Cientistas descobrem substância que pode diminuir tumores malignos de mama

Um dos principais problemas nos tratamentos contra o câncer é o mal-estar provocado pelos medicamentos. Enjoos, dores de cabeça, azia, inchaço e uma série de outros desconfortos acometem os pacientes, que precisam lidar com a doença e com os efeitos colaterais. Na tentativa de melhorar essa situação, muitos pesquisadores investem no estudo de novas drogas, capazes de diminuir a evolução dos tumores e, ao mesmo tempo, não agredir o organismo das pessoas. No Reino Unido, um grupo de cientistas encontrou uma substância que funcionaria como um “remédio natural” no combate ao câncer de mama. A pesquisa ainda é embrionária, mas representa o primeiro passo na missão de aliviar o tormento de quem enfrenta a patologia.

O câncer de mama é o tipo que mais mata mulheres no Brasil e tem alta taxa de ocorrência em todos os países ocidentais. Por aqui, a mortalidade aumentou 45% em 10 anos, com 10 mil óbitos anuais provocados pela doença. Muitas desordens genéticas ocorrem por trás desse mal, e uma delas é o excesso da proteína FOXM1. “Ela é uma substância ativa nas células; em níveis controlados, não é prejudicial”, explica o geneticista Wilson Araújo, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. A FOXM1 é, inclusive, essencial para a renovação celular.

O problema é que, quando os genes passam a produzir essa proteína em excesso, surgem as células cancerosas (veja arte). Assim, uma das formas de corrigir o defeito seria bloqueando a atividade genética. Foi isso que os pesquisadores do Instituto de Pesquisa do Câncer do Reino Unido conseguiram fazer. Em laboratório, eles testaram se uma substância presente em uma bactéria era capaz de reverter a fabricação descontrolada da FOXM1. “Sempre fui fascinada pela medicina natural indiana, então decidi trabalhar com moléculas naturais anticâncer”, conta ao Correio Nagaratna Hegde, uma das pesquisadoras responsável pelo estudo.

Nagaratna e seus colegas já sabiam que essa substância — chamada de tioestreptona e presente na bactéria Streptomyces — tinha propriedades que poderiam combater as células doentes. Mas os mecanismos de ação da molécula ainda eram desconhecidos. “O mais emocionante foi quando encontramos o alvo molecular da tioestreptona, a proteína FOXM1”, diz a pesquisadora. “Antes disso, nós não tínhamos conhecimento de qualquer produto natural que pudesse ter como alvo direto uma proteína que controla a atividade genética”, ressalta.

Para que o experimento desse certo, Nagaratna — que estuda no Instituto de Pesquisa do Câncer há quatro anos — precisou desenvolver uma versão sintética da tioestreptona. A substância já tem aplicações antibióticas na medicina veterinária. Em humanos, não é utilizada devido à baixa solubilidade em água. Outra tarefa do grupo britânico foi isolar a proteína FOXM1 para os testes. “Tudo correu muito bem, exceto a parte de extrair a proteína pura, que foi algo bastante difícil”, detalha Nagaratna. Além de repetidas experiências em lâminas com células do câncer de mama, os cientistas fizeram uma avaliação estatística dos resultados. O material foi publicado neste mês, em uma das edições on-line da revista Nature Chemistry.

Próximos passos

A pesquisa britânica foi realizada em células retiradas do corpo de pacientes com a doença e ainda precisa ser testada no organismo de camundongos para, então, ser analisada em humanos. A ideia é desenvolver um remédio sintético que imite o efeito da teoestreptona e aja diretamente na causa dos tumores. “A nossa descoberta abre caminhos para a concepção de medicamentos mais potentes e seletivos, capazes de bloquear a proteína FOXM1, evitando, assim, o câncer”, afirma Nagaratna. Se os testes forem bem-sucedidos, a droga trará benefícios tanto do ponto de vista de efeitos colaterais — que seriam reduzidos, por causa do componente natural — quanto da eficiência do tratamento, que iria, literalmente, direto ao ponto.

A descoberta, contudo, é apenas uma das inúmeras que podem ajudar a controlar a epidemia do câncer. “Trata-se de uma doença extremamente complexa e estamos sempre buscando novos caminhos para o tratamento”, comenta o pesquisador Chris Lowe, também do Instituto de Pesquisa do Câncer do Reino Unido. Embora o desenvolvimento de novos remédios seja um processo demorado, podendo levar décadas até que o medicamento chegue ao mercado, essa busca é fundamental. “O trabalho publicado agora demonstra uma rota viável para isso e tem alto potencial para fornecer, no futuro, uma terapia adicional”, diz Lowe.

Equilíbrio delicado

A FOXM1 está presente em grandes quantidades nas células do câncer de mama, comparando-se a células normais. A proteína está relacionada a trechos específicos do DNA que controlam o crescimento e a divisão celular. A maior ou a menor presença da FOXM1 pode, inclusive, determinar a gravidade do câncer, se ele vai crescer mais rapidamente e se espalhar.

Fonte: Correio Braziliense

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