O enredo “GÈLÈDÉS- Agbara Obinrin”, uma homenagem da Mocidade Unida da Mooca (MUM) à Geledés – Instituto da Mulher Negra, foi oficialmente lançado na quadra da agremiação. A escola de samba paulista escolheu o poder do feminino negro como tema para a sua estreia no Grupo Especial de São Paulo no Carnaval 2026.
O evento aconteceu no dia 7 de junho na quadra da MUM. A roda de samba daquele sábado foi conduzida pelo grupo carioca Moça Prosa. O ápice foi a apresentação do samba-enredo. Abriu-se espaço para as baianas, passistas e parte da bateria. As mulheres de Geledés tiveram a oportunidade de sentir o impacto da mensagem na voz da intérprete Ste Oliveira, acompanhada por Emerson Dias e Gui Cruz.
“Por um lado, senti euforia e orgulho. Por outro, fiquei assustada de pensar que aquele dia na MUM era um microcosmo do que nos espera no Carnaval. Fiquei imaginando os quase 3 mil componentes da escola, mais o público do sambódromo, cantando que Geledés é libertação. Pensei no impacto disso em tantas mulheres e crianças negras. É uma responsabilidade gigante!”, afirmou Nilza Iraci, Coordenadora de Formação, Cuidado e Emancipação de Geledés.
Nilza se referiu a um dos trechos da música que diz: “Quero ver…casa-grande vai tremer / No meu Quilombo é noite de Xirê! / A Mooca faz revolução / É Guèledés: a libertação!”.A composição é de Lucas Donato, Gui Cruz, Aquiles da Vila, Fabiano Sorriso, Marcos Vinicius, Vitor Gabriel, Biel, Mateus Pranto e Willian Tadeu.
Outras duas homenageadas estavam presentes: Rosana Paulino, artista multimídia e curadora, e Leci Brandão, cantora, compositora e deputada estadual. Ambas têm uma trajetória de destaque em suas áreas de atuação, priorizando a população negra brasileira.
“Sempre digo que meu letramento racial começou na década de 1980, quando a Mocidade Alegre apresentou três enredos de Thereza Santos [atriz, teatróloga, pesquisadora, professora, publicitária e ativista] sobre a questão negra. Eu tinha cerca de doze anos e aquilo foi essencial para que eu começasse a pensar sobre o que é ser uma pessoa negra no Brasil”, contou Rosana.
Para Maria Sylvia, advogada e diretora executiva de Geledés, a emoção que sentiu no dia 7 de junho só será superada pelo próprio desfile, em 2026. “Ouvir o samba-enredo pela primeira vez ecoando em alto e bom som, com cada verso reverenciando a luta e a potência das mulheres negras, foi como sentir o coração pulsar junto com o tambor da resistência”, disse. Para ela, ter um enredo focado na contribuição histórica do Movimento de Mulheres Negras representa um ato de reconhecimento e justiça.
“É muito importante contar a história de Geledés para a sociedade brasileira, que precisa olhar com mais atenção para as mulheres negras, como protagonistas da transformação social. Que essa homenagem inspire mais escutas, mais diálogos e mais respeito às nossas histórias. Obrigada, Mocidade Unida da Mooca, por fazer da arte um instrumento de memória, resistência e futuro”, afirmou.
O carnavalesco Renan Ribeiro e a enredista Thayssa Menezes, estão construindo a narrativa da história a partir dos ensinamentos de várias intelectuais negras, como Sueli Carneiro, Lélia Gonzalez, Laudelina de Campos Melo, Beatriz Nascimento e Conceição Evaristo.
Fotos: Isabela Gaidis/Geledés
Confira o samba-enredo completo:
GÈLÈDÉS- Agbara Obinrin
Odudua Ayê Ô! Ayê Ayê!
Alábàṣẹ Omo
Silêncio!
Nesta noite de Efé
Incorporo meu axé
No Itã da criação
Ao sagrado feminino
Ofereço meu destino
Num ritual de devoção
É grandioso o poder das Yamis
Um oriki é acalanto às Yabás
Ê Kalunga, Okan mergulhou, saudade!
Consagro meu ori às ancestrais
Odociá! Yemanjá Odò!
A mãe de todas tem a nossa cor
Oromimá, Oraieieô, Oraieieô Oxum
Deusa do ouro, um tesouro do Orun!
Cada preta que passa por mim
Refaz o caminho de tantas Iyás
Faz levante, coletivo, irmandade
Ostenta o guelé por igualdade
Resiste na pele do tambor, encara o opressor
Guerreira, guardiã: Vem ser mais uma, mulher
A voz que espalha o bem
Ninguém solta a mão de ninguém
Na caminhada por um novo amanhã!
Quero ver, Casa-Grande vai tremer
No meu Quilombo é noite de Xirê!
A Mooca faz revolução
É Guèledés: A libertação!