O poder da empatia revisitado

Um tema ou assunto que costumo ouvir e ver muito nos meios na atualidade é empatia. Sim, a coisa, grosso modo falando, de se conectar com o outro. Entender a dor do outro, sentir e estar em conexão. Conexão. Tudo que fazemos hoje, #sóquenão!

Por  no Brasil Post

Cada vez mais as pessoas estão desconectadas acerca do que estão falando. Isso tem a ver (tudo grosso modo…as coisas são bem mais complexas né…) com o ímpeto e o desejo de falarmos somente sobre nós mesmos para nós mesmos, e de acordo com nós mesmos. Isso não é de todo ruim, se pensarmos que algumas pessoas poderiam ganhar visibilidade, poderiam estar “finalmente” no spot: sendo ouvida, reconhecida, compreendida. Hummm.. Not.

O que vemos é uma sucessão de palcos do eu-isolado, que, conforme sua história, suas vontades e suas regras, liga o megafone (potencializado lindamente nas redes sociais) e desliga o fone de ouvido para não ouvir o que não é eu. O “outro”? Que “outro” que não minha audiência?

Nesse processo perdemos muito com algo bem sério: o outro, de fato. Vozes minoritárias, historicamente negadas de privilégio e prestígio, de lugar e reconhecimento, são silenciadas nessa verve por apenas falar e ouvir o que nós queremos.

“- Ué, mas não tem acesso?” Do que adianta acesso a voz sem ninguém está realmente escutando?

Nesse sentido, um pensamento surge: por que não fazemos o exercício de aplicação da empatia? Por que não tomamos esse conceito em sua real aplicação e não apenas como uma dica abstrata em manuais de auto ajuda?

Em uma breve fala, a pesquisadora norte-americana Brene Brown nos ensina sobre empatia, e como ela seria diferente (e mais interessante) do que é simpatia. Simpatia é não conseguir ver a dor do alheia, tentando tornar positivo (e forçar a barra) sobre problemas que nem estamos tentando compreender. Empatia, por outro lado, se refere ao processo de se conectar com o outro, envolvendo basicamente 4 processos de aproximação: (a) entendimento de perspectiva, (b) reconhecimento da perspectiva do outro como verdade, (c) não julga-las, e (d) reconhecer emoção em outras pessoas, comunicando isso.

O que gostaria de propor é que começássemos a (tentar) colocar em prática a empatia como processo real, concreto, de interação com o outro. Nesse processo ouvimos, escutamos para aprender, e sentimos, no máximo, a dor (ou problema) colocado pelo outro. E não julgamos ou (como tem sido frequente nas questões de desigualdade como raça, gênero e sexualidade) contra-atacamos, se dizendo “vítimas de algo contra-que-não-existe”.

Ouvir, escutar. Reconhecer a dor do outro, e a verdade colocada naquela dor, no que outro está sentindo. El@ está falando. Escute. Escute o que @s negr@s estão falando sobre racismo. Escute o que as mulheres estão falando machismo, e o valor do feminismo para lutar contra. Escute o que gays, lésbicas, transexuais e travestis estão falando sobre homofobia e transfobia. Em suma, escute as vozes que, por anos e anos, foram alijadas de representatividade e reconhecimento. São vozes que representam a luta para superação e quebra de privilégios, de desigualdades.

Não é tarefa fácil e muitas vezes é cheia de dores e ouvimos coisas que não gostaríamos de escutar. Empatia é uma escolha de vulnerabilidade. E, nessa escolha, ouvir e entender o lugar do Outro é revolucionário e transformador a partir do momento em que se demonstra ser um caminho viável para quebra de privilégios e silenciamentos, sem “simpatia” ou visão de pena. Simpatia não quebra privilégios, mas sim (consciente ou inconscientemente) os reproduz.

Com a empatia, estabelecemos uma conexão, que vê no outro (uso repetidas vezes esse termo de propósito) alguém a se considerar, escutar e respeitar. No limite, vê nas questões do outro pontos que tangenciam (e acredite: sempre tangencia!) a sua própria vida, sua própria realidade – e de uma maneira que você nunca teria pensado sobre. E talvez, finalmente, possibilita o que todas as pessoas na atualidade sinalizam “querer fazer”: se conectar. Só que de verdade.

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