Entrevista: Por que o racismo é um obstáculo à garantia do direito à educação?

Em sintonia com o processo de construção de uma educação antirracista, a Ação Educativa promove o curso Educação, Relações Raciais e Direitos Humanos, em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, a Secretaria Municipal de Educação e o Sindicato dos Especialistas de Educação do Ensino Público Municipal de São Paulo (clique aqui e veja como se inscrever).

Divulgação/Ação Educativa

A formação visa promover vivências e aportar conceitos e outras informações que permitam uma melhor compreensão do fenômeno do racismo, do cotidiano às políticas educacionais, pensado de forma articulada a outras desigualdades, sobretudo de gênero e renda.

Em entrevista, Denise Carreira, coordenadora da área de educação da Ação Educativa, conta as motivações para realização da capacitação e comenta os principais temas relacionados à questão racial na escola.

Assista ou leia a transcrição abaixo:

 

Ação Educativa: Por que o racismo é um obstáculo à garantia do direito à educação?

Denise Carreira: O racismo tem que ser entendido como um obstáculo à garantia do direito humano à educação porque ele limita as oportunidades, ele limita as condições para que a população negra seja reconhecida como detentora de direitos.

O racismo no cotidiano cria um conjunto de obstáculos que estão refletidos nas atitudes, nas discriminações habituais, mas também nas políticas públicas. Então, ele é um entrave muito concreto pra que a população negra possa exercer os seus direitos.

Ação Educativa: Você acha que a temática racial é uma questão somente dos negros?

Denise Carreira: Não, a questão racial é decorre de relações desiguais de poder entre a população branca, a população negra e outros grupos discriminados. Ela tem a ver com relações de poder, com relações sociais construídas historicamente. Então, ela só pode ser enfrentada, se for pensada nessa perspectiva de relações. Logo todas as pessoas, toda a sociedade e o Estado Brasileiro devem estar mobilizados e envolvidos na superação desses que é um dos grandes desafios da democracia brasileira.

É importante também destacar que é necessário superar uma abordagem que entende a educação racial como mais uma das questões a serem abordadas por uma educação comprometida com o reconhecimento dos direitos de populações discriminadas. O nosso entendimento é que não é possível garantir o direito humano à educação de qualidade para todos e todas sem se enfrentar a questão racial articulada a outros desafios como as questões de gênero, as questões ligadas às regiões do Brasil, a renda e outros pontos mais.

Ação Educativa: Como a participação nessa e em outras iniciativas semelhantes pode contribuir para a construção e prática de uma educação antirracista?

Denise Carreira: Essas iniciativas, como muitas que existem, impulsionadas inclusive por outras organizações do movimento negro ou por profissionais de educação, educadores e educadoras que em diferentes espaços estão desenvolvendo ações de implementação da lei 10.639, são muito importantes para que possamos mudar a cultura das relações raciais no Brasil e também possamos contribuir para políticas públicas que de fato signifiquem um avanço com relação à superação do racismo na realidade brasileira.

Ação Educativa: Quais foram as principais motivações para criação do curso Educação, Relações Raciais e Direitos Humanos?

Denise Carreira: Bom, a principal motivação é chamar a atenção para um desafio, para uma problemática ainda muito invisível no debate sobre qualidade da educação brasileira que é o racismo. Esse curso está comprometido com o objetivo da Ação Educativa de chamar a atenção para o desafio estrutural do que é o racismo na educação brasileira nas desigualdades do nosso país. Essa iniciativa dialoga com outras ações que a instituição vem desenvolvendo nos últimos anos, em sintonia com as lutas que o movimento negro brasileiro implementou.

 

Fonte: Ação Educativa 

 

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