A ativista da esquerda Clara Charf morreu hoje, aos 100 anos, na cidade de São Paulo.
O que aconteceu
Morte foi por “causas naturais”, informou a Associação Mulheres pela Paz, que ela presidia. Clara estava hospitalizada e intubada havia alguns dias, disse a ONG feminista que promove a igualdade de gênero.
Ex-companheira do guerrilheiro Carlos Marighella atuou com lutas sociais desde seus 20 anos. Filiou-se ao PCB (Partido Comunista Brasileiro) aos 21 anos, onde conheceu seu futuro parceiro de vida e militância.
Integrou a ALN (Ação Libertadora Nacional), fundada em 1967 por Marighella. O relacionamento dos dois durou 21 anos, de 1948 a 1969, até o assassinato do companheiro durante a ditadura militar.
Clara se exilou em Cuba depois da morte de Marighella. Ela viveu no país com identidade falsa por dez anos e só voltou ao Brasil em 1979, após a promulgação da Lei da Anistia.
Filiou-se ao PT e concorreu para o cargo de deputada federal em 1982, mas não se elegeu. Além de atuar como presidente da Associação Mulheres pela Paz, integrava o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e a Secretaria de Mulheres do PT.
Nos últimos anos, Clara viveu em São Paulo com sua irmã caçula Sara Grinspum, de 94 anos. Ainda não há informações sobre o velório e o enterro da ativista.
Políticos lamentaram a morte
Políticos da esquerda usaram as redes sociais para prestar suas homenagens. Dentre os primeiros a se pronunciar estão o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira (PT-SP), e o deputado federal Ivan Valente (PT-SP).
Frei Betto também se manifestou. Em nota, o religioso, escritor e ativista lembrou que hoje é a “véspera do dia em que o Brasil comemora o assassinato de Carlos Marighella, tombado em 4 de novembro de 1969 pela ditadura militar”.
Afirmou que “Clara viveu a história por dentro, mas sem jamais buscar o palco”. “Foi testemunha da perseguição, do exílio, da solidão imposta a quem amou. (…) Ser mulher de um revolucionário é, muitas vezes, ser silenciada pela narrativa dos heróis. Mas Clara não coube nesse silêncio. Fez da vida um território de cuidado e, da lembrança, um ato político. No corpo frágil e na voz doce morava uma força que não se media em armas, mas em fidelidade à justiça”, completou.
Hoje o Brasil despede-se dessa mulher que não empunhou fuzis, mas manteve viva a chama que ilumina utopias.
Frei Betto
A Secretaria Nacional de Mulheres do PT também registrou sua homenagem.