USP barra plano de Alckmin e cria bônus para negros

A Universidade de São Paulo (USP) aprovou a criação de um bônus de 5% no vestibular para candidatos de escolas públicas que se declararem “preto”, “pardo” ou “indígena”. A USP sempre foi contrária a critérios raciais de bonificação. A criação de um cursinho preparatório para alunos de escola pública compõe o projeto.

Foto: Weber Sian/A Cidade

A proposta, aprovada nesta quinta-feira pelo Conselho de Graduação, representa o abandono quase total do plano do governador Geraldo Alckmin (PSDB), lançado em 2012 ao lado dos reitores da USP, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Um dos pontos mais polêmicos – um curso semipresencial que parte dos cotistas faria – foi descartado.

De acordo com o novo texto, um aluno negro ou indígena que cursou a educação básica na rede pública poderá ter um bônus de até 25% na nota. Sem o critério racial, o bônus para a escola pública será de até 20%. O acréscimo máximo era de 15% na nota até este ano.

Apesar de a proposta votada nesta quinta-feira ser resultado do posicionamento das 42 unidades da USP, ela tem de ser aprovada no Conselho Universitário para valer no próximo vestibular. O prazo para as metas de inclusão também são diferentes do que o governo havia proposto. O documento elaborado pelo Conselho de Graduação diz que a USP só teria condições de alcançar 50% de inclusão de alunos de escola pública em 2018, não em 2016, como previa o plano de Alckmin, o Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Paulista (Pimesp).

O novo projeto não fala em cotas, só em metas. No evento de apresentação do Pimesp, Alckmin falou em reserva de vagas de forma gradual, até 2016. “Será automático: 35% das vagas vão para esses alunos. Eles entrarão pelo vestibular tradicional, se não passar, terão pontuação acrescida”, disse Alckmin em dezembro.

Exclusão

A USP sempre teve um perfil elitista de alunos. Apesar de a escola pública abrigar 85% das matrículas do ensino médio, a grande maioria dos alunos da universidade saiu de escolas privada, é branca e tem bom nível econômico. Entre 2012 e 2013, o porcentual de alunos de escola pública passou de 28% para 28,5%. Levando em conta apenas as dez carreiras mais concorridas, só 19% dos matriculados vieram dessa rede. Nesses dez cursos, metade dos ingressos é das classes A e B (com renda acima de R$ 6.220). E só quatro “pretos” conseguiram se matricular. Não há menção para que as metas sejam atendidas por curso. Também não existe previsão de ação para o caso de não atendimento às metas.

Cursinho

A oferta de um cursinho pré-vestibular é outra aposta. O curso de reforço, para mil alunos, será oferecido anualmente, com duração de dez meses. As vagas são destinadas a quem estudou na escola pública e prestou a Fuvest, mas não passou no vestibular. A primeira edição, de caráter experimental, será oferecida a partir de agosto, com duração de cinco meses. As aulas serão ministradas por alunos de Licenciatura, sob a supervisão de estudantes de pós-graduação, somente na Cidade Universitária, zona oeste da capital.

O presidente da ONG Educafro, Frei David dos Santos, criticou a proposta. “A USP usa normas científicas para tudo que faz, mas não para a questão do negro e pobre”, diz ele. “É mais uma enganação da USP, que devia se mais responsável e fazer estudo de inclusão levando em conta casos de sucesso concretos.” Frei David lembrou a onda de manifestações. “A USP tem de saber que a gente não vai aceitar, estão brincando com fogo nesse clima em que o País está.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

Fonte: UOL

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