População Negra

Por Junia Pulia,

Vice-diretora do Unifem Brasil

O texto foi apresentado em 11 de novembro de 2009, durante o lançamento a Campanha “Igual a Você” lançada pela ONU.

 

 

Está se aproximando um feriado muito importante. O Dia Nacional da Consciência Negra, que passamos a celebrar há poucos anos, vem ganhando reconhecimento e relevância no calendário brasileiro. Depois de séculos de cegueira – quase sempre intencional – a sociedade brasileira está sendo obrigada a se ver como realmente é: uma grande mistura, uma panela mágica de cores e texturas, como não se vê em nenhum outro lugar.

Zumbi finalmente começa a figurar no lugar que tem e merece. Um herói imolado por se atrever a desafiar uma colônia que se consolidou e prosperou sobre o extermínio dos índios e o trabalho dos escravos africanos, mas que até há pouco se cria e via branca e européia. Mas sinto falta de uma heroína negra, como Teresa de Benguela, por exemplo, cujo nome e biografia estejam incorporados ao panteão de heróis facilmente reconhecidos e mencionados.
Acreditar que os prejuízos impostos pela discriminação recaem apenas sobre a população negra é uma crença no mínimo ingênua. A mim me soa cínica. O país perdeu e continua perdendo, e muito. Enquanto hesitamos em encarar a diversidade étnica como uma vantagem, como um tesouro brasileiro, estamos desperdiçando a inteligência, o conhecimento, a experiência e os talentos de muitos dos nossos negros e negras. Ao mesmo tempo, supervalorizamos, desde o berço, os talentos e capacidades dos grupos social e economicamente privilegiados. Uma estupidez, sob qualquer ponto de vista, para um país que aspira a um lugar de destaque entre os grandes do mundo.

Com isto quero dizer que os esforços que vêm sendo feitos para superar a discriminação e a desigualdade não são frutos da generosidade ou da benevolência de ninguém. São, antes de mais nada, fruto de muita dor e muita luta. E não custa lembrar que a igualdade de oportunidades e direitos é uma questão de justiça social e tem como meta principal o bem do país e sua população como um todo.

Nada que se obtenha em uma ou duas gerações, mas é imprescindível avançar sempre. E a ONU, freqüentemente criticada por sua atuação nos temas de maior destaque no cenário internacional, tem desempenhado um papel essencial no apoio ao Estado brasileiro e às organizações da sociedade civil que lutam pelo fim da discriminação racial em nosso país. É um trabalho de formiguinha, mas que está avançando. Com a inteligência, a garra e a determinação de todos os envolvidos, já é um caminho sem volta.

Nascemos iguais, e nossas leis o dizem. Falta sermos iguais na vida.

+ sobre o tema

NOTA PÚBLICA | Em repúdio ao PL 1904/24, ao equiparar aborto a homicídio

A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo...

Neto de Jango é médico da família na Rocinha

João Marcelo Goulart nasceu no mesmo dia que o...

Orientação sexual não é mais critério para doação de sangue

A orientação sexual deixou de ser um dos critérios...

Índios protestam no Palácio do Planalto

  Cerca de 300 de índios protestaram em frente à...

para lembrar

Anatel proíbe venda de chips da Oi, Tim e Claro

Medida foi motivada pelo crescente número de queixas dos...

Sou um juiz da execução penal na era do ódio

Tenho refletido com mais frequência sobre meu trabalho neste...

Direitos humanos e a atividade policial

Por Direitos Humanos ou direitos do homem devemos entender...

Relatório sobre pobreza e desigualdade foi divulgado

    Na terça-feira, o Rimisp (Centro Latino-americano para o Desenvolvimento...
spot_imgspot_img

Em paralelo à CSW, organizações promovem debate sobre como avançar nas políticas de raça e gênero no mundo

Em paralelo à 69ª Comissão sobre a Situação da Mulher (CSW69), Geledés-Instituto da Mulher Negra e a ONG Akina Mama wa Afrika (AMwA) promoveram...

Lançamento do livro “Combate ao Racismo no Mercado de Trabalho” reforça a luta por igualdade e inclusão

Na próxima quinta-feira, 20 de março, será lançado o livro "Combate ao Racismo no Mercado de Trabalho", no Sindicato dos Químicos de São Paulo....

ONU acolhe propostas de Geledés em registro oficial da 69ª CSW

Nesta segunda-feira, 10 de março, ocorreu a abertura da 69ª Sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher, na sede da Organização das Nações...
-+=