas.

Já o Fórum Brasileiro de Segurança Pública descobriu que enquanto o número de não negros mortos caiu 33% entre 2009 e 2019, o de negros subiu 1,6%. Em 2020, 76,2% das pessoas assassinadas eram negras. Em 2022, 500 trabalhadores foram resgatados em condição análoga à escravidão pela Auditoria Fiscal do Trabalho; destes, 84% se autodeclararam negros.

Por isso, votar nos candidatos do Quilombo nos Parlamentos é fundamental. É constrangedor que a gente acredite que reeleger, e eleger, os mesmos homens brancos vão avançar. Não é voto de confiança, é reparação histórica é sair da frente e eleger quem precisamos eleger para o futuro do país menos desigual, sem fome e sem conservadorismo.

Vote nos candidatos do Quilombo nos Parlamentos!

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