Fundo Baobá e B3 Social apresentam os cinco primeiros estudantes selecionados pelo programa Black STEM, de bolsas de estudo no exterior

O Baobá - Fundo para Equidade Racial e a B3 Social celebraram, nesta terça (6), os estudantes selecionados pelo edital Black STEM, voltado para jovens negros e negras brasileiros que alcançaram o objetivo de cursar uma graduação no exterior. 

FONTEEnviado para o Portal Geledés, por Fundo Baobá
Camila, Rilary, Diovanna e Erica partem para os seus cursos de graduação no exterior - Crédito: Thalita Guimarães

O Black STEM é uma iniciativa que apoia a presença e permanência de pessoas negras nas áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) em universidades internacionais. No Brasil, a população negra (pretos e pardos) constitui 56% da população, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas representou apenas 36% dos formados em cursos superiores em 2020 e 32% dos formados em STEM. Essas áreas têm uma ligação histórica com a população negra, responsável por importantes desenvolvimentos científicos e tecnológicos. O programa promove formação acadêmica para esses estudantes e contribui para a produção de conhecimento na academia global.

A apresentação dos 5 (cinco) estudantes selecionados pelo programa Black STEM foi feita no auditório da B3 (região central de São Paulo), apoiadora do programa criado pelo Baobá – Fundo para Equidade Racial, que tem como parceiro a BRASA (Brazilian Student Association). Cada um deles receberá o equivalente a R$35 mil anuais para cobrir despesas de moradia, alimentação, transporte, material acadêmico e mensalidades. As bolsas podem ser renovadas anualmente até a conclusão do curso. O processo seletivo, composto por quatro etapas, contou com especialistas das áreas de STEM, Psicologia e Educação com diferentes conhecimentos e experiências sobre graduação no exterior.

“O Black STEM é um programa de incentivo financeiro e educacional para adolescentes e jovens negros que desejam estudar ciências exatas fora do Brasil. Esta iniciativa não é um projeto de curto prazo, mas um programa duradouro desenvolvido pelo Fundo Baobá e pela B3 Social. Os resultados do primeiro processo seletivo mostram que estamos no caminho certo. Por isso, continuaremos a investir e a trabalhar para ampliar as perspectivas e horizontes dos alunos de escolas públicas e privadas que promovem a diversidade étnica por meio de ações afirmativas”, celebra Giovanni Harvey, Diretor Executivo do Fundo Baobá.

Emoção

Acima de tudo, foi um momento de grande emoção para todos os presentes. O evento teve como apresentadora a jornalista Adriana Couto. Os estudantes levaram para o auditório familiares e amigos, o que tornou a cerimônia uma grande comemoração de vitórias pessoais. Os selecionados pelo Black STEM foram: 

Camila Ribeiro Martins (Vitória, ES): Pilotagem na Escola Superior Náutica Infante Dom Henrique, Portugal.

Diovanna Stelmam Negeski de Aguiar (São Paulo, SP): Ciência da Computação, na New York University (NYU), na China.

Eric Souza Costa Ribeiro (Caieiras, SP): Engenharia Aeroespacial na University of Notre Dame, EUA.

Melissa Simplicio Silva (Rio de Janeiro, RJ): Ciência da Computação na New York University (NYU), EUA.

Rilary Oliveira Torres (Diadema, SP): Medicina na Universidad Nacional de Rosario, Argentina.

As histórias que compartilharam emocionaram os que acompanharam o evento. Camila Ribeiro Martins, por exemplo, decidiu cursar Pilotagem depois de servir por dois anos a Marinha brasileira. “Servi como técnica no Rio de Janeiro e trabalhei em uma ilha. Tive muito contato com embarcações. O sonho de pilotar nasceu ali. Existe uma escola aqui no Brasil. Mas é escola militar e tem limite de idade. Então, as oportunidades existem, mas por vários motivos elas nos são negadas”, disse.    

Diovanna Aguiar se destaca desde a infância. “Amo ler. Aos 11 anos cheguei à marca de 300 livros lidos. Um dia, porém, minha avó me alertou para o fato de eu estar perdendo a corrida da vida. Ela se referia ao fato de eu não estar em uma boa escola. Eu sou de Itaquera e passei a querer estar nas melhores escolas. Entrei na Federal de São Paulo, uma das melhores instituições de ensino que temos. Nem que seja à força, temos que ocupar esses espaços”, afirmou Diovanna. 

Eric Souza começou a demonstrar ser uma criança fora da curva logo cedo. A mola propulsora de sua ida para a Notre Dame University é sua mãe. “Minha mãe, com a cara de pau dela, passou a ir às escolas particulares de Caieiras pedindo uma vaga para mim, sem ter nenhum dinheiro para pagar. Ela conseguiu. Passei a pensar em ser astronauta. Em 2021, fui o primeiro negro a representar o Brasil na Olimpíada Internacional de Ciência”, festejou. 

Melissa Simplicio Silva já está em Nova York. Ela participou do encontro pela internet. Ela afirmou que a experiência como estudante no exterior faz com que enxergue melhor o Brasil: “Quando colocamos o pé para fora, a gente aprende a dar muito mais valor ao nosso país”, revelou. 

