Por Seu Jorge na RollingStones
“Quando eu ouvi a música ‘Lábios de Mel’, que é lindíssima, ainda era garoto. Foi na década de 70, início da década de 80. O impacto foi muito forte, porque era uma música negra, brasileira, extremamente forte e importante. Foi muito bonito para mim. Enquanto Michael Jackson era uma referência, um artista como Tim Maia compunha música negra e chamava atenção, se destacando no Brasil. Por isso, ele teve muita importância, principalmente para a música negra brasileira, a música soul. Muitos artistas, talvez antes dele ou no mesmo período, batalharam para fazer essa música acontecer e ele conseguiu trazê-la para o Brasil e dar autoria a ela. Ou seja, deu a cara brasileira a esse ritmo universal.
O timbre de Tim Maia era muito particular e muito pessoal. De grande extensão, ia do grave ao agudo e era marcante, com o sotaque da música brasileira. Você percebe samba, jovem guarda, forró, tudo fundido dentro dessa particularidade de black music. Ao mesmo tempo em que cantava e interpretava as canções, ele não deixava de se comunicar com o público nem de fazer com que as pessoas cantassem com ele. Sempre pedia também para as pessoas dançarem. Ou seja, foi um cara que imprimiu muito comportamento para o público.
Tim Maia tocava muito bem percussão. Eu me sinto influenciado por ele não só como cantor mas no front line e, principalmente, no compromisso com o bom som. A fidelidade do som que vai para as pessoas e que vem para ele também cantar mais bonito. Eu gravei ‘Cristina’ e cantei várias músicas dele no especial Som Brasil, na TV Globo. Entre as músicas que mais gosto, estão todas no Tim Maia Racional, que considero um dos melhores discos da música de brasileira. Ele escolhe um único tema para falar no disco e, ao mesmo tempo, consegue diversificar demais, com uma mesma formação muito exclusiva. Ele grava um disco inteiro assim e cada música tem uma particularidade, mesmo que discutindo o mesmo tema.
Acho que talvez poucas pessoas saibam, mas Tim Maia era apontado como um cara muito preocupado com o futuro das crianças. No fim da vida, fez o bem para muitas delas. Ele foi, acima de tudo, uma pessoa que não se escondia da vida e das adversidades. Não omitiu polêmicas. Viveu intensamente. Dessa intensidade, fez muita música boa e muito show bom. Agora acho que tudo é uma questão de tempo. Há aqueles que não querem descobrir como ele é como pessoa, porque simplesmente amam a música dele. E há aqueles que têm a simplicidade para entender que, por trás da música, há uma pessoa que precisa ser investigada. Acredito que, no futuro, as pessoas mudarão essa opinião a respeito dele apenas como um personagem polêmico e engraçado.”
PRINCIPAIS FAIXAS “Azul da Cor do Mar”, “Sossego”, “Gostava Tanto de Você”, “Réu Confesso”