A falta de articulação política, o descaso com a coisa pública e a ineficiência na prestação de serviços (públicos e privatizados) estão castigando ainda mais os moradores do RS, que desde maio sofrem as consequências da chuvarada sem precedentes que assolou o estado.
Passados mais de 100 dias da catástrofe, nenhuma das moradias prometidas pelos governos federal e estadual foi entregue aos flagelados da enchente.
Pelas ruas, é difícil não ouvir alguém mencionando o temor de uma reprise do aguaceiro em setembro, mês que costuma ser de chuvas intensas.
Em Porto Alegre, na Ilha da Pintada, o cenário é de abandono. Há terra por todo lado e só se distingue uma cor: o marrom da sujeira. Carros com as rodas para cima e casas de madeira desengonçadas como se tivessem levado o tapa de um monstro completam o cenário.
Em frente ao estádio Beira Rio, uma ilha tornou-se visível, expondo a necessidade de dragagem do Guaíba. A Federação das Indústrias (Fiergs) emitiu alerta para a possibilidade de paralisação do Polo Petroquímico de Triunfo pelas condições de navegação na hidrovia, que está assoreada.
Com o Aeroporto Internacional Salgado Filho interditado para pousos e decolagens, viajar de avião rumo à capital gaúcha implica enfrentar desventuras em série. Para além dos valores exorbitantes das passagens (ir de Brasília a Canoas, na região metropolitana, pode ser mais caro do que ir para a Europa!), a precariedade da logística para acolher o fluxo de passageiros nos aeroportos do interior beira o inacreditável.
Em Pelotas, por exemplo, os viajantes são acomodados num terminal improvisado dentro de um canteiro de obras —ou será o contrário? A rede de energia elétrica não funciona plenamente e não é possível comprar sequer uma garrafinha de água (vendida por exorbitantes R$ 11) antes das 15h, quando abre o único estabelecimento do local.
Nesse ritmo, o difícil é prever o tempo que o estado levará para sair da lama (literalmente).