O Força Tarefa Jovens Lideranças (FTJL) é um movimento de jovens brasileiros que atua no enfrentamento de todo e qualquer tipo de discriminação, estigma e preconceito. Nesta segunda-feira (30), em parceria com o canal Prosa Positiva, o FTJL estreia sua página oficial no Facebook com uma websérie em homenagem ao Dia da Visibilidade Trans.
Da Agência Aids
Isabella Santorini, durante as gravações (reprodução/ Agência Aids )
Com o título “Transvisão”, serão publicados 4 episódios com depoimentos de duas mulheres e dois homens trans. Em cada dia uma história diferente será contada. O primeiro episódio é sobre Brenda Oliveira, um homem transgênero que, com bom humor, compartilha como é ser jovem e trans. Assista abaixo.
“A visibilidade trans não tem apoio. Infelizmente, esse é um grupo que sofre muito preconceito. Pensamos que a falta de debate sobre o tema colabora com os estigmas. Trazer histórias como essas ajuda a ampliar a discussão”, disse Daniel Fernandes, diretor e editor da websérie, idealizador do canal Prosa Positiva, no Youtube e membro do FTJL.
Os vídeos têm formato caseiro. Um dos motivos, segundo Daniel, é a possibilidade que esse modelo tem de aproximar as pessoas. No entanto, para que a campanha acontecesse, também foi necessário vontade: “Não tivemos nenhum recurso financeiro. Tudo foi feito com o material e ferramenta que temos”, contou.
Os quatro episódios serão publicados nesta semana, até quinta feira (2), no Prosa Positiva e compartilhados no Facebook do FTJL. Na sexta-feira (3), todas as histórias estarão reunidas em um documentário. “Esse trabalho trás relatos que valem a pena. Tem emoção e mostra que somos todos iguais”, disse Daniel.
Jovens Lideranças
O Força Tarefa Jovens Lideranças começou em 2014, com três pessoas a convite da jornalista Fabiana Mesquita. Hoje, ele é um grupo com cerca de 350 pessoas. Cada um é especializado em determinada área, seja ela acadêmica ou de vivência. Temporariamente, essas pessoas se reúnem, por meio de plataformas digitais, para realizar algum trabalho com foco no acolhimento e combate a discriminação.
“Em 2014, aconteceu um seminário para HSH [homens que fazem sexo com homens] voltado para o enfrentamento da epidemia de HIV/aids. Em uma atividade realizada pelo Beto Volpe [ativista e fundador da ONG Hipupiara] surgiram várias propostas. A que mais me chamou atenção foi a sugestão da capacitação dos jovens”, lembrou Fabiana que tem forte atuação em setores de responsabilidade social, ativismo e educomunicação. “Falou-se muito nos trabalhos de cada grupo, formado naquele dia, sobre a criação de uma força tarefa, pois eles mencionavam que não havia troca de informações. Então, ficou combinado que o Unaids [Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids] ficaria responsável por essa atividade”, continuou Fabiana.
Fazia um ano que a diretora do Unaids Brasil, Georgiana Braga-Orillard, tinha voltado ao país. Conforme contou, entre as analises que fez sobre a epidemia de HIV/aids no Brasil, ficou confirmado que havia pouco envolvimento dos jovens no combate à epidemia. “Foi quando conseguimos um financiamento inicial com a União Europeia. A ideia era formar um grupo de jovens, em que eles identificassem quais as suas necessidades para se envolver na resposta ao HIV”, disse.
Um mês depois daquele curso, Fabiana convidou jovens que participavam da Rede Mundial de Pessoas Vivendo com HIV (um grupo fechado no Facebook) a iniciarem uma força tarefa (FT). Naquele momento, três jovens aceitaram.
