Meninas negras e as barreiras no acesso à educação

11/10/25
Por Beatriz de Oliveira
Neste Dia Internacional da Menina, Tânia Portella, pesquisadora de Geledés, aborda dificuldades enfrentadas por meninas negras em ambientes escolares

“Da educação infantil ao ensino médio, as meninas negras estão expostas a situações de preconceitos, estereótipos e racismo no ambiente escolar”, afirma Tânia Portella, doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Neste Dia Internacional da Menina, 11 de outubro, a consultora e pesquisadora de Geledés discorre sobre as defasagens do acesso à educação para meninas negras e as ações da organização em torno desse eixo. 

Instituído em 2011, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, o Dia Internacional da Menina  propõe um momento de reflexão acerca dos desafios enfrentados por meninas em todo o mundo e busca promover o acesso a direitos desse público. 

Segundo Tânia, apesar da universalização do acesso à educação para crianças de 6 a 10 anos, meninas negras ainda sofrem diversas barreiras para o pleno acesso ao ensino. Algumas das adversidades se relacionam à frágil estrutura escolar, como equipamentos públicos precários, e a necessidade de assumirem tarefas domésticas muito cedo. Para  a pesquisadora,é urgente  uma perspectiva interseccional, que considere raça e gênero na produção e análise de dados educacionais. 

Foto: Isabela Gaidis

Leia a entrevista completa:

Geledés: Pensando no direito à educação, quais as principais barreiras enfrentadas por meninas negras?

Tânia Portella: Desde a universalização do acesso à educação para crianças de 6 a 10 anos, analisando as taxas de matrícula, não percebemos diferenças significativas no acesso à educação. Mas há um conjunto de barreiras que permeia o dia a dia das meninas e aparece nas condições de acesso, como morar em localidades afastadas e periféricas, onde os equipamentos públicos são mais precários, com fragilidades estruturais em recursos humanos e tecnológicos; permanência impactada pelo fato de meninas negras estarem super-representadas entre o grupo responsável por tarefas domésticas e cuidados com outras pessoas. Essa realidade impacta diretamente na qualidade e no tempo dedicado à aprendizagem, assim como traz efeitos em relação à progressão para etapas seguintes da educação formal.  

Geledés: Olhando para a educação básica, quais os principais motivos que levam a evasão escolar de meninas negras?

Tânia Portella: Da educação infantil ao ensino médio, as meninas negras estão expostas a situações de preconceitos e racismo no ambiente escolar. Meninas que são preteridas em determinadas atividades, julgadas por características físicas e vestimentas, são silenciadas ou desqualificadas na abordagem de conhecimentos, silenciadas em suas falas. Esses elementos transformam o espaço escolar em um ambiente racista e sexista e, portanto, hostil à permanência. Essa realidade é reforçada pelas responsabilidades familiares e sociais que também recaem de forma mais prevalente para meninas negras.

Geledés: Por que é importante uma produção e análise de dados educacionais feita a partir de uma perspectiva interseccional?

Tânia Portella: Se não temos dados, não temos a dimensão concreta da realidade. Sabemos que as políticas públicas são elaboradas, implementadas e priorizadas a partir da exposição das suas necessidades. Quando os dados são obtidos de forma qualificada e apontam que racismo e gênero são causadores de desigualdades, de bloqueio ao sucesso, a direitos básicos, ao exercício da cidadania, e que isso determina a evolução da sociedade e da economia do país, demonstramos que as políticas educacionais não podem ser pensadas sem partir dessa perspectiva. Do contrário, não serão eficazes.

Geledés: Entre as iniciativas de Geledés nessa temática, está a formação de educomunicação para meninas negras. Pode comentar sobre essa e outras ações?

Tânia Portella: O programa de Educação e Pesquisa de Geledés dedica várias frentes para esse tema, desde a primeira infância até a  formação para o mercado de trabalho. Há também a formação de gestores públicos, o diálogo com professores, profissionais de educação e diversos setores da sociedade, grupos capazes de potencializar o enfrentamento às desigualdades que afetam a educação das meninas negras.

Entre as ações recentes está a etapa 2025 do curso para jovens negras de Ensino Médio.  Queremos que meninas negras sonhem, elaborem projetos de vida e desenvolvam reflexões a partir de debates sobre cidadania e direitos humanos. Nesse contexto, inserimos uma formação introdutória em educomunicação para essa etapa do curso. Para nós, a educomunicação é uma ferramenta estratégica para a realização das dimensões  propostas.

Compartilhar