Gramática da Ira tem o prazer de receber aqui, para uma conversa franca e contundente, o Mestre Carlos Moore. Esperamos, com isso, aprofundar algumas discussões que temos levantado. Há um grande interesse de nossa parte em compreender e divulgar a questão da negritude em Cuba, na diáspora e continente africano. Para tanto são muito esclarecedores os relatos de experiências vividas e as análises sócio-políticas que o mestre faz, não só do regime revolucionário cubano, no que toca mais diretamente a causa negra, mas de muitas questões que extrapolam as barreiras nacionais.
Nosso mestre fala um pouco de sua trajetória de exílios até sua permanência em Salvador, na Bahia, sua morada atual. A partir daí, segue uma conversa inspiradora sobre grandes questões como literatura, música e muito mais. Com emoção, Carlos Moore destaca companheiros de trajetória que se tornaram célebres.
Dedica profundas palavras a dois dos homens que tanto colaboraram para a formatação do ativismo negro contemporâneo no mundo inteiro. Trata-se dos fenomenais Aimè Césaire e Fela Anikulapo Kuti. O primeiro fundador da Negritude, movimento que revolucionou as relações raciais no século XX. O segundo um músico extraordinário que desenvolveu o incrível afro-beat. Ambos, além da reviravolta que causaram com sua arte, tiveram uma atuação política vigorosa contra os opressores do continente africano e da diáspora negra. Carlos Moore explica a importância dos dois para as lutas negras atuais.
Carlos Moore nasceu e cresceu em Cuba. Doutor em Ciências Humanas e Doutor em Etnologia da Universidade de Paris-7 na França, ele é atualmente Chefe de Pesquisa (Sênior Research Fellow) na Escola para Estudos de Pós Graduação e Pesquisa da University of the West Indies (UWI), Kingston, Jamaica.
Ele foi consultor pessoal para assuntos latino-americanos do Secretário Geral da Organização da Unidade Africana (atualmente União Africana), Dr. Edem Kodjo, de 1982 a 1983, e consultor pessoal do Secretario Geral da Organização da Comunidade do Caribe (CARICOM), Dr. Edwin Carrington, de 1966 a 2000. Foi assistente pessoal do professor Cheikh Anta Diop, diretor do Laboratório de Radiocarbono do Instituto Fundamental da África Negra, de 1975 a 1980, em Dakar, Senegal.
Autor de cinqüenta e cinco artigos publicados sobre questões internacionais, seus livros são: Pichón: Race and Revolution in Castro´s Cuba (Chicago: Lawrence Hill Books, 2008); A África que Incomoda (Belo Horizonte: Nandyala Editora, 2008); Racismo & Sociedade (Belo Horizonte: Mazza Edições, 2007); African Presence in the Americas (Trenton NJ: Africa World Press, 1995), redator principal; Castro, the Blacks, and Africa (Los Angeles, CA: CAAS/UCLA, 1989); This Bitch of a Life (London: Allison e Busby); Cette Putain de Vie (Paris: Karthala, 1982).
Agradecemos, novamente, ao Mestre Carlos Moore, pelas respostas desdobradas respeitosa e cuidadosamente ao Gramática da Ira.
Gramática da Ira (GI) – Professor Carlos Moore, antes de tudo, é uma honra para nós entrevistar um homem de sua envergadura histórica e importância política. Um negro que, apesar de uma vida tão aguerrida, soube permanecer lúcido e incorruptível. Além do mais, simples e acessível aos que chegam. Professor, diz pra gente como o Senhor gosta de ser apresentado na intimidade e nos espaços das várias lutas que tem sido sua vida.
Carlos Moore (CM) – Obrigado pelas considerações singelas. A auto-definição é sempre problemática, porque os humanos têm uma marcada tendência a se projetar de maneira exclusivamente positiva. Ora, a realidade não é sempre essa. Eu tenho cometido tantos erros na minha vida política e na minha vida pessoal, que para me definir completamente, implicaria a admissão desses erros. Eu me vejo como uma pessoa que teve de lutar muito para adquirir a identidade racial, a serenidade humana, que possuo hoje. Por isso, eu me auto-defino, fundamentalmente, como um crítico social, como um militante das causas sociais. Me sinto muito privilegiado, como militante, porque tive a honra de ter militado ao lado de homens e mulheres hoje considerados como ilustres: Malcolm X, Cheikh Anta Diop, Aimé Césaire, Maya Angelou, Stokely Carmichael, Lelia Gonzalez, Walterio Carbonell, Abdias Nascimento, Harold Cruse, Alex Haley, e tantos outros e outras. Todas essas figuras ocuparam um lugar importante no combate que, ao meu ver, constitui a maior das causas sociais que a humanidade tem sido obrigada a sustentar: o combate contra o ódio racial, contra a opressão racial, e contra as discriminações e vexames de todo tipo que são inerentes a esse fenômeno criado pela história das relações dos humanos entre si. Sinto orgulho de tê-los acompanhado nessa trajetória de combate por um mundo melhor para todos nós.
