É do conhecimento geral que a influência africana em nossa cultura remonta aos primeiros séculos da colonização, abrangendo toda a nossa história, sendo, portanto, base de nossa formação. Os africanos, na condição de escravos, trouxeram para o Brasil sua cultura, tendo suas elaborações da vivência com as outras culturas dado à nossa sociedade sua identidade. Santos (2001), muito apropriadamente, afirma que na cidade de Salvador, essa população preservou grande parte de suas culturas de origem, em diferentes graus de aculturação, dependendo da maior ou menor retenção dos modelos e raízes africanas e das circunstâncias sócio-históricas das diversas regiões onde se estabeleceram os vários grupos étnicos.
Embora nascida a partir de uma funda raiz africana, a arte afrobrasileira teve um longo percurso de séculos, que lhe possibilitou não só uma visível autonomia, mas também uma criatividade própria. Ela percorreu uma trajetória de trocas, sobretudo com os europeus, no seio de um mundo escravocrata e católico que lhe acarretou perdas e ganhos, continuidade e mudança, sem, contudo, ter havido uma ruptura. Essa arte permaneceu realimentada pela seiva africana que lhe inspira uma visão de mundo herdada do continente negro, mas sujeita a uma dinâmica proveniente da evolução da sociedade brasileira. Participou de tal modo na construção e desenvolvimento dessa sociedade que, pioneiramente, Gilberto Freyre considerou o negro como “um co-colonizador, apesar da sua condição de escravo”.
Após a Abolição, ele continuou sofrendo uma enredada, mas pertinaz, discriminação étnica. Tratar da importância e valorização da cultura negra dentro da escola através de oficinas é criar espaços para manifestações artísticas que proporcionem reflexão crítica da realidade e afirmação positiva dos valores culturais negros pertencentes à nossa sociedade; é criar possibilidades de se valorizar esta cultura e reconhecer que a sociedade brasileira tem seu pilar de formação nesta cultura. Admite-se, a partir daí, a arte afrobrasileira como legitimamente brasileira.
Pesquisas mostram a defasagem do ensino de história e cultura afrobrasileira nas escolas, seja pela má formação do professorado, que reproduz os preconceitos que deveria ajudar a desconstruir, seja pelo conservadorismo do sistema educacional, que privilegia conteúdos quase sempre alheios ao universo social de seu público e que se mostra pouco sensível às necessidades de transformação de uma sociedade tão desigual como a brasileira.
Por ocasião das diversas dificuldades que se encontram no ambiente escolar, torna-se importante a implementação de projetos de oficinas de artes afrobrasileiras por profissionais mais capacitados, para que o conjunto social do ambiente escolar – alunos, professores, diretores etc. – percebam o quanto é possível desconstruir estereótipos e preconceitos através de ações pedagógicas, contribuindo, dentre outras coisas, para a construção de uma identidade positiva entre os alunos afrodescendentes, pautando-se na valorização de sua cultura, de sua história, elevando sua autoestima, fazendo-os perceber seu papel e de seus ancestrais enquanto sujeitos de sua própria história.