“O grupo nem tinha um nome quando eu entrei”, disse Rafuska Queiroz, psicóloga, fundadora e membro da Rede Jovem Rio+ e integrante da secretaria nacional do MNCP (Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas). Ela foi uma das primeiras jovens que aceitou o convite de participar de um FT. Rafuska também é uma das administradoras da Rede Mundial de Pessoas Vivendo com HIV. “Essa Rede é um espaço de acolhimento de pessoas que vivem com o vírus. Pessoas convivendo e profissionais de saúde também podem participar. A Fabi fez um post convocando jovens para conversar sobre os nossos desejos, lutas e vontades para enfrentar a discriminação. Logo, dois jovens também vivendo com HIV e eu fomos saber no que isso ia dar. Então, convidamos outros jovens e fomos agregando”, contou.
A partir desse primeiro grupo surgiu o Força Tarefa. Fabiana era a consultora do Unaids na implementação da Força Tarefa Jovem do Unaids Brasil. Depois disso, aconteceram três cursos para jovens lideranças em Brasília com apoio de agências da ONU e do Ministério da Saúde.
“No primeiro curso achamos que não ia ter inscrições e tiveram 1.500 interessados. Foi quando pudemos fazer três versões. A primeira foi formal, mais séria, regrada e tradicional. A segunda com a participação dos jovens na construção de tudo. A terceira para estudantes da área da saúde. No entanto, tínhamos 500 vagas. Então, eu mandei e-mail para os interessados e convidei a todos para participar do Força Tarefa”, disse.
Foto: III Curso de Formação Jovens Lideranças
Hoje, o Força Tarefa não está mais sob o guarda-chuva do Unaids. O grupo cresceu, ganhou independência e está se organizando sozinho. “Embora tivesse a participação do governo e do Unaids, todas as decisões sempre foram horizontais, partindo dos jovens. A gente [Unaids] sempre quis deixar esse grupo caminhar, mas achávamos que precisaria de quatro anos para isso. Eles fizeram em dois”, comenta Fabiana muito orgulhosa.
Desde então, esses jovens já realizaram outras campanhas, vídeos informativos, escreveram e realizaram seminários e fazem acolhimentos. Algumas mudanças aconteceram no caminho, de acordo com Rafuska. O Força Tarefa Jovens Lideranças agrega todos os temas. “Essa segregação por temáticas eu via como um dos problemas nos outros movimentos. O FTJL reúne diversas militâncias em prol de um assunto em comum. A partir de algumas campanhas fomos agregando mais jovens e adultos. Esses adultos tinham o olhar de que a juventude poderia falar por si. Também que contribuiríamos com o que enxergamos como caminhos para reduzir e combater todas as formas de discriminação”.
No campo do HIV/aids, depois dos cursos, “muitos jovens se tornaram referência em seus espaços de atuação e municípios. Desta forma são fonte de informação”, explicou Rafuska.
No FTJL, ativistas, membros do governo, especialistas de diversas áreas, estudantes, jovens, adultos e influenciadores digitais compartilham ideias, escrevem projetos e emponderam outros jovens em suas regiões.
“Eu vejo esse Força Tarefa como revolucionário. A ideia é trazer toda a sociedade para a discussão. Ter um debate profundo sobre racismo, população indígena, exclusão social e tantos outros temas que parecem ter ficado fora da pauta aids”, disse Fabiana.
Atualmente, o Força Tarefa Jovens Lideranças conta com 13 grupos de trabalho. São eles: estudantes e profissionais de saúde, gênero e identidade de gênero, religiões de matriz africana, assuntos acadêmicos, cristãos pela diversidade, comunicação, juventude negra, juventude indígena, saúde mental e redução de danos, arte e cultura, enfrentamento ao suicídio, HSHs e acolhimento para pessoas vivendo e convivendo com HIV/aids.
“Esses jovens, tanto pessoas vivendo com HIV, como pessoas trans, indígenas, negras, mulheres, enfim, estão fortalecendo suas redes e movimentos. Eles levam a mensagem de prevenção, de zero discriminação, de testagem e tratamento. São realmente uma renovação para os movimentos. Eles aprenderam uns com os outros e descobriram que podem ser uma força muito grande juntos. Essa é a maior lição do Força Tarefa”, afirmou a diretora do Unaids, Georgiana Braga.
Dica de Entrevista
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Daniel Fernandes
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