Família registrou boletim de ocorrência contra o plantonista da Santa Casa.
Autônomo também teve atendimento negado após sofrer grave acidente.
Por: Suzana Amyuni
Funcionários em greve em frente à Santa Casa de Leme (Foto: Ely Venâncio/EPTV)
Uma gestante perdeu o bebê depois de passar por atendimento na Santa Casa de Leme (SP) e ser liberada, mesmo com dores e contrações, com a alegação de que os médicos estão em greve. A família acusa o médico de negligência. O caso aconteceu no sábado (20), mas o boletim de ocorrência só foi registrado na quarta-feira (24) porque todos ainda estavam abalados. A Santa Casa informou que só vai se pronunciar durante a tarde. O Sindicato da Saúde Campinas e Região (Sindsaúde) informou que não faltou atendimento e que possíveis falhas devem ser explicadas pela diretoria clínica e pela administração da Santa Casa
“Ele perguntou para minha filha se ela não tinha visto a faixa dizendo que eles estão em greve e disse que não podia fazer nada. Ele deu um remédio para dor e já deu alta”, contou indignada a mãe da vítima, Adaildes Cunha Henklein, de 61 anos.
Os funcionários paralisaram as atividades na última quinta-feira (18) por reajuste salarial e outros benefícios. Os trabalhadores pedem 20% de aumento, mas a provedoria do hospital ofereceu 6,97%, o que não foi aceito. O Sindicato da Saúde (Sinsaúde) realizou uma manifestação nas ruas da região central da cidade na manhã de quarta-feira (24).
Na noite de sábado, a gestante de 36 anos, que estava de oito meses, procurou o hospital com contrações e o médico reclamou de ter que atendê-la. “Ele justificou que trabalha em más condições e que não tem estrutura, por isso estavam paralisados. Aí só deu um remédio para ela e nada mais. Ele tinha que ter internado ela ou até feito o parto”, falou a mãe.
Na manhã de domingo (21) a família fez uma nova tentativa. “Nós ligamos para a doutora que acompanhou a gravidez da minha filha e dissemos que pagaríamos tudo para ela nos atender. Mesmo assim, ela disse que não poderia atender porque estava sem banho e sem comer e mandou que a gente procurasse a Santa Casa”, relatou Adaildes.
Ainda com dor, a gestante voltou ao hospital na segunda-feira (22) e foi atendida por outro médico que fez o diagnóstico de que o bebê tinha morrido. A família disse que procurou a delegacia três dias depois e foi orientada a prestar queixa. “Nós ainda estamos muito chocados. Tenho certeza que isso ocorreu por causa da greve, foi muita negligência”, desabafou Adaildes.
O boletim de ocorrência foi registrado como homicídio culposo. A Polícia Civil vai abrir inquérito para investigar o caso e o delegado vai ouvir os envolvidos, entre eles, o médico, a mãe e o pai do bebê.
Outro caso
Na quarta-feira (24), um autônomo de 19 anos teve o atendimento negado na Santa Casa também por causa da greve, após sofrer um acidente de trânsito na Rodovia Anhanguera (SP-330).
Segundo a Polícia Rodoviária, o jovem seguia sentido capital, quando um pneu dianteiro do carro estourou, ele perdeu o controle da direção e capotou várias vezes. Ao capotar, o veículo ainda atingiu um ônibus com 35 passageiros, mas nenhum deles ficou ferido.
O motorista do carro foi socorrido pelo resgate da Intervias com uma lesão grave na coluna. Ao chegar à Santa Casa, teve o atendimento negado por causa da greve e teve que ser transferido para o hospital da Unimed, em Araras. A suspeita é que o jovem tenha quebrado uma vértebra, mas seu estado de saúde não foi informado.
Sindicato
Em nota, o Sindicato da Saúde Campinas e Região (Sindsaúde) informou que são mantidos cerca de 200 funcionários para atendimento de urgência e emergência e que não faltou atendimento. “Neste caso, se houve falha, ela deve ser explicada pela diretoria clínica e pela administração da Santa Casa de Leme”, dizia um trecho da nota.
Sobre o caso do rapaz acidentado, o sindicato informou que ele foi encaminhado diretamente para o hospital da Unimed, em Araras, e não chegou a ser levado para a Santa Casa de Leme.
Fonte: G1