Tradução: Larriza Thurler, edição de Leticia Nunes. Informações de Randal C. Archibold [“Editor Who Wrote of Racism in Cuba Loses His Post, Colleagues Say”, The New York Times, 6/4/13]
O editor cubano Roberto Zurbano foi destituído do cargo na editora Casa de las Americas após ter escrito um artigo crítico, publicado no dia 23/3 na seção de opinião do New York Times, sobre a persistente desigualdade racial na ilha – algo que revolucionários dizem, com orgulho, ter diminuído. Não está claro se ele deixará a editora ou continuará trabalhando em outro cargo.
For Blacks in Cuba, the Revolution Hasn’t Begun – o artigo
Zurbano não quis comentar com o Times sobre sua situação na editora, mas criticou a mudança feita no título do artigo por editores do diário nova-iorquino – o que, segundo ele, distorceu o tema. Ele teria enviado o título “Para negros em Cuba, a revolução ainda não acabou”, mas saiu publicado “ainda não começou”. “Eles mudaram o título sem me consultar. Foi uma grande falta de ética e profissionalismo”. No artigo, Zurbano descreveu uma longa história de discriminação racial contra negros no país e disse que “a exclusão racial continuou depois que Cuba tornou-se independente em 1902 e, meio século depois da revolução, em 1959, não foi capaz de superar isso”.
População subestimada
Eileen Murphy, porta-voz do Times, afirmou que o editor participou da preparação do artigo. “Trabalhamos duro para garantir que as palavras fossem traduzidas de maneira apropriada e que refletissem precisamente o ponto de vista do autor”, alegou, em declaração. “Foram enviadas e corrigidas diversas versões do artigo e, no final, Zurbano e nosso contato com ele (que fala inglês fluentemente) aprovaram a versão final. Sabíamos que ele estava em uma situação delicada e ficamos tristes por ele ter sido demitido ou enfrentado alguma perseguição, mas mantemos nossa tradução e edição, que foram feitas inteiramente por meio de canais normais”.
Em um censo de 2002, o governo de Cuba informou que sua população era composta por 65% de brancos, 25% de mestiços e 10% de negros, de acordo com dados do World Factbook, almanaque anual publicado pela CIA com informações básicas – como demografia, governo, capacidade militar, etc – sobre todos os países reconhecidos pelos EUA. No entanto, demógrafos de fora da ilha – e também Zurbano em seu artigo – afirmam que a população negra é subestimada. O editor afirmou, no artigo, que cubanos têm assistência de saúde, acesso a educação e moradia, mas muitos negros estão sendo deixados para trás nos avanços econômicos, tema que ainda é tabu. “Questionar a extensão do progresso racial era equivalente a um ato contrarrevolucionário. Isso fez com que fosse quase impossível apontar o óbvio: o racismo está vivo”, escreveu.
Cuba: doce dificultades para enfrentar al (neo)racismo e doce razones para abrir el (otro) debate
Fonte: Observatório da Imprensa