GI– Por que o Senhor escolheu o Brasil para viver atualmente, e, mais especificamente, por que Salvador?
CM– Porque no Brasil me sinto perfeitamente em casa e em família. É uma questão de sentimento, o que é algo eminentemente subjetivo. Não estamos falando do terrível drama que constituem as abissais desigualdades sociorraciais existentes no Brasil. Há poucos países nos quais eu me sinto realmente em casa: o Senegal, o Haiti, a Trinidad e, naturalmente, a Cuba. O Brasil é um desses países onde eu não me sinto como um estrangeiro, mas como se tivesse nascido nele. Salvador é, para mim, como a terra que me viu nascer. Amo muito essa cidade, o povo, o jeito, as ruas, os prédios, o mar. Porém, tenho decidido morar no Brasil até o momento do meu retorno a Cuba. E quando esse dia chegar, sei que irei embora com muita tristeza no meu coração, pois o Brasil tem se convertido, também, no meu país.
GI– O Senhor é conhecido, internacionalmente, como um dissidente do regime cubano de Fidel Castro, principalmente por questões que envolvem os conflitos raciais. O Senhor pode nos falar um pouco sobre sua percepção histórica desses conflitos, e como tem sido sua relação com os ativistas marxistas do movimento social negro que admiram profundamente a revolução cubana?
CM– Teria que escrever todo um livro para responder a isso, o que já fiz em Pichón: Race and Revolution in Castros’s Cuba (Raça e Revolução na Cuba castrista), que acaba de ser publicado nos Estados Unidos. A minha disputa com o regime Cubano foi violenta porque esse regime decidiu que ele não tinha por que discutir com um “bando de neguinhos equivocados”, como a liderança castrista nos qualificou. Eles pensaram que, como eles eram brancos, inteligentes, marxistas e antiimperialistas, nós, negros, só tínhamos que nos alinhar sob comando deles, e seguir as instruções políticas que eles nos davam. Ou seja, que deveríamos arriscar as nossas vidas no combate contra o inimigo imperialista, e, claro, trabalhar para edificar a nova sociedade socialista. Mas, como bons soldados negros marxistas, devíamos nos calar no que diz respeito aos problemas da sociedade cubana, sobre as grandes decisões políticas, e seguir as instruções dos nossos dirigentes super-inteligentes. Mas, nós que tínhamos outra idéia da Revolução, achamos que havia algo de errado nessa relação que nos propunha a liderança castrista – composta em mais de 95% por brancos provindos da alta burguesia e da classe media cubana. Pensávamos que havia que encarar a situação racial em Cuba como primeiro passo na construção do socialismo e da igualdade, mas essa liderança respondeu que em Cuba não havia racismo; que vivíamos numa “sociedade mestiça” onde todos os cubanos eram “mulatos”; que o socialismo estava “além da raça”, e que a única cor na Cuba revolucionaria era a “Cor Cubana”. Claro, compreendemos que se tratava da demagogia de sempre, a mesma que tinha sido usada durante todo o período republicano anterior, e que a liderança revolucionária tinha recuperado, para elaborar uma nova ideologia mentirosa baseada numa suposta “pos-racialidade socialista”. É por isso que o movimento negro Cubano daquele momento, ou seja, o período de 1959 até 1965, chocou-se, quase de imediato, com a nossa liderança revolucionária. Esta última estava composta por homens e mulheres que usufruíam de grande prestígio, dentro e fora do país, e que estava liderada por um dos grandes gênios políticos do século XX: o Fidel Castro Ruz. Sabíamos disso, mas também sabíamos que Fidel Castro Ruz não era Deus, e que mesmo se ele o fosse, ele estava cometendo uma barbaridade em relação à questão racial. Assim, todos aqueles que levantaram as suas vozes para alertar o regime revolucionário que ele estava levando Cuba por um caminho errado no que diz respeito à questão racial, fomos catalogados como “negros ingratos” e, finalmente, como “racistas negros” e “negros contra-revolucionários”. A partir daí, a impossibilidade de diálogo com o regime se tornou patente, e terminou em confronto. Como as forças em presença eram desiguais, pois eles tinham o poder do Estado e nós somente o poder das nossas idéias, nós fomos impiedosamente esmagados. Em resumo, isso foi o que aconteceu. Fidel Castro, Che Guevara e Raúl Castro tinham sido elevados ao estatuto de Deuses gregos. Ninguém que tivesse idéias diferentes aos deles tiveram o direito de ser ouvidos. Nós, dissidentes revolucionários negros, devíamos nos prostrar diante deles de maneira obsequiosa, submissa e covarde, ou ser esmagados. Então, fomos detidos, enviados para as cárceres abomináveis que o regime já tinha aberto, ou para os diferentes campos de trabalho forçado que já existiam no país, ou enviados para a destruição mental nos hospitais psiquiátricos. O mais célebre desses casos foi o do grande pensador Walterio Carbonell, demolido num manicômio. Cinqüenta anos tiveram de transcorrer para que o mundo começasse a se perguntar o qué é que estava ocorrendo em Cuba com a população negra majoritária? Foram cinqüenta anos de defesa do “paraíso pós-racial” cubano pela esquerda toda, branca ou negra. Inclusive, essa novela continua sendo de atualidade em praticamente toda a chamada América Latina – principalmente em países como o Brasil – onde a esquerda é de um infantilismo racista digno de estudo pelos psicanalistas. Eles pensam que os Cubanos negros não tem o direito de se opor a um regime que os oprime de um jeito similar à maneira em que os militares oprimiram aos brasileiros durante duas décadas. Não tão somente em América “Latina” mas no mundo inteiro, essa esquerda marxista tem problemas sérios quanto à analisar a questão racial, ou quanto a se relacionar com os negros, individualmente, ou como coletividade racial que tem um percurso histórico singular.
