A educação pela porrada

Por: Carlos Correia

Todo ano as ações se repetem como uma lei da Física: os professores da rede pública estadual reivindicam as perdas salariais; o governo se recusa negociar; os professores saem às ruas; o governo convoca seus “cães de guarda” da imprensa para desqualificar as lideranças e se posicionar contra os professores; a população reclama do transtorno do trânsito com as passeatas; o governo, então, manda a tropa de choque da PM descer a porrada nos professores.

Isso se repete há 16 anos, desde que os tucanos assumiram o poder, com o governador Mário Covas. De lá para cá, a situação só piorou para o lado do professorado, principalmente na administração José Serra, que sucedeu à de Geraldo Alckmin.

Apesar da propaganda do governo mostrando maravilhas e feitos na educação, pude constatar enquanto “estive” professor (ressalto, como efetivo concursado) que a situação é de abandono, sucateamento e caos nas escolas e colégios do Estado. A cada ano, os “senhores do ensino”, encastelado nos gabinetes de Secretarias e Diretorias ou em seus escritórios de Consultoria e ONG´s, inventam novos métodos para elevar as competências e habilidades do aluno, esquecendo-se do agente principal da mudança em sala de aula: o professor.

Foi assim com a resolução da “aprovação automática”, com os cadernos e apostilas do aluno e do professor, a escolha e assinatura de revistas para uso em sala de aula, o plano de concursos para aumento de salários . Tudo isso se fez sem consulta ao professor, que assim, se torna um mero receptor e transmissor do “dictato” para os alunos.

Mas, se a “ordem” for bem passada, o professor não faltar, não aderir a greves e não contestar o programa de ensino, e, mais importante, os alunos entenderem os conteúdos, atingindo as metas percentuais previstas; o professor, e todo o quadro de dirigentes e funcionários da escola, será recompensado com um “bônus” salarial no ano seguinte. Essa é, em suma, a gestão baseada na meritocracia, que também pode ser traduzida como um “cala a boca e obedeça, professor!”. Um verdadeiro choque para quem lida com Educação, educadores e educandos.

Por isso é que quem pode, mesmo sacrificando-se, tira o filho da rede pública e coloca na particular, pois sabe que a escola pública virou um ambiente de antieducação e frustração de alunos e professores. E não tem mais jeito, continuará assim, agonizando, enquanto não houver uma política de Estado para a Educação, a valorização do professor como carreira profissional e, também a efetiva participação da classe média brigando por uma melhor escola pública para seus filhos. Aliás, acho que deveria haver uma obrigação, mesmo que apenas moral, para que secretários, diretores, coordenadores e autoridades de ensino colocassem seus filhos nas escolas públicas. Acredito que assim fariam muito mais pelo ensino do que dizem aos jornais e escrevem em seus relatórios e estatísticas.

Caso isso não ocorra e, de maneira simultânea, no curto e médio prazo, a carreira de professor segue celeremente para a extinção, como já ocorreu com o relojoeiro, o barbeiro, o sapateiro e o alfaiate. Afinal, quem quer hoje ser professor? As pesquisas demonstram: ninguém em sã consciência. Principalmente os jovens, que têm esperança de futuro e não querem ter uma educação pela porrada… da vida ou do governo.

+ sobre o tema

Como funciona o programa Pé-de-Meia e como sacar o primeiro pagamento

Estudantes que concluíram um dos três anos do ensino médio...

UFRB amplia para 40% a reserva de vagas para negros(as) em concursos para docentes

A Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) dá...

Estudantes de licenciatura podem se cadastrar para concorrer a bolsas

Os novos alunos matriculados em cursos de licenciatura presenciais em 2025 que foram...

Começa convocação de estudantes em lista de espera do Sisu

Os candidatos selecionados pela lista de espera do Sistema...

para lembrar

O Ensino Religioso e o Vaticano

A abordagem insidiosa da Igreja Católica sobre o ensino...

Como inserir a cultura negra na educação brasileira?

Como prova da valorização da cultura e da música...

Alfabetização: memórias de um escritor leitor…

As crianças que são deixadas no analfabetismo, na falta...
spot_imgspot_img

Chance de faculdade para jovem de classe média-alta é mais que triplo da registrada por pobre

A probabilidade de um jovem de classe média-alta cruzar a barreira do ensino médio e ingressar em uma universidade é mais que o triplo da registrada...

Como funciona o programa Pé-de-Meia e como sacar o primeiro pagamento

Estudantes que concluíram um dos três anos do ensino médio regular em escola pública em 2024 poderão sacar R$ 1 mil do programa Pé-de-Meia, do governo...

UFRB amplia para 40% a reserva de vagas para negros(as) em concursos para docentes

A Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) dá um importante passo rumo à ampliação da  diversidade em seu quadro de servidores(as). A Procuradoria-Geral...
-+=