Relações de confiança e pensamento em rede podem promover uma escola mais ética

Preconceito de gênero, de orientação sexual ou racial; instituições sob questionamento. Manifestações contra a homofobia, o machismo e o racismo. A sociedade vive entre dois edifícios: um que está ruindo e outro que se constrói. Nesse contexto, a importância de uma escola ética, que eduque o pensamento dos alunos, é notável e pode ser alcançada através de relações positivas entre os diversos atores da comunidade escolar. As considerações foram feitas pelas filósofas Viviane Mosé e Lia Diskin durante o debate “Ética, ensina-se na escola?”, nesta sexta-feira, no Educação 360.

Do Extra 

Educação 360: Viviane Mosé, Lia Diskin e o diretor de redação do Extra, Octávio Guedes, que mediou o debate Foto: Adriana Lorete / Agência O Globo

O ponto de partida rumo a uma escola mais ética, de acordo com as especialistas, passa necessariamente por estabelecer laços de confiança entre os membros da comunidade escolar que possibilitem a participação de todos nos processos de decisão da escola. Ou seja, uma escola mais ética precisa saber escutar.

– O pensamento precisa ser educado, isso é fundamental. Quando falamos de ética, falamos sobre um debate com liberdade. Podemos ter posicionamentos diferentes. Vejo que uma escola para ser ética precisa criar uma relação de confiança entre seus atores. É uma instituição em que gestores, professores, alunos e funcionários conversam sobre o tipo de pessoas que querem formar – afirmou Viviane Mosé.

No decorrer da História, a sociedade ultrapassou eras fundamentadas na moral, no conhecimento e hoje, segundo as filósofas, parte para um futuro no qual a ética passa a ser o eixo central. Em um cenário como esse, o caos dos dias atuais, com embates frequentes entre forças ideológicas diversas, é também um sinal da mudança.

Para facilitar o caminho em direção a esse futuro, Mosé e Diskin defenderam o papel da escola como fundamental para ensinar os alunos a pensarem de forma diferente, uma vez que cada estudante traz concepções formuladas a partir do que viveu.

– Somos 100% biológicos e 100% culturais. Precisamos de outros humanos para construir nosso modo de ser e estar em outro mundo. Os preconceitos se repetem e se perpetuam, constituindo controles dramáticos. O pensamento se nutre da mesma maneira que nossos corpos. Se a gente tem uma alimentação saudável, nosso corpo provavelmente será saudável. O mesmo acontece com os pensamentos – argumentou Lia Diskin, coordenadora do Comitê para a Década da Cultura de Paz, uma parceria entre a Associação Palas Athena e a Unesco. – Temos que colocar máximo esforço quando retornarmos às escolas. Os conteúdos hoje estão disponíveis na internet, em outras vias, mas educar o pensamento não.

As pensadoras afirmaram ainda que a sociedade precisa compreender que o pensamento linear – no qual só existe o bem e o mal, o bonito e o feio – não tem mais espaço no mundo contemporâneo. Para elas, viabilizar uma sociedade mais ética – e também uma escola com esses parâmetros – significa admitir que o pensamento e as relações atuais são construídas em rede, contemplando diversas possibilidades e sutilezas que não eram observadas anteriormente.

– Não dá mais para decidir coisas para todos como decidíamos. Antes, tínhamos uma sociedade onde os lugares estavam definidos. O que temos hoje é um mundo cuja estrutura se arrebentou. Temos uma sociedade em desintegração. E é ela que necessariamente deve caminhar para algo mais mais amplo, com a valorização da diferença. As pessoas se sentem agora com liberdade para dizer “eu não me enquadro”. Isso é valorização da diferença. Estamos saindo de um tipo de humano que trabalhava com raciocínio linear, mas o cidadão ainda é ensinado a pensar assim, embora esteja em uma sociedade em rede – disse Mosé.

O Educação 360 é uma realização dos jornais O GLOBO e “Extra”, com parceria do Sesc. O evento tem o patrocínio da Fundação Telefônica, do colégio pH e Fundação Itaú Social, e conta ainda com o apoio de Unesco, Unicef e Governo do Estado do Ceará. O encontro também é uma parceria de mídia da TV Globo, Canal Futura, revista Crescer, revista Galileu e TechTudo.

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