Resistência e revolta nos 1960 – Abdias do Nascimento: Por: Antonio Sérgio Alfredo Guimarães

FONTEPor Antonio Sérgio Alfredo Guimarães*
Abdias Nascimento em Nova York, 1997. (Foto: Cheste Higgins Jr/ ACERVO ABDIAS NASCIMENTO/ IPEAFRO)

Já faz algum tempo que venho trabalhando com a noção de modernidade negra para explicar o processo de construção de diferentes identidades raciais dos negros e mulatos brasileiros e americanos. Mas só se pode falar de modernidade negra no plural,pois ela varia de acordo com as diferentes formações nacionais. Isso significa, em termos concretos, que a história de cada estado-nação do Ocidente ou de origem ocidental (fruto da colonização européia) é, ao mesmo tempo, uma história particular da modernidade negra.

No entanto, para explicar estas diversas formações podemos recorrer a um conjunto fixo de condicionantes históricos, que funcionam como se fossem variáveis independentes. Além dos fatores demográficos, econômicos, sociais ou políticos, pode-se destacar uma ordem particular de condições, mais propriamente ideológicos ou intelectuais, que são as tradições e constelações de idéias. Tradições essas tão intimamente interconectadas por influências recíprocas que apenas podemos agrupá-las pelas grandes línguas de expressão colonial: o português, o espanhol, o inglês e o francês.

Podemos assim, identificar três grandes zonas de pensamento, a ibero-afro-americana, a anglo-afro-americana e a franco-afro-americana, que funcionaram como verdadeiros
“arquivos” de onde foram sacadas idéias para forjar identidades raciais e ideologias de integração na modernidade ocidental. Eu diria que os intelectuais negros circularam entre essas três zonas.

*Departamento de Sociologia da USP

 

 

 

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