Geledés se aproxima da União Africana (UA)

Geledés na ONU, incidencia internacional de Geledés Instituto da Mulher Negra
Enviado por / FontePor Katia Mello

Instituto foi convidado a ser observador de evento paralelo à 38ª Conferência Ordinária dos Chefes de Estado e de Governo da UA que discutiu justiça reparatória na Etiópia

O assessor internacional de Geledés, Gabriel Dantas foi convidado a participar como observador do evento de Pré-Lançamento do Tema da União Africana 2025, cuja temática é “Justiça para africanos e afrodescendentes através de Reparações”.

Geledés foi a única organização da sociedade civil brasileira a participar desse evento que ocorreu nesta sexta-feira, 14, na Sede da União Africana em Adis Abeba, na Etiópia, de forma paralela à 38ª Conferência Ordinária dos Chefes de Estado e de Governo da União Africana (UA).

O convite veio da Direção do Departamento de Cidadãos e Diáspora (CIDO), responsável por liderar o engajamento da União Africana (UA), órgão máximo da organização política continental, com atores não governamentais e da sociedade civil. O CIDO tem uma unidade que serve como Secretariado do Conselho Econômico Social e Cultural (ECOSOCC), um órgão consultivo da UA que fornece às organizações da sociedade civil africanas uma plataforma para influenciar diretamente os processos de tomadas de decisão.

No convite, ressalta-se que Geledés é “peça-chave no movimento de reparações”. Dantas afirma que esse convite vem em momento importante, consolidando o papel da organização como um player internacional. “Diante do recrudescimento da extrema direita no cenário global, discutir o tema da justiça reparatória com os países africanos e as nações da diáspora africana é algo crucial”, diz ele. Dantas ressalta ainda que esta é uma temática que “a organização já vem trabalhando em outros espaços, entre eles o Grupo de Trabalho de Especialistas sobre Afrodescendentes da ONU e no âmbito das discussões da próxima Declaração de Direitos dos Afrodescendentes das Nações Unidas”.

Participaram deste evento de pré-lançamento a alta cúpula de lideranças africanas e globais, entre elas chefes de Estado, representantes do Comitê Interdepartamental da UA sobre Reparações, chefes de agências das Nações Unidas, organizações, OSCs e representantes de Estados não-africanos, além de lideranças da juventude africana.

O encontro aproxima o Brasil da África, e mais especificamente da União Africana, como aponta Dantas. Para o assessor de Geledés, a questão da justiça reparatória, obviamente levando-se em conta as questões internas de cada país, “é de interesse tanto dos africanos quanto dos países da diáspora em razão dos crimes históricos cometidos durante o tráfico transatlântico de escravizados”.


A União Africana estabeleceu oito principais temáticas. São elas:

Reconhecimento histórico: Reconhecer e documentar os impactos do colonialismo e da escravização nas sociedades africanas é crucial. Isso inclui pesquisa e reconhecimento público das injustiças enfrentadas pelos povos africanos ao longo dos séculos;

Reparações financeiras: As propostas geralmente incluem pagamentos compensatórios a nações e comunidades africanas afetadas pela exploração colonial. Isso também pode envolver investimentos em infraestrutura, educação e assistência médica para dar suporte ao desenvolvimento econômico.

Restituição de terras: Abordar as questões de propriedade de terras e suas restituições é essencial, especialmente em países onde as terras foram tomadas das populações originárias. Isso pode envolver a devolução de terras ou a compensação de comunidades por territórios perdidos.

Preservação cultural: Esforços devem ser feitos para restaurar e promover a herança cultural africana que foi suprimida ou destruída durante os tempos coloniais. Isso inclui financiamento para instituições culturais, programas educacionais e o retorno de artefatos culturais.

Reformas políticas: Incidências para promover as políticas que perpetuam a desigualdade e a discriminação são vitais. Isso pode incluir reformas em educação, assistência médica e políticas econômicas que afetam desproporcionalmente as comunidades africanas.

Responsabilidade internacional: Envolver órgãos internacionais para responsabilizar antigas potências coloniais por suas ações pode ajudar a promover um senso de responsabilidade global. Isso pode envolver pressão diplomática ou ações legais em tribunais internacionais.

Empoderamento da comunidade: apoiar movimentos de base e o empoderar comunidades locais para que liderem suas próprias iniciativas de justiça reparadora podem garantir que as soluções sejam culturalmente relevantes e conduzidas pela comunidade.

Incidência continuada: Incidência e educação contínuas são essenciais para manter o ímpeto e manter viva o diálogo sobre justiça reparatória. Isso pode envolver coalizões, campanhas e fóruns públicos para aumentar a conscientização e o apoio à causa.

Ao designar a justiça reparatória como sua principal discussão em 2025, a União Africana chama para si o direcionamento de discussões entre as lideranças do continente e do resto do mundo a fim de alcançarem a Agenda Continental de Reparações dentro da visão da Agenda 2063. O objetivo da UA e nações da diáspora é a promoção da justiça reparatória e a cura racial, abordando injustiças históricas e promovendo a justiça e a equidade para africanos e afrodescendentes em todo o mundo.


Kátia Mello, jornalista e mestre em Estudos Africanos pela Universidade de Birmingham, Reino Unido

+ sobre o tema

Geledés propõe a criação de um Major Group de Afrodescendentes na ONU

A criação do Major Group de Afrodescendentes na ONU...

Marcelo Paixão, economista e painelista de Geledés, é entrevistado pelo Valor

Nesta segunda-feira, 10, o jornal Valor Econômico, em seu...

para lembrar

Geledés participa da 54ª Assembleia Geral da OEA

Com o tema “Integração e Segurança para o Desenvolvimento...

Corte Interamericana de DH condena Brasil em denúncia de racismo

Geledés - Instituto da Mulher Negra obteve uma vitória...

Leia a sentença da Corte IDH sobre o caso Neusa dos Santos e Gisele Ferreira vs. Brasil

A recente decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos...

Geledés Denounces Opposition to Afro-descendants at COP16

Once again, the Afro-descendant population is being auctioned off as bargaining chips in international negotiations at COP16, the Conference on Biodiversity in Cali, Colombia....

Geledés anuncia realização de evento paralelo ao fórum de sustentabilidade da ONU em setembro

Os resultados do Fórum Político de Alto Nível sobre Desenvolvimento Sustentável na ONU, que teve início na sede da organização em Nova York, nos...

Em paralelo às guerras, ONU discute medidas sociais econômicas para afrodescendentes

Enquanto o mundo pega fogo em meio às guerras, há um avanço quase que silencioso na ONU no campo dos direitos das populações negras...
-+=