por Arísia Barros
Segundo Luís Mir, em seu livro Guerra Civil: “o estado brasileiro optou pela guerra civil, uma guerra dolorosa que empilha cadáveres com frieza nazista e fúria primitiva. As vítimas desta guerra são os pobres, que vivem em permanente estado de tensão e de terror. Essas mortes custam para o estado, metade do que o país gasta em saúde.”
O estado de Alagoas reconta a história contemporânea dos navios negreiros. Berço da emblemática República de Palmares possui o maior porcentual de pobres do país. 40% dos viventes de Alagoas é pobre . E a grande maioria dos pobres tem pele parda e preta.
Ideologia e política foram os principais motivos da escravidão no Brasil que vigorou durante 388 anos, de 22 de abril de 1500, até 13 de maio de 1888.
Alagoas ocupa o último lugar na fila do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), dentre os estados brasileiros.
A 27ª posição.
O estado de Alagoas transforma a pobreza dos 40% de alagoanos em iniquidades sociais, estabelecendo um cenário de guerra interna,entre semelhantes e diferentes, onde:
Armamentos bélicos são utilizados para garantir a ilusão da paz.
Um estudo divulgado pelo Instituto Sangari e pelo Ministério da Justiça aponta que Alagoas lidera o ranking dos Estados brasileiros mais violentos, com uma taxa de 60,3 homicídios para cada 100 mil habitantes.
No mapa da violência alagoana a mortandade de jovens de pele preta é triplicada.
A população assiste passivamente o crescente massacre de civis- na sua maioria jovens de pele preta e parda- esticando o pescoço para não perder os detalhes mórbidos e recontá-los para quem quiser ouvir.
Seres humanos mendigam saúde e são dizimados nas portas de hospitais que vivem na UTI. Quase-mortos.
Uma secretaria de direitos humanos e destronada para abrigar a guarda civil sob a anuência da Câmara de Vereadores de Maceió e da população em geral.
Crianças, como moradores de rua, na sua grande maioria preta e pobre são mortas a pedradas sem causar a mínima comoção social ou manifesto nas ruas ou redes sociais.
Um holocausto sistêmico!
O estado transforma a questão das drogas em problema ‘estrutural” omitindo-se da responsabilidade do estabelecimento efetivo das políticas públicas transformadoras.
Droga é prima irmão da pobreza excludente e da miséria que rende votos robustos.
Grandes grupos “racialmente inferiores” são submetidos a exposição vexatória em barracas de lona e os noss@s representantes afirmam que “entendem” a situação e 365 após a enchentes estão “tentando” resolver e os outros 60% da população não-pobre se acomoda em lugares de conforto.
Instituições escolares que deveriam ter o princípio de agregar saberes tornam-se cancelas escancaradas para o crime.
O teto das escolas desaba impedindo o conhecimento-libertador e crianças são transportadas em ônibus tão velhos, mas tão velhos que nem as usinas que carregam cana-de-açúcar os utiliza.
O transporte público escolar em Alagoas espelha aquela história de tragédia anunciada.
E depois que acontece vira fatalidade.
Isso não é uma Guerra Civil?
Fonte: Raizes da África