Um estado na lama

Passados mais de 100 dias da catástrofe, nenhuma das moradias prometidas pelos governos federal e estadual foi entregue

A jornalista Ana Cristina Rosa é Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública) - Foto: Keiny Andrade/Folhapress

A falta de articulação política, o descaso com a coisa pública e a ineficiência na prestação de serviços (públicos e privatizados) estão castigando ainda mais os moradores do RS, que desde maio sofrem as consequências da chuvarada sem precedentes que assolou o estado.

Passados mais de 100 dias da catástrofe, nenhuma das moradias prometidas pelos governos federal e estadual foi entregue aos flagelados da enchente.

Pelas ruas, é difícil não ouvir alguém mencionando o temor de uma reprise do aguaceiro em setembro, mês que costuma ser de chuvas intensas.

Cachorro no meio dos entulhos numa das vielas que foram alagadas no bairro Sarandi, em Porto Alegre – Carlos Macedo/Folhapress

Em Porto Alegre, na Ilha da Pintada, o cenário é de abandono. Há terra por todo lado e só se distingue uma cor: o marrom da sujeira. Carros com as rodas para cima e casas de madeira desengonçadas como se tivessem levado o tapa de um monstro completam o cenário.

Em frente ao estádio Beira Rio, uma ilha tornou-se visível, expondo a necessidade de dragagem do Guaíba. A Federação das Indústrias (Fiergs) emitiu alerta para a possibilidade de paralisação do Polo Petroquímico de Triunfo pelas condições de navegação na hidrovia, que está assoreada.

Com o Aeroporto Internacional Salgado Filho interditado para pousos e decolagens, viajar de avião rumo à capital gaúcha implica enfrentar desventuras em série. Para além dos valores exorbitantes das passagens (ir de Brasília a Canoas, na região metropolitana, pode ser mais caro do que ir para a Europa!), a precariedade da logística para acolher o fluxo de passageiros nos aeroportos do interior beira o inacreditável.

Em Pelotas, por exemplo, os viajantes são acomodados num terminal improvisado dentro de um canteiro de obras —ou será o contrário? A rede de energia elétrica não funciona plenamente e não é possível comprar sequer uma garrafinha de água (vendida por exorbitantes R$ 11) antes das 15h, quando abre o único estabelecimento do local.

Nesse ritmo, o difícil é prever o tempo que o estado levará para sair da lama (literalmente).

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