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GI– Pichón é o primeiro volume de uma trilogia sobre seus 50 anos de vida política ativa, não é? Por que esse título? O Senhor poderia nos detalhar um pouco mais a questão? Há alguma possibilidade em vista dele ser traduzido para o Português? (Disponível no http://www.amazon.com/).
CM– Pichón é uma narrativa na primeira pessoa, sobre a vida em Cuba, antes e depois da Revolução de 1959. É uma narrativa que conta o que era a Cuba de antes de 1959 – uma Cuba horrorosa, onde a população negra vivia sob uma espécie de regime neofascista, e onde o racismo funcionava do mesmo jeito em que funciona atualmente no Brasil. Ou seja, um racismo surreptício, sempre insidioso, hipócrita e covarde, que se esconde convenientemente sob uma máscara de “democracia racial” e de “cordialidade racial”, mas que exerce uma violência sistemática contra os negros em todos os âmbitos da vida quotidiana. Na Cuba antes da Revolução, se eliminava os jovens negros do mesmo jeito que eles ainda são eliminados e reprimidos na Colômbia, no Brasil, no Peru e no resto da chamada “América Latina”. A Cuba pré-castrista foi um inferno, em todos os sentidos, e Pichón demonstra isso. E logo veio a Revolução, com dirigentes nacionalistas e imbuídos de um sentido de justiça social, mas também imbuídos do sentimento que eles eram racialmente superiores à população NEGRA cubana que nesse momento constituía ao redor de 45% do total. Ora, aconteceu algo que Fidel Castro e seus companheiros não tinham esperado, nem muito menos planejado: a defecção massiva e fuga para os Estados Unidos de entre 15% e 20% da população branca da ilha, maiormente a burguesia e uma parte enorme da classe media cubana. Assim Fidel Castro começou a mexer na estrutura agrária de Cuba, ou a falar da necessidade de redistribuir a renda nacional de uma maneira mais equitativa, aqueles que o levaram ao poder – ou seja, a burguesia branca Cubana da qual ele era parte – se virou contra ele e se colocou ao serviço dos americanos. Foi isso o que aconteceu. Assim, a fuga para o exterior de entre 15% e 20% da população branca, entre 1959 e 1962, produz uma extraordinária revolução demográfica em Cuba, e deixou a Fidel uma maioria negra nas mãos. O país passou, em quatro anos, de uma maioria branca para uma maioria negra que, a partir daí continuou a crescer. Ou seja, que Fidel Castro nunca tinha sonhado, ao iniciar a Revolução, que ele terminaria estando à frente de uma nação negra! Aqueles que conhecem a história de Cuba sabem que esse tem sido o pavor da população branca em Cuba ao longo dos séculos, e que ele tem sido rotulado como “Peligro Negro.” Ora, no meio de todas essas transformações, o movimento negro pré-existente à Revolução, começou a exigir a sua inclusão na direção política. Mas o medo aos negros como tal foi mais forte entre a direção castrista que seu ânimo de mudar a sociedade. Muitos revolucionários Marxistas ficaram traumatizados diante da nova situação e reagiram com inusitada vigor contra qualquer manifestação de Negritude por parte dos revolucionários negros. A repressão se abateu sobre o que havia em Cuba como Movimento Negro, e seus lideres foram forçados ao exílio, ou internados nos campos de trabalho forçado, ou destruídos nos hospitais psiquiátricos onde lhes foram administradas substâncias químicas que destruíam seu raciocínio. Tal foi o caso horrível do maior ideólogo negro cubano: Walterio Carbonell. O Dr Juán René Betancourt Bencomo, dirigente nacional de todos os grêmios negros (Sociedades de Cor), salvou a vida, fugindo para o exterior, onde morreu pouco depois. Na realidade, poucos foram os intelectuais, artistas ou acadêmicos dissidentes negros – como Manolo Granados, Enrique Patterson, ou Reinaldo Barroso – que puderam fugir Cuba. No que se refere a mim, após ter sido detido, e, logo depois de ter sido internado num campo de “reabilitação” (eu não conheci a experiência dos terríveis campos UMAP que conheceram os outros), logrei fugir para dentro da embaixada da Guiné, e, sob a proteção diplomática de quatro embaixadas da África, fui tirado de Cuba, em novembro de 1963. A partir daí, começa uma luta dura, de fora, contra o Estado cubano que durou trinta e quatro anos, e nela quase perdi a vida. Nem sei como foi que escapei à destruição. E, no final dos anos noventa, quando o regime castrista já tinha perdido o apoio do império soviético, e que a situação interna tinha-se voltado bastante convulsa por causa da crise econômica, o regime cubano deu uma meia-volta e me autorizou a voltar. O regime me restituiu o passaporte e me autorizou a visitar o país, mas não morar nele. Eu, até hoje, não tenho o direito de morar no meu próprio país. E continuo sob alta vigilância dos serviços secretos de Cuba, mesmo no Brasil. Mas, mesmo assim, não calei, nem calarei a boca. É essa, em resumo, a história que eu conto em Pichón.