Rilary Torres é uma futura médica brasileira com formação na Argentina. O desejo pela medicina veio de um vaticínio quando ainda era um bebê. “Segundo minha mãe, quando eu nasci, uma enfermeira ou a médica disse: ‘Essa vai ser doutora.’ Eu cresci com isso na cabeça e decidi virar médica. Descobri a universidade na Argentina, fui aprovada e estou lá”, concluiu. 

Coube à Coordenadora de Administração e Finanças, do Baobá, Hebe Silva e à Diretora de Programa, Fernanda Lopes, fazer um painel sobre o que estruturou o programa Black STEM até que chegasse ao seu primeiro resultado, que foi a escolha dos cinco estudantes. “A B3 Social foi um dos poucos investidores brasileiros em nosso fundo patrimonial. Temos um norte em tudo o que fazemos. O programa Black STEM, em 2029, será autossuficiente”, disse Hebe. Fernanda Lopes concluiu: “56% da população brasileira se declara preta ou parda. Mas só 39% se formam em cursos superiores. Estamos aqui para mudar esse quadro. A primeira universidade criada no mundo foi por obra de uma mulher negra marroquina. Mas foram nos destituindo de um espaço em que sempre estivemos. As estatísticas que estão aí não nos representam. Nós somos muito mais.”

Os familiares estavam extremamente emocionados. Sintetizando o sentimento de todos, a fala de Andressa Martins, mãe da estudante Camila, que vai cursar Pilotagem em Portugal, traduz o pensamento de todos: “Não se trata só do dinheiro para eles permanecerem nesses países. Agradeço muito a isso, mas agradeço muito mais ao suporte. Isso é muito importante e vocês (Fundo Baobá e B3 Social) estão dando”, concluiu.  

Os Organizadores

Fabiana Prianti, Head da B3 Social, enalteceu o fato de os estudantes estarem efetuando um resgate. “Vocês estão realizando os sonhos de seus familiares. Precisamos desses talentos negros. Portanto, voltem para o Brasil e assumam seus lugares de liderança”, disse. A fala de Fabiana reforça o que foi dito por Alexandre Moysés Nascimento, diretor de Governança da B3: “Esse é um dia histórico para nós. Celebramos aqui nossas vitórias e honramos os nossos ancestrais. Temos capacidade e competência. O que nos falta são oportunidades. É isso que a B3 quer proporcionar”, falou Alexandre. 

Para o diretor executivo do Baobá, Giovanni Harvey, a grande meta do fundo agora é fazer com que outros estudantes venham ser beneficiados pelo programa do edital Black STEM. “Nós (Baobá) não achamos nenhum de vocês cinco. Vocês já estavam lá. Suas famílias já estavam lá. Nosso desafio agora é encontrar outros como vocês.”

Outro momento de grande emoção foi com as participações do Professor Hélio Santos, membro da Assembleia Geral do Fundo Baobá e Presidente do Conselho da OXFAM e André Lázaro, membro do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá. Santos exaltou a perseverança dos estudantes: “O maior delito da elite brasileira foi impedir a juventude de sonhar. Não há investimento maior do que investir na juventude. Por isso, ousem! Ousar nada tem a ver com irresponsabilidade. Ousem! Duas mulheres negras deram duas medalhas de ouro ao Brasil nas Olimpíadas. Então, ousem, porque não queremos apontar apenas os riscos que a população jovem negra sofre. Queremos mostrar as oportunidades que eles têm também”. 

O também professor André Lázaro encerrou o evento dizendo: “Estar aqui hoje é ver mais uma oportunidade. O Fundo Baobá está olhando para as pessoas e para o compromisso que tem com elas. Esse encontro revela compromissos transformadores. O Movimento Negro civilizou o Brasil. Ter a B3 comprometida com a equidade é um grande passo que a nossa sociedade também tem para dar”, disse. Para os estudantes, Lázaro deixou o seguinte recado: “Não levem com vocês o peso da responsabilidade. Aceitem o direito de errar”, alertou.  


Sobre o Fundo Baobá

O Baobá – Fundo para Equidade Racial é um fundo patrimonial brasileiro que mobiliza recursos para apoiar ações de enfrentamento do racismo e promoção da equidade racial no Brasil. Criado em 2011, o Fundo Baobá investe prioritariamente por meio de editais, no desenvolvimento de lideranças e no fortalecimento de organizações negras comprometidas com o enfrentamento ao racismo, com a promoção da equidade racial e da justiça social. Até 2023 o Baobá já havia apoiado mais de 900 iniciativas que tiveram impacto direto em mais de 2,1 mil pessoas. 


Sobre a B3 Social

A B3 Social é uma associação sem fins lucrativos, responsável pela atuação social da B3, a bolsa do Brasil. Tem como o propósito contribuir com a redução de desigualdades sociais no Brasil e, para isso, a principal estratégia é financiar organizações e projetos que atuem de forma estruturante na melhoria da educação pública brasileira.

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