Europa bloqueia reivindicação de movimento negro na COP30 e gera impasse

18/11/25

Os governos europeus se recusam a aceitar a inclusão de menções à população afrodescendente no Plano de Ação de Gênero, negociada na Conferência do Clima da ONU, em Belém (a COP30).

O processo entre diplomatas entra em sua fase final e a esperança do governo brasileiro é de que, até sexta-feira, avanços reais possam ser anunciados na conferência. Mas um impasse é, agora, o tratamento dado ao movimento negro que acusa europeus, britânicos e australianos de estarem tentando silenciar e deslegitimar demandas de grupos afrodescendentes.

Não é a primeira vez que o bloco europeu adota tal postura. Na COP16 de Biodiversidade, em Cali, a União Europeia tentou impedir a inclusão de afrodescendentes no texto final. O bloco apenas recuou apenas após uma denúncia pública de governos e sociedade civil, que classificaram a manobra como “colonialista e regressiva”.

Agora, na agenda de gênero em Belém, o padrão se repete e entidades denunciam o “bloqueio, apagamento e recusa em reconhecer populações afrodescendentes, sob a alegação de que não se trata de uma demanda coletiva”.

Para Geledés – Instituto da Mulher Negra, “mais uma vez a população afrodescendente está sendo rifada como moeda de troca em negociações internacionais”.

O que está sendo negociado

A organização denuncia que o trecho que garantiria reconhecimento e participação plena dessa população — já acordado e em estágio avançado — foi travado pela recusa da União Europeia, do Reino Unido e da Austrália em permitir sua inclusão.

“Em mais um capítulo colonizador, esses países estão barrando a possibilidade de garantir direitos e reconhecimento a uma população historicamente inviabilizada”, afirma a entidade.

A entidade questiona o posicionamento desses governos nas negociações. “Fica a pergunta inevitável: por que União Europeia, Reino Unido e Austrália — tão vocais sobre direitos humanos e justiça climática — se recusam justamente a reconhecer aqueles que mais sofrem com o racismo ambiental, a desigualdade de gênero e os impactos diretos da crise climática?”, alerta.

“A resistência desses países revela muito mais que uma posição técnica: expõe a permanência de uma lógica colonial que ainda estrutura as relações internacionais”, denuncia a entidade.

“E mostra, mais uma vez, que justiça de gênero sem justiça racial é apenas retórica — retórica que continua beneficiando os mesmos países que lucram com a crise climática enquanto negam reconhecimento às populações afrodescendente”, completa.

“Se nos discursos os países europeus — e seus aliados históricos, como Reino Unido e Austrália — são sempre os primeiros a defender igualdade de gênero, direitos humanos e justiça climática, a realidade das negociações na UNFCCC revela outra face profundamente contraditória”, insistiu.

De acordo com a entidade, a população afrodescendente representa aproximadamente 200 milhões de pessoas no mundo.

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