GI– Que outros textos e livros o Senhor já lançou no mercado internacional que podem nos auxiliar na compreensão do dilema racial brasileiro?
CM– Todos os meus trabalhos tratam de algum aspecto da questão racial, ou da luta emancipadora dos povos africanos ou da origem africana de todos os povos do planeta. O meu primeiro trabalho não foi propriamente um livro, mas um longo ensaio sobre a questão racial e a Revolução cubana. Ele foi publicado, em Paris, em 1965, pela revista Présence Africaine, sob o titulo: “Les Noirs-ont-ils leur place dans La Révolution Cubaine?” (Qual o lugar dos Negros na Revolução Cubana?). Foi esse documento que deflagrou a guerra aberta com o regime e que me valeu às acusações, pelo regime cubano e seus seguidores, de ser um “agente do imperialismo” e um “agente da CIA”. Ora, o meu primeiro livro sobre esses problemas só foi publicado em 1970: Were Marx and Engels Racists? (Marx e Engels eram racistas?). Foi a minha primeira análise teórica da questão racial sob a ótica do que os fundadores do marxismo tinham dito sobre a questão racial. Claro, esse trabalho foi condenado massivamente pelos marxistas e os esquerdistas porque a tese que sustentava essa obra se resumia à conclusão de que o marxismo carecia de bases teóricas para compreender o racismo e muito mais para resolvê-lo. O segundo livro, This Bitch of a Life (Esta Puta Vida), publicado em 1982, foi a biografia de Fela Kuti, o grande líder panafricanista e compositor nigeriano. Eu queria que a mensagem desse extraordinário líder e artista atingisse o resto do mundo. O terceiro livro, Castro, the Blacks and Africa (Castro, os Negros e a África), publicado em 1989, é a primeira análise profunda da questão racial em Cuba sob a Revolução. Nele, analisei impacto da situação racial interna sobre a política internacional de Cuba, especificamente voltada para o continente africano. O quarto livro, African Presence in the Americas (A Presença Africana nas Américas), publicado em 1995, e uma coletânea de textos, sendo um do fundador do movimento da Negritude, Aimé Césaire, falecido na Martinica em 2008. O quinto livro, From Comecon to Caricom (Do Comecom ao Caricom), é também uma coletânea de textos, publicado em 1999, analisando a situação de Cuba após a queda do mundo Comunista. O sexto e sétimo livros, Racismo & Sociedade e A África que Incomoda, foram publicados respectivamente em 2007 e 2008, no Brasil. Essas duas obras são as únicas que se encontram disponíveis em Português. O oitavo livro é Pichón; Race and Revolution in Castro’s Cuba (Pichón: Raça e Revolução na Cuba castrista), lançado nos Estados Unidos em novembro de 2008. Ele é parte de uma trilogia que narra os acontecimentos no mundo dos últimos 50 anos, na perspectiva de um militante negro. E, nestes momentos, estou terminando A última Fronteira do Ódio, que é uma análise histórica do racismo que prolonga e expande as reflexões iniciadas em Racismo & Sociedade. Acho que uma vez terminada essa última obra, mas aquelas duas outras que pertencem à trilogia iniciada com Pichón, vou dar uma paradinha. Ou seja, resumindo: ainda tenho três obras a terminar. Acho que após ter terminado essas três últimas obras, terei cumprido com a minha “missão” no sentido político e humano.
