O terreiro mais antigo do Brasil, o Ilê Axé Iyá Nassô Oká, mais conhecido como Casa Branca do Engenho Velho, está de luto. Altamira Cecília dos Santos, a ialorixá Mãe Tatá Oxum Tomilá, morreu neste sábado (7), aos 96 anos.
Filha legítima de Maria Deolinda, a Papai Oké, Mãe Tatá de Oxum foi a oitava ialorixá da Casa Branca e era uma das maiores lideranças do candomblé baiano. De acordo com o Pai Léo, ogan da Casa Branca, ela faleceu em casa, no Engenho Velho de Brotas. Ainda não há informações sobre seu velório e enterro. “Ainda estamos resolvendo as coisas que envolvem a parte espiritual e outras pessoas estão cuidando da parte fúnebre, física”, explicou.
Segundo Pai Léo, mesmo estando com Alzheimer há cerca de cinco anos, a sacerdotisa continuava cumprindo todas as suas obrigações no terreiro fundado por Iyá Nassô, o primeiro reconhecido como patrimônio do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
“Mãe Tatá de Oxum representava tudo para nós. Ela tomava conta de todos nós, da Casa e dos orixás. Pra mim, ela era uma pessoa muito importante. Além dela ser a nossa ialorixá, ela era minha irmã de santo. Era amiga, irmã. Era uma pessoa muito boa, simples, humilde, educada. Jamais alterava a voz para falar com ninguém”, descreve o ogan.
Ele conta que, nesse domingo (8), seria a festa de Oxum da Casa: “Como ela foi embora hoje, a festa fica suspensa”. Com a partida da líder, a Casa Branca deve ficar um ano de luto. “Por enquanto, quem assume são os povos antigos. Aqui na Casa Branca, temos nosso oluô que nos ajuda: Pai Air José, líder do Pilão de Prata, deve dirigir a gente, junto com os egbomis”, adianta.
Em conversa com o CORREIO, Pai Léo ressaltou ainda que Mãe Tatá de Oxum tinha muitas semelhanças com seu orixá. “Assim como Oxum, ela era vaidosa, gostava de usar joias e era muito maternal e energética. Contava uma história toda para você perceber que estava errado”, lembra. Ele garante que vai sentir saudades da sua irmã de santo: “São muitos momentos que passamos juntos”.
Casa Branca do Engenho Velho
O terreiro Casa Branca do Engenho Velho, Sociedade São Jorge do Engenho Velho ou Ilê Axé Iyá Nassô Oká é considerada a primeira casa de candomblé aberta de Salvador. Constituído de uma área aproximada de 6.800 m², com as edificações, árvores e principais objetos sagrados, é o primeiro Monumento Negro considerado Patrimônio Histórico do Brasil desde o dia 31 de maio de 1984.
Esta comunidade foi fundada por três negras africanas cujos nomes são: Adetá ou Iyá Detá, Iyá Kalá, Iyá Nassô e Babá Assiká, Bangboshê Obitikô.
A Iyá Nassô sucedeu Iya Marcelina da Silva. Após a morte desta, duas das suas filhas, Maria Júlia da Conceição e Maria Júlia Figueiredo, disputaram a chefia do candomblé, cabendo à Maria Júlia Figueiredo que era a substituta legal (Iya Kekeré) tomar a posse de Mãe do Terreiro. Maria Júlia da Conceição afastou-se com as demais discidentes e fundaram outra Ilé Axé, o (Terreiro do Gantois).
Substituiu Maria Júlia Figueiredo na direção do Engenho Velho a Mãe Sussu (Ursulina de Figueiredo). Com a sua morte, nova divergência foi criada entre suas filhas, Sinhá Antonia, substituta legal de Sussu, por motivos superiores não podia tomar a chefia do Candomblé. Em consequência, o lugar de Mãe foi ocupado por Tia Massi (Maximiana Maria da Conceição).
Vencendo o partido da Ordem, dissidentes inconformados fundaram então uma outra Ilé Axé, o (Ilê Axé Opô Afonjá).
Maximiana Maria da Conceição, Tia Massi foi sucedida por Maria Deolinda, Mãe Oké. A direção sacerdotal do Engenho Velho foi posteriormente confiada à Marieta Vitória Cardoso, Oxum Niké, recentemente desaparecida.
Tinha assumido a chefia da Casa a ialorixá Altamira Cecília dos Santos, filha legítima de Maria Deolinda dos Santos, carinhosamente chamada de Papai Oké.