Pesquisa revela oposição de jornais e revistas contra agenda da população negra

Fonte: Vera Cardozo –

Em artigo na Carta Maior, Venício Lima apresenta resultados de uma pesquisa realizada pelo Observatório Brasileiro de Mídia que revela o posicionamento contrário de grandes revistas e jornais brasileiros em relação aos principais pontos da agenda de interesse da população afrodescendente (ações afirmativas, cotas, Estatuto da Igualdade Racial e demarcação de terras quilombolas). A pesquisa analisou 972 matérias publicadas nos jornais Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo, e 121 nas revistas semanais Veja, Época e Isto É – 1093 matérias, no total – ao longo de oito anos.

 

No período compreendido entre 1º de janeiro de 2001 a 31 de dezembro de 2008, foi acompanhada a agenda da promoção da igualdade racial e das políticas de ações afirmativas em torno dos seguintes temas: cotas nas universidades, quilombolas, ação afirmativa, estatuto da igualdade racial, diversidade racial e religiões de matriz africana.

 

Com graus diferentes, os jornais observados se posicionaram contrariamente aos principais pontos da agenda de interesse da população afrodescendente. A argumentação central dos editoriais é de que esses instrumentos de reparação promovem racismo. Em relação à demarcação das terras quilombolas, os textos opinativos criticaram o Decreto n.º 4.887/2003 que regulamenta a demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos. O argumento principal foi o de que o critério da autodeclaração é falho e traz insegurança à propriedade privada.

 

A cobertura oferecida pelo jornal O Globo merece uma atenção especial no artigo:

 

O jornal dedicou 38 editoriais sobre os vários temas pesquisados, destes 25 ou 65,8% trataram especificamente de “cotas nas universidades”. Os três jornais publicaram 32 editoriais sobre o mesmo assunto. O Globo foi, portanto, responsável por 78% deles. Ainda que os principais argumentos contrários – as cotas e ações afirmativas iriam promover racismo (32%) ou os alunos cotistas iriam baixar o nível dos cursos (16%) – não tenham se confirmado nas instituições que implementaram as cotas, a posição editorial de O Globo não se alterou nos 8 anos pesquisados.


A pesquisa aponta ainda que, embora a maioria dos estudos e pesquisas realizadas por instituições como IBGE, IPEA, SEADE, OIT, UNESCO, ONU, UFRJ, IBOPE e DATAFOLHA, no período analisado, confirmem o acerto das políticas de ação afirmativa, apenas 5,8% dos textos publicados nos jornais noticiaram e debateram os dados revelados.

Matéria original

+ sobre o tema

Para especialistas, mídia estimula e deve responder por ações de justiceiros

Sociólogo Lalo Leal argumenta que a excessiva repetição "dessas...

Juízes premiam jornalistas comprometidos com direitos humanos

Com o objetivo de valorizar as ações e atividades...

A telenovela vai às urnas

Por Muniz Sodré Diz-me um tanto surpresa uma jovem repórter...

para lembrar

Escola de Frankfurt: Crítica à sociedade de comunicação de massa

por José Renato Salatiel Qual é a influência de meios de...

A mulher negra no cinema brasileiro: uma análise de Filhas do Vento

RESUMO  O artigo apresenta uma reflexão sobre a mulher negra...

Duvivier: “O humor da TV aberta bate nas mesmas pessoas que a polícia”

Ao participar do “Emergências”, no Rio de Janeiro, o...

Conferência Nacional de Comunicação: os caminhos até dezembro

Vencida a etapa de convocação da 1ª Conferência Nacional...
spot_imgspot_img

Portal Geledés recebe prêmio como imprensa negra brasileira

O que faz uma organização ser reconhecida como um canal de comunicação de destaque? Esta questão tem ocupado o pensamento da equipe do Portal...

Seletividade política apagou existência de afro-gaúchos e indígenas no RS

O dia 20 de setembro é a data mais importante do calendário cívico sul-rio-grandense. Ela faz alusão ao início da guerra civil que assolou...

Mvúka: Futuros Diversos através das vivências Negras

A ideia de uma realidade diversa de futuro para o povo negro brasileiro, se constrói a partir da interpretação crítica do passado e das...
-+=