Violência é o maior problema para pais, alunos e professores da escola pública

Pesquisa conclui que, no estado de São Paulo, progressão continuada é reprovada por unanimidade. Metade dos alunos diz já ter passado de ano sem ter aprendido as matérias

MARINA ROSSI

Gradyreese via Getty Images

Alunos em uma escola estadual de Itaquaquecetuba, São Paulo. / MOACYR LOPES JUNIOR (FOLHAPRESS)

Nem a falta de professores nem de estrutura. O que mais preocupa os pais, alunos e professores da escola pública do Estado de São Paulo é a falta de segurança. É o que aponta uma pesquisa realizada pelo instituto Data Popular em parceria com o Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp). De acordo com o estudo, 37% dos pais, 32% dos professores e 25% dos alunos acreditam que a violência é o maior problema da rede pública de ensino do Estado de São Paulo.

Entre os alunos, 70% afirmaram que a sua escola é violenta e 28% disseram já ter sofrido algum tipo de violência dentro da escola. Já entre os professores, 44% afirmaram já ter sido vítimas de algum tipo de violência dentro do âmbito escolar. Nesse cenário, a discriminação aparece como uma grande questão a ser resolvida. Mais da metade dos alunos, 51%, disseram já ter sofrido algum tipo de discriminação, sendo que a orientação sexual e a raça ou cor são apontados em primeiro e segundo lugar, respectivamente, como os principais motivos de discriminação, e, na sequência, origem nordestina e condição econômica.

Entre os professores, os motivos de discriminação são, primeiramente, também pela orientação sexual, em segundo lugar por raça / cor, em terceiro por gênero – no caso de professoras mulheres – e, em quarto, pela origem nordestina. O buraco na educação se reflete, inclusive, na hora de apontar os problemas desse setor. A discriminação, por si só, já é um símbolo da deseducação da sociedade.

Na sequência dos maiores problemas apontados pela comunidade escolar, aparece a polêmica progressão continuada, implementada há mais de dez anos no Estado de São Paulo e que consiste em não reprovar o aluno, ainda que ele tenha tido um rendimento insatisfatório naquele ano. Esse é o segundo maior problema da rede pública de acordo com os professores. Já os pais e alunos concordam que, seguida da violência, a falta de respeito dos alunos é o maior problema da escola pública.

A progressão continuada é reprovada por 63% dos professores, 75% dos alunos e 94% dos pais. Esse método pode ter grande influência em outro resultado: 46% dos alunos afirmaram já ter passado de ano sem ter aprendido a matéria.

“Sabemos que as questões que estão expostas na pesquisa existem, na realidade, há algum tempo”, diz a presidenta da Apeoesp, Maria Izabel Azevedo Noronha. “Mas dizer que metade dos alunos não estão aprendendo, significa falar em três milhões de alunos. É mais da metade do total de alunos da rede de ensino estadual de São Paulo. Isso é muito preocupante”, diz

A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, por meio de sua assessoria de imprensa, respondeu à questão da progressão continuada afirmando que o modelo foi “aperfeiçoado” e que “as possibilidades de retenção foram ampliadas, permitindo que eventuais defasagens de conhecimento sejam corrigidas mais prematuramente”.

A baixa remuneração é outra questão que dá peso para a avaliação negativa da escola pública. Segundo a Apeoesp, o piso salarial dos professores do ensino estadual é de 2.422 reais mensais por 40 horas de trabalho por semana. Com essa receita, 55% dos professores afirmaram ter outros empregos. “A nossa luta é para que o piso seja elevado para 4.300 reais”, diz Noronha. Segundo a Secretaria de Educação paulista, o valor pago hoje é maior do que a média do país. “O valor do piso pago pelo Estado de São Paulo é 42% superior ao piso nacional”, afirmou, também por meio da assessoria de imprensa.

A pesquisa procurou saber também quais fatores implicariam em um aumento na qualidade na educação. A esta pergunta, a resposta obteve unanimidade: Pais (34%), alunos (40%) e professores (39%) acreditam que a qualificação e o preparo dos professores são os pontos cruciais para que a educação pública tenha mais qualidade.

Questionados sobre qual nota dariam para a escola pública no país, pais e alunos não deram mais do que nota 5, entre 0 e 10. “A escola que está aí na é convidativa para o aluno. Ele não tem vontade de ficar nela”, comenta Noronha. Embora 62% dos alunos tenham afirmado que gostam de ir à escola.

#campanha

Neste fim de semana, a Apeoesp vai lançar uma campanha com o objetivo de valorizar o professor e fomentar o debate sobre a educação do Estado de São Paulo. “Queremos denunciar as condições de trabalho dos professores e mostrar que a melhora da escola pública passa, necessariamente, pela valorização do professor, conforme apontaram os alunos e os próprios professores na pesquisa”, diz Noronha, sobre a campanha batizada de #SouMaisMinhaProfessora.

Fonte: El Pais

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