Ensino da história da África pelas escolas ainda está devagar no país

Ausência de estudos afeta negativamente crianças e Brasil, diz especialista

Desde 2003, a Lei Federal 10.639/2003 promulgada em 09 de janeiro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva determina a obrigatoriedade do estudo da História e Cultura Afro-brasileira e Africana no currículo escolar da educação básica. No entanto, em 2011, oito anos após a aprovação da lei o processo nas salas de aula ainda é lento. Muitas escolas continuam sem ensinar, mesmo conhecendo a lei, e faltam professores qualificados que conheçam de fato a história. Segundo a diretora presidente do Instituto de Pesquisa e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro), Elisa Larkin Nascimento, é fundamental que as escolas ensinem sobre a cultura africana. “A ausência dessas matrizes no currículo escolar afeta negativamente as crianças e o Brasil”, ressalta.

Segundo Elisa, não é só uma questão da criança negra, toda a população brasileira tem uma herança da história africana. “A falta desses temas cria uma situação não só de discriminação contra os negros, mas também uma falha no sistema educativo”, afirma. Segundo a secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do MEC, cabe às secretarias de Educação garantir a aplicação da lei junto às escolas. A Secadi destaca que o papel dos conselhos de Educação, ministérios públicos e sociedade civil é acompanhar e exigir o cumprimento da legislação, de acordo com suas atribuições, denunciando e executando medidas quanto aos casos de omissão ao cumprimento da lei, e em especial quando da ocorrência de casos de racismo no ambiente educacional.

Para Elisa, houve ainda uma ideia equivocada de que a lei só dizia a respeito ao ensino fundamental e médio, e não ao ensino superior. A diretora explica que a lei deve impactar também as universidades para que o profissional em formação possa aprender e repassar posteriormente o assunto. A Secadi informou que tem promovido cursos de formação continuada de professores, que são oferecidos pela Universidade Aberta do Brasil, UAB, e também por meio de instituições públicas de educação superior para educadores das redes públicas de ensino. Segundo a secretaria, a História da África sempre foi subvalorizada nas academias e principalmente nos cursos de formação de professores (licenciaturas), logo, os professores de décadas anteriores, com raríssimas exceções, receberam essa formação no ensino superior.

Muitas escolas mostram a capoeira e dança como cultura africana e, segundo Elisa, não se trata apenas disso. “Essa visão gera uma dimensão restrita, afasta a ideia de uma cultura erudita, afasta a ideia de tecnologia, das ciências exatas”, afirma. Para a diretora, esses estereótipos tornam a cultura negra como algo lúdico e vão impactar a vida da criança negra.”Essa criança não vai se sentir capaz de procurar áreas diferentes, vai procurar entrar em áreas que se identifique, onde se encaixar”, ressalta Elisa. A importância da lei está relacionada à formação da identidade e à educação. De acordo com a Secadi, ela visa a conquistar a cidadania plena, sem preconceitos e sem estigmas de sociedade, que exclui e discrimina por motivação racial e étnica. Para a especialista, a cultura africana pode ser ensinada em disciplinas como física e matemática, e não só em história como geralmente é feito. E isso vai se refletir, segundo Elisa, no acesso do negro à universidade.”Eles procuram mais a área das humanas, vemos poucos indo para área de exatas, ou ditas prestigiadas, como engenharia e medicina”, diz.

Elisa chama a atenção para o trabalho desempenhado por movimentos negros e instituições como o Ipeafro, que há 30 anos luta pelos direitos dos negros e pela inclusão da história e da cultura de matriz africana no ensino brasileiro.

 

 

Fonte: Rede Globo 

+ sobre o tema

Negros e o ensino superior

O Brasil continua distante do cumprimento das metas estabelecidas...

Cuiabá Bolsa Universitária 2010: Crédito Educativo Municipal – Resultado da primeira fase

A Comissão Mista informa que foram anuladas as questões...

SISU: Último Dia para se inscrever na 1ª Etapa: 03/02/2009

O Sistema de Seleção Unificada (SiSU) recebeu 632 mil inscrições...

para lembrar

Justiça cassa liminar que prorrogava inscrições do Enem 2009

O Tribunal Regional Federal da 2ª Região cassou a...

Metade dos brasileiros não completou o ensino fundamental, revela IBGE

Apesar do aumento de 15,1% do número de pessoas...

Como ensinar o que não se conhece?

Existem aqueles temas que nunca saem de moda, principalmente...

Gabarito: Unicamp 2010

A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) divulgou nesta segunda-feira...
spot_imgspot_img

Geledés participa de audiência sobre Educação das meninas e mulheres negras na Câmara dos Deputados

Geledés – Instituto da Mulher Negra participou, nesta quinta-feira 21, de audiência da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, em Brasília, da qual...

Unilab, universidade pública mais preta do Brasil, pede ajuda e atenção

A Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) surgiu com a proposta de fazer a integração de alunos de países africanos de língua...

Cotas, sozinhas, não acabam com a desigualdade

Há uma demanda crescente para que as universidades de alto prestígio (ou de elite) aumentem a diversidade étnico-racial e socioeconômica de seus alunos. Nessa...
-+=