Uma negra no Supremo dos EUA

Mesmo que a passos lentos, estamos melhorando

Ainda vai levar um tempo até que a conquista de espaços de poder e decisão por pessoas negras deixe de surpreender e representar marcos históricos num mundo racista, preconceituoso e desigual. A boa notícia é que, mesmo a passos lentos e a muito custo, estamos avançando.

Na semana passada foi a vez de a juíza federal Ketanji Brown Jackson entrar para a história ao ser confirmada pelo Senado norte-americano como a primeira mulher negra a integrar a Suprema Corte dos EUA. Criada há 232 anos, está aí um espaço que não foi desenhado para acolher a diversidade de maneira geral —muito menos uma mulher negra. Tanto que até 1967 somente homens brancos haviam ocupado os cargos.

Mas o exemplo mais claro pode ser sintetizado na condenável e contestada interpretação dada pela Suprema Corte à 14ª Emenda da Constituição. Embora em 1868 –mais de um século antes do nascimento da juíza Brown, em 1970 —o dispositivo tenha previsto “igual proteção das leis a todos”, não foi o que aconteceu.

A Corte decidiu que essa emenda não protegia os negros de legislações estaduais que os tratassem de forma desigual. Foi o que legitimou a segregação racial vigente até o advento do movimento pelos direitos civis, liderado pelo reverendo Martin Luther King nas décadas de 1950 e 1960.

A chegada de Ketanji à Suprema Corte, cuja posse está prevista para outubro, não mudará o equilíbrio de forças no tribunal, porém diz bastante sobre o momento atual da sociedade americana. A sessão em que o Senado aprovou seu nome foi presidida pela vice-presidente Kamala Harris, também uma mulher negra.

Depois de muita provocação da oposição, que tentou abalar o equilíbrio emocional da postulante durante a sabatina, havia a expectativa de que Kamala tivesse de dar o voto de minerva para desempatar o processo. Não foi necessário. Três republicanos dedicaram seus votos a Ketanji. É a primeira mulher negra a chegar à mais alta corte dos EUA. Que não seja a única.

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