Professor do ano criou ‘paraíso do ensino’ em escola americana

Para o melhor professor dos Estados Unidos, inspirar os alunos a valorizar seus pontos fortes é o principal desafio de um educador

Jeff Charbonneau recebeu homenagem do presidente americano Barack Obama na semana passada
Foto: AP

Aos 35 anos, a vida de Jeff Charbonneau, da Zillah High School, em Washington, mudou completamente em poucos dias. Desde que foi eleito professor do ano nos Estados Unidos, na semana passada, ele já participou de um programa nacional de televisão, foi notícia em diferentes veículos, conheceu Jill Biden – educadora e mulher do vice-presidente americano, Joe Biden -, e conversou com Barack Obama no Salão Oval da Casa Branca. O docente foi recebido pelo presidente durante uma cerimônia no dia 23 de abril. “Minha vida tem sido nada menos do que surreal nos últimos tempos”, afirma o educador, que transformou as aulas de ciências em um “paraíso do ensino”.

O programa The National Teacher of the Year (NTOY) homenageia docentes de escolas públicas dos Estados Unidos desde 1952, e a cada mês de abril o escolhido é reconhecido e apresentado pelo presidente do país. Os candidatos vêm da etapa estadual da premiação, que seleciona professores sob a condição de que sejam dedicados, inspirem estudantes a aprender, tenham o respeito e admiração de alunos, pais e colegas, desempenhem um papel ativo e útil para a comunidade e para a escola e que, sobretudo, sejam articulados. Para Charbonneau, a premiação é um reconhecimento do papel do professor na sociedade. “A educação realmente é a profissão que aponta para o futuro, e programas como este reconhecem e valorizam a importância disso”, opina.

Agora, Charbonneau retorna para a sala de aula para completar o ano escolar. No meio de junho, começam os deveres do professor do ano, e ele vai viajar pelos Estados Unidos e pelo mundo com a missão de compartilhar o conhecimento e as estratégias de ensino que adquiriu em 12 anos de docência. “Além disso, também vou aprender com educadores de diferentes realidades a ser melhor no que faço”, complementa. O campeão disputou o prêmio com outros três docentes, entre eles o brasileiro Alexandre Lopes, que dá aulas para a educação infantil.

O americano se formou na Zillah High School em 1996 e retornou em 2001 como professor de biologia e ciências gerais. Hoje, leciona química, física, engenharia e arquitetura a turmas da high school (que equivalem ao ensino médio brasileiro) e usa métodos de incentivo e inovação para conquistar os estudantes. “Eu acredito firmemente que não há nada em nossas vidas que não possamos alcançar. Infelizmente, nem todos têm essa crença em si mesmos, e é por isso que eu ensino”, afirma, ao destacar que quer garantir que os estudantes percebam seu potencial ilimitado. Para o professor, inspirar é simplesmente reconhecer os pontos fortes de alguém, e por essa razão ele procura sempre o melhor em cada aluno.

Paraíso

Ao passarem por Charbonneau nos corredores da escola, não é incomum que os alunos o parem para perguntar: “Hoje é outro dia no paraíso, professor?”. Os estudantes, mesmo aqueles que não passaram pelas turmas do docente, se referem à frase usada por ele ao receber os alunos diariamente: “sejam bem-vindos ao paraíso”. Esse conceito, além de uma boa recepção, virou uma filosofia e um mantra para ele.

Charbonneau desenvolve seu “paraíso” por meio de seis estratégias e ideologias para ser um bom professor. A primeira delas – “hoje é o dia mais importante para cada um dos estudantes” – é o que incentiva o americano a ser o melhor que pode constantemente. Para ele, um bom professor deve ser bom todos os dias.

A segunda estratégia se baseia no pressuposto de que ótimos professores não admitem fracassos, e o americano se recusa a ouvir as palavras “não consigo” de um estudante. Quando identifica dificuldades, vai a fundo para ajudar na superação. Ele também acredita que um bom professor cria uma cultura de ambição liderada por exemplos – e esse é seu terceiro mandamento.

Além disso, para Charbonneau, o docente deve ajudar todos os estudantes, não só os de sua turma e que, conforme indica sua quinta estratégia, bons profissionais devem ser parte da solução. “A instituição em que leciono, como a maior parte das escolas, tem recursos limitados. Em vez de apenas lamentar, eu me empenho em levantar fundos”, relata.

Por último, ele aponta que ótimos professores auxiliam seus pares a se tornarem melhores – desde 2004, ele participa de cursos de certificação profissional online como membro adjunto do corpo docente da Central Washington University. “Seguindo estas seis estratégias eu ajudei a criar um paraíso de ensino que promove a autoconfiança, o sucesso escolar, a colaboração e a dedicação”, afirma.

Uma das inovações educacionais que tornaram Charbonneau professor do ano foi fazer com que robôs fizessem parte do aprendizado em sala de aula. Em 2007, ele começou a trabalhar com um grupo de pais voluntários que deram origem ao Zillah Science Boosters (Impulsionadores da Ciência de Zillah, em traduçãoo livre), o que, no ano seguinte, deu início ao Desafio de Robôs de Zillah, competição aberta à participação de diferentes instituições e que ocorre duas vezes por ano. O grupo levantou fundos e conseguiu financiar a compra de cem kits de robôs Boe-Bot.

Na carta escrita para indicar Charbonneau ao NTOY, o diretor da Zillah High School, Mike Torres, exalta a iniciativa do professor. “Antes de Jeff, não tínhamos cursos de tecnologia na escola, e os alunos tinham de sair daqui para aprender sobre essa área”, afirma. Orientador da escola, John Griffin também escreveu elogios ao americano. “A instrução entusiasmada, inovadora e tecnológica de Jeff aumentou o interesse pela ciência em nossa escola e na comunidade”, comemora.

Extraclasse

Além de inovar em sala de aula, Charbonneau também dedica parte do tempo a atividades extracurriculares e defende que atuar como orientador ou treinador é essencial para se aproximar dos estudantes. “O relacionamento com os alunos vem antes de tudo, o conteúdo é secundário. Para ensinar efetivamente, você precisa compreender suas origens, culturas, habilidades, seus pontos fortes e fracos”, teoriza.

Vocação

A história, no entanto, poderia ter sido diferente. Ao ingressar na Central Washington University, Charbonneau chegou a pensar em se tornar médico. Durante o segundo ano, no entanto, se tornou voluntário em um programa na Ellensburg High School, no qual atuou como tutor em biologia. “Eu logo fiquei ‘viciado’ em ensinar. Passava mais tempo ansioso para encontrar os estudantes do que para qualquer outra tarefa”, conta. Durante o curso na universidade, escolheu mudar de área – e nunca se arrependeu da decisão.

 

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Fonte: Terra

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