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GI– O Senhor foi publicado em livro, recentemente, em português. Um dos desses livros é Racismo e Sociedade: novas bases epistemológicas para entender o racismo (Mazza Editora). O Senhor aborda o Racismo e a Escravidão como elementos que não tem a mesma origem histórica. Fica evidente seu objetivo de rediscutir esses conceitos a partir de novos paradigmas. O senhor poderia nos responder duas questões: a) qual o objetivo e como nasceu o projeto deste livro no Brasil; b) como o Senhor coloca, categoricamente, os conceitos acima destacados?
CM– Acho que os militantes, particularmente, deveriam reservar um pouco do seu tempo para se documentar sobre algo tão importante como o surgimento e evolução do racismo na história. É disso que trata Racismo & Sociedade. A idéia do livro surgiu de um pedido por parte de Eliane Cavalleiro e de Luiza Bairros, ambas militantes de primeira linha do movimento negro brasileiro. Eu vinha discutindo dessas questões com a Luiza, com o Silvio Humberto dos Passos Cunha, com o Durval Azevedo, e outros, desde a minha chegada no Brasil. Luiza pensou que era necessário que eu entregasse à sociedade o resultado das minhas pesquisas de várias décadas na Ásia, no Pacífico e na Europa, e assim discutiu com a Eliane Cavalleiro sobre isso. Nesses momentos, Eliane estava na frente da SECAD, o órgão do Ministério de Educação encarregado de fazer cumprir a Lei 10.639/03. E o livro se fez graças ao financiamento desse órgão e da Casa das Áfricas, dirigida pela professora Daniela Moreau. O Instituto Steve Biko, sob a direção do professor Silvio Humberto, acolheu o projeto, e negociou diretamente com a SECAD para levá-lo à materialização. Mas, para se eu resumir as conclusões que eu proponho nessa obra, o faria da maneira seguinte: a) o racismo é uma secreção histórica, portanto um dado permanente da sociedade, e não uma construção ideológica facilmente reversível, nem muito menos uma aberração psicológica; trata-se de uma forma de consciência historicamente conformada que, ao longo dos séculos, se tornou num sistema perfeitamente racional, baseado na procura, detenção e distribuição monopolística dos recursos da sociedade e na sua repartição seletiva e desigual segundo o pertencimento a um ou outro “segmento fenotípico” (raça); b) o racismo é um sistema de poder total, que se exerce por meio do controle, também monopolístico, das instâncias políticas da sociedade, o qual permite à raça dominante ditar as regras de como deve funcionar a economia, e por tanto, de como devem ser distribuídos os recursos: para o beneficio exclusivo ou preponderante do segmento fenotípico que usufrui do poder, e para o detrimento total daqueles segmentos fenotípicos que são excluídos dele; c) o racismo, portanto, não é unicamente um problema de relações interpessoais, nem de valores morais ou religiosos, e muito menos de simples preconceitos, mas um sistema coerente de dominação, com uma enorme longevidade que lhe permite ser elástico, totalmente transversal e abrangente; ele funciona maravilhosamente bem para a raça que o desenhou, e só é negativo para a raça que sofre seu impacto pulverizador e esmagador; d) o racismo se baseia numa realidade concreta e real, não imaginada: o fenótipo dos humanos; portanto raça existe e se define concretamente, mas não no sentido da biologia genética, e sim no sentido da interpretação política e social que se faz do fenótipo de certas populações humanas em relação às outras, e cuja interpretação se encontra fixada no imaginário por via de processos complexos de simbologização. Desse modo, chegamos à conclusão que, contrariamente ao que temos por costume de pensar, a escravidão racial que foi imposta nas Américas, os tráficos negreiros, o aviltamento da raça negra, não produz o racismo, senão que, pelo contrário, foi a preexistência do racismo – surgido em várias regiões geográficas, sem conexão uma com as outras, ou seja, em várias civilizações diferentes do mundo – que deu como resultado o surgimento da escravidão racial, fenômeno singular na história na medida que só foi conhecida pelas pessoas de raça negra. Há que entender bem que não estamos falando somente da escravidão como categoria econômica, generalizada ou parcial, e que a conhecera praticamente todas as sociedades produtoras de excedente na antiguidade, mas daquela escravidão imposta exclusivamente aos povos de raça negra, precisamente por serem negros, e por causa do seu pertencimento a um segmento da humanidade facilmente reconhecível pelos seus traços fenotípicos. A raça é questão de fenótipo, e o racismo também. Como argumentar, então, que a escravidão imposta aos africanos, pelos árabes, a partir do século VIII, e pelos europeus, à partir do séculos XVI, fora racialmente neutra? A pesquisa histórica derruba essa visão reconfortante, mas simplista demais. Essas são algumas das conclusões apresentadas em Racismo e Sociedade.
GI– Outro lançamento recente em Português é A África que incomoda: sobre a problematização do legado africano no quotidiano brasileiro (Ed. Nandyala). Qual o objetivo deste trabalho? Com que platéia este livro pretende dialogar?
