“Se é negro…Tem que me servir?”: Mulheres dão a melhor resposta ao racismo em shopping de SP

Ao vivenciarem mais uma situação de racismo, quatro mulheres negras de São Paulo não tiveram dúvidas: gravaram um vídeo e deram uma resposta lacradoraao caso. A gravação, que foi compartilhada no Facebook neste sábado. 
Heloisa Aun Com a colaboração de Solange Reis no Catraca Livre

No vídeo, intitulado “Se é negro…Tem que me servir?“, as amigas Beatrice Oliveira, Stella Yeshua, Samantha Cristina e Carol Silvano relatam que estavam no shopping Pátio Paulista, Bela Vista, na última sexta-feira, 5, quando ocorreu o caso.

Em entrevista exclusiva ao Catraca Livre, a especialista em marketing Stella, de 30 anos, contou que, em certo momento, saiu correndo para ajudar uma senhora que havia tropeçado e derrubado a bandeja de comida na praça de alimentação do local.

“Senhora, está tudo bem? Machucou?”, perguntou Stella, segurando a bandeja. E a mulher respondeu: “Tudo bem, mas está sujo ali. Você precisa limpar”. Ao ouvir a frase, ela retrucou: “Senhora, eu não trabalho aqui. Estou aqui para te ajudar”.

 

Após um pedido de desculpas envergonhado, a especialista em marketing finalizou com a frase “já estamos acostumadas”, e foi embora. Em seguida, relatou o que aconteceu às três amigas e, juntas, resolveram ir até o banheiro do shopping para gravar o vídeo. Assista:

A respeito da atitude da senhora, Beatrice e Stella afirmam que é algo comum e revela o quanto o racismo é naturalizado na sociedade. “Ninguém nos confunde com juízas ou médicas. No imaginário das pessoas, um negro pode estar apenas na condição de faxineiro. Alguém que está lá para servi-las”, ressalta Beatrice, de 37 anos.

De acordo com Stella, a ideia de gravar o vídeo surgiu porque, naquele mesmo dia, seu irmão também foi vítima de racismo em outro shopping da capital paulista. Para apoiá-lo, ela o levou para o Pátio Paulista, junto de suas amigas. O grupo não denunciou o caso para o local ou para a polícia.

Racismo

Beatrice e Stella contam que esse tipo de situação é completamente rotineiro para elas. “Como acontece tanto, não temos mais lágrimas para chorar. Por isso, resolvemos tratar o fato com humor”, afirmam.

“A primeira cena de racismo que eu tenho lembrança ocorreu nesse mesmo shopping (Pátio Paulista), quando eu tinha 7 anos. Estava com minha mãe e minhas primas e pedi para ver a vitrine de uma loja. Então, o segurança veio e apenas disse: ‘Sai’. Fui embora arrasada”, lembra Stella. Já Beatrice relata que chegou a processar uma loja após ser acusada de roubo. “Essas coisas ficam guardadas dentro de nós”, diz.

Desde que o vídeo foi publicado, as quatro mulheres têm recebido muitas mensagens de apoio e também de ódio. “Estamos acompanhando tudo e respondendo o maior número de pessoas, menos os ‘haters'”.

Por causa do sucesso, o grupo lançou um canal no YouTube, chamado “Estaremos lá“, no qual pretendem lançar outros vídeos sobre temas variados. “Queremos abranger todo mundo nesse canal. O nosso foco é voltar os vídeos para humor. É o jeito que levamos as situações”, finalizam.

+ sobre o tema

Caso Kathlen e a produção de mortes pelas polícias brasileiras

Ainda que Kathlen de Oliveira Romeu, 24 anos, e...

Mortes de negros pela polícia brasileira aumentam; de brancos caem, diz ONU

A ONU denuncia a disparidade de tratamento da polícia...

Oito corpos são encontrados em Belford Roxo, Baixada Fluminense

Os corpos de oito homens foram encontrados em Belford...

para lembrar

Cresce número de mulheres chefes de família e de jovens negros universitários

Dados da SIS 2015 (Síntese de Indicadores Sociais), pesquisa...

Relator vota a favor das cotas raciais na UnB e sessão do Supremo é suspensa

Por: Daniella Jinkings Brasília - O ministro do...

Gloria Maria recebe crítica, e acusa internauta de racismo

"Querida, você tomou susto por quê? Nunca viu uma...
spot_imgspot_img

Réus são condenados pela morte do congolês Moïse Kabagambe

O I Tribunal do Júri da Capital condenou, na noite desta sexta-feira, os dois réus pela morte do congolês Moïse Kabagambe, em 24 de...

A segunda morte de George Floyd: governo dos EUA pode perdoar seu assassino

No seu discurso de posse na Casa Branca, o presidente Donald Trump citou o reverendo Martin Luther King Junior para definir a sua ideia de Estado democrático de...

Mortes por policiais crescem 61% em SP em 2024, mas PM faz menos apurações

Mesmo diante do aumento das mortes durante ocorrências policiais, a Polícia Militar de São Paulo registrou queda em todos os índices de investigação interna (procedimentos...
-+=