27 de outubro – Dia Nacional de Mobilização Pró-Saúde da População Negra

O cardiologista Dr. Luiz Agnaldo esclarece, em entrevista ao iSaúde Bahia, dúvidas sobre as doenças cardíacas mais comuns na população afrodescendente.

O Dia Nacional de Mobilização Pró-Saúde da População Negra é uma iniciativa da Rede Nacional de Controle Social e Saúde da População Negra que foi criada em 2007 por ativistas do movimento negro e em defesa do Sistema Único de Saúde. A mobilização tem parceria com a Articulação de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde, Rede Lai Lai Apejo: População Negra e AIDS, Rede Nacional Afro-Atitudes, Rede Nacional de Promoção e Controle Social em Saúde das Lésbicas Negras (Rede Sapatá).

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Como slogan “Vida longa, com saúde e sem racismo!”, a Mobilização Nacional Pró-Saúde da População Negra 2012  inclui uma programação variada para incentivar a manutenção da saúde da população negra. Acesse o mapa de atividades em todo o Brasil. 

Os objetivos da campanha são: contribuir para a efetivação do direito à saúde da população negra; monitorar e avaliar a implementação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra nas três esferas da administração pública; ampliar o diálogo e a articulação da sociedade civil para o enfrentamento do racismo e seus impactos na saúde; contribuir para a formulação e a disseminação de um conceito de saúde fundado na perspectiva da população negra.

Para esclarecer sobre as doenças cardíacas mais comuns na população afrodescendente e os motivos dessa prevalência, o iSaúde Bahia entrevistou o cardiologista Dr. Luiz Agnaldo. Confira!

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iSaúde – Quais fatores favorecem a maior prevalência de algumas doenças em pessoas afrodescendentes?

Dr. Luiz Agnaldo – A atual frequência, distribuição e causalidade das doenças mais incidentes na população brasileira afrodescendente são influenciadas por características de ordem genética e ainda fortemente por fatores socioeconômicos que incluem o regime de escravatura vivido até o final do século XIX e a posterior situação de exclusão social, presente até nossos dias, de grande parcela da população.

Um dado genético interessante com relação à maior prevalência de hipertensão arterial em afrodescendente tem correlação com a taxa de mortalidade dos africanos escravizados durante a viagem para o Brasil, em torno dos 30%. As causas de morte mais recorrentes eram desidratação e doenças diarreicas. O que se infere é que a grande maioria dos sobreviventes possuía uma capacidade maior de retenção de sal (cloreto de sódio), isso é, maior probabilidade genética de hipertensão arterial e, justamente por isso, demonstravam uma maior resistência às anormalidades eletrolíticas letais.  Dessa maneira, o menor teor de sal no suor refletia a probabilidade de o negro escravizado sobreviver à viagem, servindo assim como seleção de negros potencialmente hipertensos.

iSaúde – Quais doenças cardíacas mais afetam os negros e por quê?

Dr. Luiz Agnaldo – O principal fator de risco cardiovascular que difere a população negra de outras populações é a hipertensão arterial, sendo esta 11% mais prevalente em negros do que em indivíduos brancos, segundo estudo de prevalência de doenças crônicas – cor/raça – PNAD/Brasil, 2003.  

Segundo as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia, no cenário da saúde no Brasil, aproximadamente 30% dos óbitos são decorrentes de doenças cardiovasculares, sendo o Acidente Vascular Cerebral (AVC) a principal causa mortis. A hipertensão arterial está por trás de 40% dos óbitos por AVC, bem como de 25% dos Infartos Agudos do Miocárdio.  O maior nível de incidência de hipertensão arterial em negros nos leva a concluir que a condição de saúde destes encontra-se consideravelmente mais vulnerável do que os demais no que diz respeito ao acometimento por doenças cardiovasculares. 

Novos estudos também têm apontado para uma maior prevalência de obesidade na população negra, com correspondente elevação na incidência de diabetes tipo II e suas complicações, entre elas maior risco de doenças cardiovasculares e renais.

iSaúde – Como diagnosticar essas doenças e qual o tratamento adequado?

Dr. Luiz Agnaldo – O diagnóstico de fatores de risco como a hipertensão arterial, por sua característica de “doença silenciosa”, se faz por busca ativa pela doença na população, através do esclarecimento populacional para a aferição pressórica regular (aferição da pressão arterial), além de esclarecimento para uma redução da chance de desenvolvimento da hipertensão arterial pelo controle dos fatores ambientais tais como a menor ingestão de sal, maior atividade física, redução do peso corporal e controle da carga de estresse emocional. A redução da pressão arterial e da tendência à obesidade em negros trará redução nas doenças como diabetes, infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral.
 
iSaúde – Quais cuidados os pais com esses problemas devem ter com seus filhos para evitar o desenvolvimento dessas doenças?

RTEmagicC negros Saude2.jpgDr. Luiz Agnaldo – Filhos de hipertensos têm maior probabilidade para desenvolver hipertensão arterial, assim como filhos de diabéticos e de obesos também tendem ao desenvolvimento do diabetes e da obesidade. A consciência de que os afrodescendentes apresentam maior chance de desenvolver essas doenças e que seus filhos  também mantém essa probabilidade genética elevada, poderá alertar os pais a uma educação para a prevenção dessas doenças como relatado anteriormente com atividade física regular, controle do peso corporal, redução do teor de sal na alimentação, e uma postura proativa com aferição rotineira da pressão arterial, do peso e da glicemia.
           
Calcule aqui o seu risco coronariano. Será interessante saber se já não está na hora de buscar ajuda:
 

 

 

Fonte:  iSaúde Bahia 

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