O jornalista tem que “esconder” seus preconceitos, diz Rita Batista a nova apresentadora da Band

Repórter novata em ‘A Liga’, Rita Batista andou mais de 1.500 quilômetros para chegar a São Paulo. Ainda se acostumando com o ritmo da cidade, a profissional deixou a Bahia para encarar novos projetos na Band. Para o programa, ela adianta que vai trazer o que reza “no bom manual do jornalismo” e afirma que a oportunidade é boa para lidar com preconceitos. “Todos têm preconceitos internos. Mas, isso não é o mesmo que discriminação. Como jornalista, na hora de passar informação, é preciso esconder o seu preconceito”.

Rita, que vem do extinto ‘Muito Mais’, também da Band, considera que ‘A Liga’ trata-se de um desafio e propõe que sua passagem pela exibição aproxime as pessoas do jornalismo. Bem humorada, ela conversou com o Comunique-se sobre a nova fase, a mudança de estado e profissão. “Na TV, meu ofício é o que interessa. Não gosto de discurso vazio e vou investir cada vez mais em serviço para o telespectador”, contou.

Veja a íntegra do bate-papo com a jornalista

Rita é a única jornalista entre os apresentadores da quarta temporada de ‘A Liga’ 
(Imagem: Carol Gherardi)

Como você está encarando a ida para ‘A Liga’?
Sinto-me muito mais próxima do que eu me proponho a fazer como profissional, que é transmitir mensagens e fazer com que o público se aproxime ainda mais do ofício de jornalista. Quando vamos para a rua, encontramos personagens fantásticos e coisas que, às vezes, nem acreditamos que existe. São realidades diversas, diferentes das nossas e isso é o jornalismo.

E de qual forma o jornalismo está inserido na nova temporada do programa?
Claro que estamos fazendo TV, que tem recursos estilísticos, formas e roteiro. É preciso atrair o público e colocar tudo dentro de uma embalagem legal, para atrair, mas o conteúdo tem que ser bom. O jornalismo é o fato e quem está chegando agora precisa segurar a onda do que já foi feito nos anos anteriores, do que já deu certo. Tem que sustentar o que os outros já começaram a fazer.

Fazer parte da atração trata-se de um desafio?
Sim, é um desafio. Porque não é uma pauta normal que o jornalista está acostumado a fazer nas redações. Geralmente, o profissional fica perto das coisas e das pessoas, mas isso não é levado para a reportagem, não vai tão a fundo como fazemos em ‘A Liga’. Atualmente, saio para a rua sem saber exatamente o que vai acontecer e isso é desafiante. A linguagem é muito mais rápida. O programa tem uma hora, e cada repórter grava mais de 10. Quem edita e decupa precisa querer que as coisas funcionem e deem certo.

Você consegue acompanhar o processo de edição?
O repórter não faz parte do processo de edição por causa do ritmo de gravação e também para manter o distanciamento. Quando o jornalista vai para a rua e grava a matéria, ele quer mostrar tudo e deixar aquilo tudo muito bonitinho e arrumado. Então, ‘A Liga’ dá essa desestruturada, porque tem que integrar com o material que os outros colegas trazem. Outras pessoas interferem para que o ‘mexido’ fique bom. No início, é triste porque você pensa ‘mas aquela sonora, aquele momento não entrou’, mas depois você entende como é a mecânica das coisas e que é preciso cortar para que o outro complemente.

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Rita vai aproveitar a oportunidade para investir em pautas de serviço 
(Imagem: Agência A Lata)

Você comentou durante a coletiva que essa é uma oportunidade de lidar com preconceitos…
Temos os nossos preconceitos internos, que ficam escondidos muitas vezes. Mas uma coisa é preconceito e outra é discriminação. Como jornalista, na hora de passar informação, é preciso esconder o seu preconceito e segurar a ‘onda’. A não ser que seja uma coluna ou depoimento, aí é diferente. Em ‘A Liga’, existe abertura, não de colunismo, mas de falar algumas coisas porque eles precisam dessa impressão do repórter.