CM– O objetivo desse livro é chamar a atenção da população negra brasileira, especialmente seus quadros intelectuais e políticos, sobre a necessidade urgente de começar a se familiarizar com a África concreta, pois é essa a África que está na mira das multinacionais chinesas, americanas, japonesas, européias, indianas e brasileiras. Há que compreender a posição da África no mundo, e compreender o papel crescente do Brasil nesse mundo, para não acordar um dia com uma grande surpresa: descobrir que estamos dentro de relações perfeitamente neo-colonialistas com o nosso próprio continente ancestral, e que nós mesmos somos os instrumentos de um novo imperialismo que não seria desta vez o imperialismo norteamericano. O Brasil está emergendo como grande potência no mundo, ao lado da China, da India, do Irã, da Turquia e do Paquistão e devemos começar desde já a tornar os olhos para todas implicações, internas e externas, dessa expansão brasileira. E o outro lado da moeda é a análise que devemos fazer no que diz respeito às elites oligárquicas que dominam a vida dos povos africanos de maneira tão desastrosa e prejudicial para todo o continente. Há que estar cientes dessas realidades todas e não se deixar arrastar nem pela ingenuidade, nem pela emoção, nem pelo chauvinismo nacionalista. Há que olhar para o futuro, interrogar o passado, e delinear o contorno do nosso presente, tudo ao mesmo tempo. Acho que os intelectuais e investigadores estão lá para alertar à sociedade sobre os perigos que ela corre. Os intelectuais não devem se deixar intimidar pelos governos, nem pelas instituições oficiais, e devem, sim, em todas as circunstâncias, exercer uma função crítica.
GI– Em todo o Brasil, o Senhor tem feito palestras, conferências e cursos que envolvem questões ligadas ao panafricanismo e à história do movimento social negro no mundo. Que conteúdos são mais solicitados ao Senhor pelos produtores e expectadores nesses eventos? Como o Senhor avalia essas necessidades intelectuais, principalmente dos ativistas do movimento social negro?
GM– A meu ver, o problema fundamental aqui, no Brasil, como em todas as Américas, especialmente em Cuba, é o problema da convivência entre as raças, a existência da opressão racial, das discriminações em base à raça. Enfim, toda a problemática essa que gira em torno da pretensão de um grupo de humanos a monopolizar os recursos em detrimento de todos os outros, sob o argumento que ele representa um segmento superior da espécie humana, e que todos nós não somos senão subespécies destinadas a servir de escravos, babás, serventes, seguranças, e todo o resto que sabemos. É disso que se trata nas minhas palestras, nas quais trato de explicar a questão racial a partir de uma perspectiva histórica, e não somente como uma questão de conjuntura. Acho que as mentes estão se abrindo, no Brasil, como conseqüência de dois fatores: a ação que vem desenvolvendo o Movimento Negro desde há varias décadas, e as medidas positivas que tomou o governo Lula desde que tomou o poder. Sabemos que são medidas tímidas, considerando a dimensão gigantesca do problema a ser resolvido, mas são passos na boa direção que um regime revolucionário como o de Cuba não se atreve ainda a dar.
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GI– Professor Carlos Moore, o Senhor conviveu, irmanadamente, com um dos artistas populares mais criativo e polêmico de toda a história: o nigeriano Fela Anikulapo Kuti. Desta convivência surgiu um livro de sua autoria chamado This Bith of Life (algo como Esta Puta Vida). Onze anos após sua morte, Fela Kuti vem sendo redescoberto em todos os continentes. É considerado, hoje, uma espécie de “Bob Marley” do Continente Negro. Na França e Inglaterra, está em alta, com direito, inclusive, a grandes exposições temáticas. Nos EUA, entre tantas ações, teve, no último dia 04 de setembro, a estréia de uma peça baseada no perfil do artista no Off Broadway Theater, a ante-sala da Broadway, para onde a peça seguirá com certeza. Sabe-se que, no mundo, apenas a partir da biografia de sua autoria, entre 15 e 20 trabalhos, principalmente em áudio-visual, vem representando a trajetória de Fela. De minha parte, penso que o seu livro, dentre outros, é vital para oxigenar a arte e o ativismo negro no Brasil, principalmente na cultura que participo mais pontualmente: o hip hop. Qual a real importância da história musical e política de Fela, o que significa para o Brasil conhecer mais a fundo sua experiência radical?
