Enegrecendo a pauta da mídia paraibana

Por Mabel Dias

A feminista Sueli Carneiro, do grupo Geledés –Instituto da Mulher Negra, de São Paulo, afirma em um seus textos que o feminismo precisa enegrecer. Parafraseando esta ativista do movimento de mulheres negras do Brasil, digo que, além do feminismo, o jornalismo teria que também ser enegrecido.

Esta semana o movimento de mulheres negras celebrou o dia 25 de julho, estabelecido em 1992 durante o I Encontro de Mulheres Afro-Latinas Americana e do Caribe, realizado na cidade de Santo Domingo, República Dominicana, como Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha. A Bamidelê – Organização de Mulheres Negras na PB realizou debates com as fundadoras da organização, Solange Rocha e Efu Nyaki, e com Jurema Werneck, da Criola e da Articulação Nacional de Mulheres Negras, do Rio de Janeiro, além da exposição Visões Negras – simbologias, trajetórias e histórias que conta toda a caminhada da Bamidelê nestes 10 anos de existência.

Pois bem! Em nenhum veículo de comunicação foi falado sobre o dia 25 de julho e seu significado para as mulheres negras. Assisti a um dos jornais da TV local, afiliada a Rede Globo, e na escalada de noticias estava lá o dia do motorista – que também é comemorado nesta mesma data, entre outras informações diárias. Mas o Dia da Mulher Negra sequer foi mencionado.

Apenas um jornal impresso divulgou no domingo, véspera do dia 25, o release enviado pela assessoria de comunicação da Bamidelê, informando sobre as atividades que seriam realizadas durante esta semana que se finda.

Durante o debate do qual participaram Solange Rocha e Jurema Werneck, que falaram sobre a luta antiracista e antisexista na Paraíba e no Brasil, a professora de sociologia e integrante da Bamidelê, Vânia Fonseca, também trouxe esta reflexão: a falta de atenção da mídia paraibana sobre uma organização que tem 10 anos de existência e que vem promovendo ações significativas para promoção da identidade negra, combatendo o preconceito racial, bem como da ausência de atenção para o dia 25 de julho. Será que esta não é uma pauta importante? Será que este tema não rende um bom debate, um bom texto, uma boa noticia?

Sabemos bem que negros e negras na mídia paraibana, ao menos no vídeo, não existem. Nos bastidores, elas/eles estão lá, mas menos da metade se assume enquanto negra/o. Porque a pauta da mídia paraibana não está enegrecida? Porque negros/as são lembrados/as apenas quando se divulga um mapa da violência 2010, de maneira negativa? Para não ser injusta é importante lembrar que outro jornal impresso, aproveitando o recente censo divulgado pelo IBGE sobre a influência que a cor/raça desenvolve nas relações interpessoais, fez uma boa matéria enfocando este tema.

Não é apenas a ausência de atenção na mídia paraibana às ações positivas realizadas pelo movimento negro e de mulheres negras organizadas. O atual momento mostra, principalmente no rádio e na TV que é preciso, urgentemente, revermos o modo que está sendo utilizado pelas empresas de comunicação para noticiar um fato. A busca de audiência e do lucro tem promovido declarações e atitudes absurdas e inaceitáveis por parte de alguns locutores/apresentadores de programas policiais e políticos na Paraíba.

Uma importante iniciativa está sendo promovida pela Onu Mulheres e pela Federação Nacional de Jornalistas, que é um curso em gênero, raça e etnia voltada para a categoria. O curso será realizado em oito cidades brasileiras – Recife, Rio de Janeiro,Porto Alegre, Belo Horizonte, Fortaleza, Maceió, São Paulo e Belém. Através de ações como esta é possivel vislumbrarmos mudanças no exercicio da profissão de jornalistas na hora que forem cobrir atividades do movimento de mulheres e do movimento negro, e não reproduzam os estereótipos e preconceitos raciais, de gênero e sociais que permeiam esta sociedade.

Alguma coisa está fora de ordem e não pode ser tida como natural.

Fonte: Senhora das Palavras

+ sobre o tema

Preconceito racial, discriminação e racismo, distinções de letramento – Por Cidinha da Silva

Certos amigos, aborrecidos, perguntam-me se gosto de tudo em...

Pessimismo da mídia influiu na pesquisa Ibope

Pesquisa CNI/Ibope, divulgada nesta quinta (19), revelou, entre tantos...

Espaço Público recebe a ministra Luiza Bairros

Na pauta, as políticas de promoção para a igualdade...

para lembrar

Reflexão sobre o texto da Afropress e Luiza Bairros por Eduardo Santiago

REFLEXÕES SOBRE O TEXTO INTITULADO: Com avaliação de apagada,...

Até quando jornalistas como Merval serão financiados com dinheiro público?

por : Paulo Nogueira Uma das coisas essenciais que você...

Ministros recebem representantes da mídia negra brasileira

Evento discutiu, com representantes das mídias negras, formas de...

O racismo nosso de cada dia

Em 2012, ela ganhou o Prêmio Nacional de Jornalismo Abdias...
spot_imgspot_img

Geledés – Instituto da Mulher Negra abre novas turmas do Curso de Multimídia online e para todo Brasil 

O projeto de comunicação do Geledés – Instituto da Mulher Negra está abrindo novas turmas de formação em multimídia em parceria com o Zoom...

Portal Geledés recebe prêmio como imprensa negra brasileira

O que faz uma organização ser reconhecida como um canal de comunicação de destaque? Esta questão tem ocupado o pensamento da equipe do Portal...

Seletividade política apagou existência de afro-gaúchos e indígenas no RS

O dia 20 de setembro é a data mais importante do calendário cívico sul-rio-grandense. Ela faz alusão ao início da guerra civil que assolou...
-+=