O que leva da sua experiência para o programa?
Fico preocupada com o serviço, com o que dizer para o público. Não gosto de discurso vazio, de aparecer por aparecer. Estou na televisão porque acredito que as emissoras são concessões públicas que se apropriam disso para passar serviço para a população. Claro que tem outros componentes, como mercado, audiência, propaganda, mas a minha preocupação é com o serviço. Na TV, meu ofício é o que interessa. Sou uma pessoa que veio do rádio, o meu negócio é falar! Recurso estilístico, roupa e maquiagem são as minhas últimas preocupações.

Esse serviço tem mais visibilidade na TV?
Acho que não. Na TV é preciso se preocupar com outras coisas que atrai o público. Televisão é imagem e movimento. Não é só colocar dez horas de muito serviço, informação e conteúdo. Se não estiver dinâmico, o telespectador muda de canal e a não assisti nada. Tem que mexer com o raciocínio das pessoas. Os outros meios são tão capazes disso quanto a TV.

Como é o trabalho no programa?
Vamos tratar de assuntos que as pessoas não veem tanto no jornalismo diário. O jornalismo diário precisa ser rápido e factual, tem fechamento apertado, não há tantas possibilidades de aprofundamento na matéria. Como ‘A Liga’ é um programa gravado e exibido uma vez por semana, temos sorte e possibilidade de aprofundar ainda mais nos temas. Qualquer assunto pode ser debatido e discutido. Só tem uma regra: a pauta precisa de conflito. Mas isso é o que não falta no Brasil.

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Da esquerda para a direita: China, Thaide, Mariana, Rita e Cazé 
(Imagem: Carol Gherardi)

Você é a única jornalista do novo grupo da atração. Como encara isso?
É normal. Não vou fugir do que aprendi, do compromisso com a informação e com a fonte, que está prestando aquele momento da vida dela para a reportagem. Ou seja, é rezar pelo manual do bom jornalismo, fazer perguntas, confrontar e nunca desrespeitar. Acredito que qualquer pergunta possa ser feita. Essa é a minha premissa e é a cartilha que sigo. Sou daquelas que sempre pergunta e pergunta de novo. É o jogo. Só não vale invadir o espaço do outro, tem que ter limite, mas isso se aprende com o tempo. Se algo é importante para a matéria, o repórter pode dar a volta, procurar outro caminho e questionar.

Como foi a sua vinda para São Paulo?
Há dois anos me chamaram para vir para o ‘Muito Mais’. Era a minha oportunidade. Não é uma coisa que eu estava acostumada, mas acho que em qualquer planície a gente se ajeita. Primeiro, tem que fazer o que dá, e depois o que gosta. Não pode deixar a oportunidade passar. A Band tem muitas praças! Poderia escolher a mim na Bahia ou qualquer outra pessoa. Quando soube do projeto, reuni alguns critérios que para aquele momento eram importantes e a rede me trouxe.

Você é jornalista. O ‘Muito Mais’ era entretenimento…
A Band sempre teve cuidado com a minha imagem, isso me preservou. Hoje, sei que eles tinham outros projetos para mim. Com o público, “comi um dobrado”. As pessoas perguntavam o que eu estava fazendo em um programa de fofoca, me detonaram, mas passou. Estou numa emissora que valoriza o meu trabalho. Às vezes, eles precisam do profissional e não dá para pensar que é só “venha a nós”, tem que vestir a camisa.

Da Band Bahia para a Band São Paulo. Como foi a adaptação?
No início, foi muito difícil. Já conhecia São Paulo, mas nunca tinha passado períodos longos aqui. Larguei tudo na Bahia e tive esse suporte da emissora. Tudo é complicado em São Paulo, mas tive sorte de vir em ‘um berço’. A Band me colocou no colo. Sou muito agradecida.

Fonte: Comunique-se

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