CM-Em uma palavra: não se pode realmente pretender ser culto, e muito menos culto nas questões do Mundo Negro, sem conhecer a obra e o pensamento de Fela Kuti. Fela foi um dos grandes ativistas e pensadores do panafricanismo no século XX. O que o distingue dos outros pensadores panafricanistas é que ele desenvolveu a luta panafricanista não no contexto da luta pela descolonização, mas dentro da problemática complexa e terrível que representa a sociedade africana pós-colonial; ou seja, uma sociedade controlada, oprimida e esmagada não diretamente pelas potências européias ou por regimes minoritários brancos, como na África do Sul ou na Rhodesia (atualmente o Zimbábue). O Fela teve de desenvolver o panafricanismo no contexto da opressão dos africanos pelas oligarquias e as elites africanas surgidas da independência do continente. Ninguém estava preparado para o que aconteceu após a independência: a chegada ao poder de oligarquias traidoras e assassinas que espertamente confiscaram o panafricanismo e o transformaram em uma ideologia de Estado, para servir os interesses bastardos das novas elites opressoras africanas. O Fela teve de repensar o panafricanismo tradicional e reformular as bases de um novo panafricanismo de luta pelos interesses dos povos africanos esmagados do continente e nas diásporas africanas. Ele foi um gigante e usou seu poder criativo, como músico, para propagar essa nova orientação ideológica do panafricanismo. É por isso que me juntei a ele e que estimei que havia que escrever um livro sobre sua vida. Eu queria que o mundo inteiro ouvisse a mensagem que carregava na sua musica maravilhosa e nos seus pronunciamentos. Esta Puta Vida irá ser traduzida e publicada, também no Brasil, o ano que vem. A partir daí, as pessoas se darão conta da grandeza do personagem, e de sua imensa contribuição ao Mundo Negro, ao mundo das artes e à musica em geral. Para países como o Brasil, com sua maioria negra, conhecer a obra de Fela é indispensável para o fortalecimento da consciência cultural. Além disso, a música de Fela é uma das coisas mais belas do mundo. É por isso que solicitei ao Gilberto Gil de se incumbir do prefácio de This Bitch of a Life, que será publicada nos Estados Unidos em abril de 2009. O Gil fez um lindo, profundo e comovedor prefácio – realmente. E, dentro de alguns meses, essa biografia de Fela Kuti, com o prefácio de Gil, também será publicado no Brasil, em português, pela editora Nandyala, de Minas Gerais.
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GI- Como o senhor recebeu a notícia do falecimento de seu amigo e parceiro, o poeta e ativista Aimé Cesáire, fundador do Movimento da Negritude? Recentemente, foi publicado o Discurso sobre a Negritude a partir do registro de um colóquio que o Senhor organizou. Apesar do termo Negritude ser um estandarte entre os militantes do movimento social negro no Brasil, poucos conhecem a obra poética e filosófica de Césaire . Hoje, no Brasil, cresce de maneira vertiginosa um movimento literário que tenho chamado Literatura Divergente, mas que também tem recebido os rótulos de Literatura Marginal, Periférica, Maloqueirista, etc. O Senhor pode nos instruir um pouco sobre o poeta Césaire? Como o Senhor avalia a importância que teve a literatura no processo da Negritude e qual pode ser o potencial poético e político dos escritores que fazem este movimento que citei, oriundo dos bolsões de misérias e racismo do Brasil?
CM– Claro, foi um momento de tristeza para mim, como militante, mas também como alguém para quem o Césaire sempre foi como um pai. Césaire me ajudou na vida, ao longo de mais de quatro décadas e, junto com o Abdias Nascimento, foi um dos meus maiores amigos pessoais e aliados políticos. A obra de Aimé Césaire, como a obra de Cheikh Anta Diop, é fundamental para todos, brancos e negros, que se interessam realmente pela problemática racial. A Negritude foi o movimento mais revolucionário que tivemos até agora, na definição dos parâmetros da luta contra o racismo. Cada qual, nas condições que são as suas, tem adaptado a Negritude de Césaire às condições específicas do seu contexto. Por exemplo, a Negritude foi trazida para dentro do Brasil pelo Abdias Nascimento e outros que, nos anos trinta e quarenta, militavam com ele. Na África do Sul, foi Steve Biko quem adaptou a Negritude de Césaire às condições de lá, chamando-a “Consciência Negra”. E nos Estados Unidos foram os intelectuais da Harlem Rennaissance (Countee Cullen, Langston Hughes, Claude McCay), e, muito mais tarde, os militantes do Black Power (Poder Negro), que assumiram a bandeira da Negritude e que o sintetizaram nas palavras: Black is Beautiful! Na atualidade, a Negritude de Césaire está sendo reelaborada pelo movimento Hip-Hop mundial, e está atingindo os jovens do mundo inteiro, sejam negros ou não: todos aqueles que desejam uma mudança fundamental da sociedade na direção da cooperação solidária e o fim do racismo. O grande sucesso da Negritude de Aimé Césaire se encontra, justamente, nesse fato: se trata de uma visão que já alcançou todo o planeta, implicando-nos todos. A Negritude é de