Servidor público de Roraima supera câncer de mama e alerta homens

Lenival dos Santos foi diagnosticado com a doença em outubro de 2014.
Médico diz que doença é rara em homens; “um em cada 100 casos”.

Por Inaê Brandão, do G1

Em outubro de 2014, Lenival dos Santos recebeu uma notícia que mudaria sua vida. Aos 48 anos, o baiano residente em Roraima foi diagnosticado com câncer de mama. Apesar da ‘sentença’, o servidor público manteve a tranquilidade durante o tratamento e hoje, um ano após o início, já voltou à vida normal. “Não me abalei com a doença”, disse.

Os casos de câncer de mama entre homens são raros. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), eles representam apenas 1% do total de casos.

O servidor conta que descobriu a doença de forma inusitada. “Minha esposa estava sentindo dores na axila e fomos ao mastologista fazer exames para verificar o que era. A consulta foi muito esclarecedora e o médico explicou bastante [sobre a doença]”.

Cerca de uma semana depois, ao tomar banho, Leno, como é conhecido, notou um nódulo no mamilo direito. “Eu tenho o hábito de tirar a água do corpo antes de pegar a toalha, nisso o dedo polegar tocou no bico do meu peito e eu senti uma coisa diferente”.

O casal voltou ao médico e foi constatado que se tratava de um nódulo. Leno passou então a fazer os exames para o diagnóstico.

O tratamento
Após a confirmação da doença através da biopsia, Lenival resolveu que iria fazer parte do tratamento na Bahia e parte em Roraima, apesar da contraindicação dos médicos.

“O médico me explicou que não era recomendado fazer a cirurgia em um local e a quimioterapia em outro, por exemplo. Tudo deveria ser feito pelo mesmo médico, mas eu falei para ele que estar com a família fazia parte do tratamento”, lembrou Leno.

Leno fez quimioterapia em Roraima, mas família reclamou da falta de radioterapia no estado (Foto: Arquivo Pessoal/Lenival dos Santos)
Leno fez quimioterapia em Roraima,
mas família reclamou da falta de
radioterapia no estado (Foto: Arquivo
Pessoal/Lenival dos Santos)

Menos de um mês após o diagnóstico, o servidor fez a cirurgia para a retirada da mama direita e de alguns linfonodos da axila. Para complementar o tratamento, foram realizadas 16 sessões de quimioterapia e 28 sessões de rádio.

Apesar dos cuidados e acompanhamentos que deverão ser feitos, o tratamento de Leno foi considerado um sucesso.

“O olhar dele me acalmou”, disse filho
Ao G1, Lenival afirmou que apesar de não ter se abalado ao ser diagnosticado com câncer, ter que ficar longe da família durante o tratamento foi difícil.

A esposa de Leno, Rosana dos Santos, 47, e os dois filhos do casal, Gabriela e Manoel Ferraz, afirmaram que a postura do servidor durante todo o tratamento foi o diferencial para enfrentar a situação com mais facilidade. “O que mais me tranquilizou foi a naturalidade do papai. O olhar dele me acalmou”, disse Manoel, de 13 anos.

“Quando Leno contou sobre a doença para Manoel e Gabi, eles começaram a chorar. Então, ele disse para nossos filhos: ‘pensa em quantos pais desencarnam de forma rápida e não têm nem tempo para uma conversa, uma última palavra com os filhos. Nós temos essa chance”, lembrou Rosana, que é espírita.

Falta radioterapia em Roraima
Uma das coisas que mais dificultou o tratamento de Leno foi a ausência de um centro de radioterapia em Roraima, conforme relatou a família dele.

Através de uma nota, o governo de Roraima informou que há um projeto do Ministério da Saúde para implantação do serviço de radioterapia em Roraima, mas que os pacientes não ficam desassistidos, pois o serviço é disponibilizado na rede pública de saúde por meio de Tratamento Fora de Domicílio (TFD).

Também por nota, o Ministério da Saúde informou que Roraima vai receber um equipamento de acelerador linear, usado para a radioterapia.  No estado, o hospital que receberá o equipamento será o Hospital Geral de Roraima (HGR).

Na foto, Leno aparece com a esposa e os filhos; a foto foi tirada no dia que Rosa e Lenival chegaram da Bahia após a cirurgia em que ele retirou a mama (Foto: Arquivo Pessoal/Lenival dos Santos)
Na foto, Leno aparece com a esposa e os filhos; a foto foi tirada no dia que Rosa e Lenival chegaram da Bahia após a cirurgia em que ele retirou a mama (Foto: Arquivo Pessoal/Lenival dos Santos)

Casos são raros, diz mastologista
O oncologista e mastologista Leonardo Pires afirmou que os casos de câncer de mama em homens são pouco comuns. “Para cada cem casos envolvendo mulheres, existe um em homem. Em Roraima, a gente vê um caso a cada dois anos”.

Segundo o oncologista, apesar de raro, o câncer é relevante e pode levar à morte. “A doença é extremamente agressiva. Normalmente, no homem ele é descoberto em uma fase mais tardia, principalmente em razão da falta de cuidado com a mama”, afirmou Leonardo.

Em 12 anos de experiência, o médico já atendeu cinco casos de homens com câncer de mama. Destes, três morreram. “Eu atribuo isso principalmente à fase avançada com que a doença foi descoberta”.

O médico destacou que não existe uma forma para prevenir o câncer de mama. O que se deve fazer é o diagnóstico na fase mais inicial possível.

“Não é necessário que ele faça o exame do toque, mas a gente recomenda que ele conheça o próprio corpo e fique atento para qualquer alteração. Isso é percebido facilmente, pois a mama masculina normalmente é pequena”, orientou o médico.

Conscientização
Sobre a campanha que conscientiza e informa a respeito do câncer de mama, Rosana, a esposa de Leno, finalizou com uma consideração. “Homem também pode ter câncer de mama. É uma possibilidade rara, mas existe. Que tal, então, pensarmos em um outubro rosa azulado?”.

Foto de Capa: Inaê Brandão/G1 RR

 

 

+ sobre o tema

Metade dos brasileiros já sofreu assédio no trabalho, aponta pesquisa

Mariana teve um fax esfregado em seu rosto pela...

Glória Maria morre vítima de metástases do câncer no cérebro; entenda o quadro

A consagrada jornalista brasileira Glória Maria, que participou dos...

Doença falciforme é tema de audiência que o Senado realiza nesta manhã

Acontece neste momento, na sala 9 da Ala Alexandre...

para lembrar

Bullying no trabalho é comum, mas vítima nem sempre percebe

Michelle Achkar Pedir projetos ou relatórios em...

Cor da pele tem influência na profissão, aponta IBGE

Pesquisa inédita realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e...

As vítimas eleitas

Em julho de 1993 fui entrevistado pela Revista Pixote...

No Pará, dois mil indígenas cobram direito de usar nome étnico

Projeto do núcleo de direitos humanos do Pará garante...
spot_imgspot_img

Na ONU, Geledés promove espaço estratégico para a construção coletiva de justiça reparatória

A 4ª Sessão do Fórum Permanente para Pessoas Afrodescendentes, realizada na sede da ONU em Nova York, entre os dias 14 a 17 de...

Mais de 335 mil pessoas vivem em situação de rua no Brasil

O número de pessoas vivendo em situação de rua em todo o Brasil registradas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) do governo federal,...

Geledés participou do Fórum dos Países da América Latina e Caribe

A urgência da justiça racial como elemento central da Agenda 2030 e do Pacto para o Futuro, em um ano especialmente estratégico para a...
-+=