Abigail Moura e sua Orquestra Afro-Brasileira

Por Jota A. Botelho

Orquestra Afro-Brasileira do Maestro Abigail Moura (Arquivo Carlos Negreiros-RJ)

A ORQUESTRA AFRO-BRASILEIRA

abigail_moura_orquestra_afro-brasileira1

Fundada pelo maestro Abigail Moura (1904-1970) em 1942, o grupo musical lançou apenas dois discos, sendo que o de 1968 foi considerado um clássico da música popular brasileira. O som mesclava, entre outros ritmos, o opanijé e alujá (especiais para Omolú e Xangô, respectivamente), com as bases das múltiplas cadências encontradas nos cultos das religiões de matriz africana. A orquestra mesclava instrumentos da tradição ocidental, a exemplo do sax e da clarineta, e instrumentos afro-brasileiros, como o agogô e o berimbau (2). As músicas são cantadas em bantu, nagô, nheengatu e em português (3). A história da Orquestra é marcada tanto pela presença do divino como por fatos estranhos. Por exemplo, Maria do Carmo – sua cantora oficial, certo dia, ao fim de uma apresentação, teria enlouquecido, jamais voltando a cantar (4).

Da vida do visionário mineiro Abigail Moura pouco se conhece: foi parceiro musical em canções de relativo sucesso, como Que é o amor, Poeira, Chorar é meu Consolo. Na Rádio MEC exerceu a função de copista de partituras. Nos últimos anos de vida morou no Benfica, na zona norte do Rio e morreu na pobreza extrema (2).

“O maestro Abigail Moura fundamentava suas composições e arranjos como um religioso cuja vocação tem por mister reverenciar a divindade. Deveria ser extraordinário assistir a uma performance de Abigail, que, antes da apresentação da sua Orquestra Afro-Brasileira, agia como um sacerdote invocando antigos deuses, como se o palco de um teatro ou um auditório fosse de fato um espaço sagrado”, diz Emanoel Araujo, diretor curador do Museu Afro Brasil (2).

***
AS GRAVAÇÕES DA ORQUESTRA AFRO-BRASILEIRA
(5)

OBALUAYÊ! Orquestra Afro-Brasileira 
Selo TODAMERICA, 1957

abigail_moura_orquestra_afro-brasileira2

01. Apresentação – locução: Paulo Roberto
02. Chegou o Rei Gongo
03. Calunga
04. Amor de Escravo
05. Saudação ao Rei Nagô
06. Festa de Congo
07. Babalaô
08. Liberdade
09. Obaluayê

Orquestra Afro-Brasileira
Selo CBS, 1968

abigail_moura_orquestra_afro-brasileira3

01. Agô Lonan
02. Tire o Calundú
03. Índia
04. Palmares
05. Babaloxá
06. Canto Para Omulú
07. Mo-fi-la-do-fê
08. Saudação aos Orixás
09. Xangô
10. Nagana
11. Os Oinho de Iaiá
12. Rei N’aruanda

***
Fontes Pesquisadas:
(1) Raça Brasil
(2) Museu Afro Brasil
(3) Deck Disc
(4) Vinyl Maniac
(5) La Cumbuca
***

 

Fonte: Luis Nassif Online

+ sobre o tema

Memória africana recordada em exposição

Por: António Bequengue   Manhã cinzenta de sábado. Uma chuva miúda...

Candomblé Bantu e a importância dos afro-saberes na educação

Kamila Gomes Borges – Maganza Muxinandê, de Uambulu...

para lembrar

Pela primeira vez, Alemanha vai ter deputados negros

Karamba Diaby foi eleito pelo SPD, e Charles M....

DF amplia políticas para afrodescendentes nos 312 anos da morte de Zumbi

O Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes é um divisor...

Com Brics, africanos deixam de ser ‘coitados’

Com a ajuda dos Brics, grupo das nações emergentes...
spot_imgspot_img

Milton Nascimento recebe título de Doutor Honoris Causa pela Unicamp

O cantor Milton Nascimento recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). A honraria foi concedida em novembro de 2024. A entrega aconteceu na casa do artista,...

Paraense Brisas Project acaba de lançar seu EP PERDOA

Está no mundo o primeiro EP de Brisas Project. PERDOA é uma obra em quatro faixas que explora uma sonoridade orientada ao Pop Rock, Lo-fi e...

Quem são os ex-escravizados que deixaram o Brasil em direção à África no século 19

Em seu mais recente livro, o pesquisador Carlos Fonseca conta a trajetória dos retornados, escravizados libertos e seus descendentes que deixaram o Brasil e retornaram...
-+=