Geledés Propõe Inclusão de Afrodescendentes nas Decisões Climáticas da COP30

31/10/25
Por Kátia Mello [email protected]
Instituto vê na conferência uma oportunidade para o Brasil e o mundo fortalecerem a justiça climática com centralidade em raça e gênero

A Conferência das Partes sobre Mudança do Clima (COP30), a ser sediada em Belém do Pará entre os dias 10 e 21 de novembro, surge como uma oportunidade relevante para ser redefinido o rumo das negociações climáticas globais. Em um momento crucial para o Sul Global, o encontro oferece ao Brasil o ensejo de exercer liderança política na defesa de uma agenda de combate ao racismo ambiental ancorada nos pilares da raça, do gênero, do território e da economia do cuidado. 

Nesse contexto, o Geledés – Instituto da Mulher Negra, organização fundada e liderada por mulheres negras, desempenha papel estratégico e crucial ao articular-se com organizações do movimento negro brasileiro para conjuntamente assegurar que os compromissos firmados na conferência transcendam o discurso simbólico e se traduzam em resultados concretos a favor das populações historicamente vulnerabilizadas. Na esfera internacional, Geledés entende o Plano de Ação de Durban como uma bússola para o enfrentamento do racismo, da discriminação racial e das desigualdades estruturais. 

Para Geledés, a almejada transição justa não pode se tornar um pretexto para a reprodução de hierarquias de exploração, mas sim um processo transformador capaz de enfrentar o racismo estrutural que alicerça a crise climática. O instituto      defende que sem a interseção entre justiça racial e de gênero, as negociações       correm o risco de reforçar as assimetrias que pretendem justamente combater. O desafio, portanto, é político na implementação de uma ótica antirracista, feminista e anticapitalista tanto nos operativos de governança quanto no conteúdo das políticas climáticas.

As recomendações apresentadas por Geledés à COP30, aqui apresentadas, estabelecem um verdadeiro mapa de ação para um caminho possível. Pela primeira vez na história da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), documentos centrais — como os rascunhos do Plano de Ação de Gênero e do Programa de Transição Justa — saíram das negociações da SB62 em junho, em Bonn na Alemanha, com menção expressa à população afrodescendente nos rascunhos. A conquista, ainda que simbólica, é fruto de uma mobilização conjunta entre Geledés, organizações afrodescendentes no Brasil e fora dele, e o Estado brasileiro, que atuaram de forma coordenada e conjunta para inserir a dimensão racial na arquitetura dos tratados climáticos.

É importante ressaltar, que a retirada da menção a afrodescendentes no documento da Meta Global de Adaptação evidencia o quanto a luta por reconhecimento e reparação ainda enfrenta fortes resistências. A próxima etapa, portanto, é resgatar essa inclusão, reafirmando sua relevância para a efetivação dos direitos humanos e a construção de uma justiça climática verdadeiramente universal.

Em um cenário em que muitas nações ainda evitam enfrentar as raízes estruturais do racismo nas políticas ambientais e econômicas, o papel do Brasil torna-se decisivo. Ao sediar a COP30, o país é convocado      a mediar acordos internacionais e liderar avanços que reduzam as desigualdades sociais e raciais que são causados pelos eventos extremos. Reconhecendo      que o futuro do clima, da democracia e até da vida depende de um combate efetivo às desigualdades que moldam a atualidade das comunidades vulnerabilizadas. 

Acesse as recomendações de Geledés para as negociações na COP30.

Recomendações COP30 – Português

Recomendações COP30 – Inglês

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