todos, para evolucionar como seres humanos, e para estabelecer sociedades justas. Mas o fato de Césaire ter sido um dos maiores poetas do século XX nos conduz a outra dimensão do problema do mundo negro, universo dominado de maneira marcante pela oralidade. O mundo da oralidade tem sido reduzido pelo Ocidente a um mundo de inferioridade, pois só a expressão escrita teria valor. As elites negras que assumiram o poder nos diferentes países africanos acreditaram nessa postulação racista e, conseguintemente, abandonaram as línguas africanas e as tradições de oralidade das nossas civilizações; eles privilegiaram as línguas européias estrangeiras e as tradições da escrita, elevando estes a uma posição de hegemonia total. Césaire compreendeu que se tratava de uma decisão trágica que condenava os povos africanos a uma situação de inferioridade de fato diante do mundo ocidental dominante. Ele reagiu, e inventou a Negritude, que nasceu de um gesto poético. A poesia é o modo fundamental por meio do qual uma sociedade que privilegia a comunicação oral para transmitir seus fundamentos éticos, filosóficos e morais, se perpetua organicamente. É isso que o Césaire tinha compreendido, bem antes que qualquer outro: que a nossa tradição de oralidade, desde os tempos do Egito faraônico até os dias de hoje, não deveria ser desestimada nem abandonada. Césaire viu que a poesia desempenha, nas nossas sociedades, um papel orgânico fundamental, na medida em que ela nos permite fundir as diferentes dimensões e aspectos da verdade social: a informação, a formação, a transmissão dos valores morais, e a expressão dos sentimentos: de amor, de amizade, de revolta, de ira, de generosidade, de perdão, de solidariedade. Devemos aproveitar as vantagens da escrita, pois ela ajuda a preservar a memória histórica e é um instrumento maravilhoso para a transmissão do conhecimento tecnológico, mas sem abandonar a oralidade, pois esta é, em ultima instância, o modo de comunicação entre humanos que nos obriga a entrar em contato com o nosso próximo da maneira mais imediata que seja: a fala. A poesia nos permite nos enraizar no humano através de uma capacidade que nenhum outro animal tem: a capacidade de falar. Ou seja, que, para as sociedades e civilizações africanas – o chamado Mundo Negro – a poesia é um modo orgânico de comunicação privilegiado para reinventar a sociedade. Acho que é por isso que a tradição Hip-Hop/Rap tem tido um impacto tão revolucionário no mundo, pois ele chega ao povo diretamente, de boca a orelha, através da expressão poética ligada à música.
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GI– Professor Carlos Moore, como o Senhor avalia a abrangência política de sua recente Carta Aberta ao Presidente de Cuba? Como estão os desdobramentos da questão?
CM– Em primeiro lugar, a Carta Aberta ao presidente-General Raúl Castro Ruz tinha vários objetivos, todos os quais foram atingidos. O primeiro era dar publicidade a algumas das demandas específicas que estão surgindo de distintos setores da população negra. O segundo era testar as intenções verdadeiras do governo raulista; veremos isso nos meses que vem. Por enquanto, este último fala de “reformas”, mas cada vez que anunciam novas medidas, essas são puramente cosméticas. Nada tem sido feito pelos raulistas que signifique uma verdadeira mudança de rumo na direção do desmantelamento das estruturas totalitárias, racistas e oligárquicas que alicerçam o regime. Absolutamente nada! O outro objetivo era impedir que o governo cubano continuasse desenvolvendo a farsa demagógica que consiste em insistir no fim do embargo/bloqueio americano, mas sem contemplar o fim do embargo/bloqueio instituído pelo regime, desde 1959, sobre a população majoritária do país. E, por último, pensei que era o momento de oferecer idéias novas susceptíveis de contribuir a iniciar um processo de mudanças verdadeiras, caso a equipe raulista quisesse encontrar uma saída consensual á situação cada vez mais bloqueada que conhece Cuba. A situação racial em Cuba é o problema fundamental da nação, e essa situação está se agravando. Como sempre, as ditaduras estimam que elas podem conter eternamente o povo que dominam por meio do terror. Mas a história nos ensina que o terror funciona até certo ponto, e logo, um dia, o povo não teme mais as conseqüências. Essas são as razões que me moveram a dirigir essa Carta Aberta ao presidente cubano. Não há outras razões, pois eu não tenho nenhum interesse político, nem agora nem para o futuro, que não seja ser um mero crítico social. Não tenho nenhuma agenda secreta. Quero, sim, voltar para meu país, e poder viver lá livremente e contribuir, como um intelectual crítico, à reconstrução de Cuba segundo um modelo democrático que preserve as conquistas sociais do povo cubano. É isso que eu quero; não a volta do passado horroroso, mesmo que seja sob um capitalismo ao estilo da China, nem a continuação do presente infernal, sob um comunismo bastardo e ineficiente, que tolera a proliferação das desigualdades sócio-raciais e mantém as estruturas racistas em pé.
Matéria original: CARLOS MOORE: PALAVRAS ESSENCIAIS!