100 Livros para Inspirar o Jornalismo

 

Leonardo Sakamoto

Respondendo a uma leitora receosa em cursar jornalismo, escrevi que poderia recomendar uma lista de livros de reportagens, literatura e reflexões sobre o mundo e a profissão para acompanhá-la na caminhada – seja ela qual fosse. Na verdade, confesso, o comentário foi puramente retórico. E grande foi minha surpresa quando recebi mais de uma centena de mensagens (!) exigindo a tal lista.

Coloquei-me, então, a organizar os títulos. Como um bom livro puxa o outro, foi impossível me ater a apenas uma dúzia de sugestões. E considerando o quão somos incompletos e errado quando sozinhos, pedi ajuda a amigas e amigos jornalistas. Dessa reflexão coletiva, nasceu uma lista com 100 livros para inspirar o jornalismo e ao jornalismo. Pelo menos um para cada mensagem recebida. É claro que listas servem para cometer injustiças, então peço desculpas de antemão.

Agradeço a Antônio Biondi, Caio Cavechini, Carlos Juliano Barros, Claudia Carmello, Cristina Charão, Guilherme Zocchio, José Chrispiniano, Igor Ojeda, Ivan Paganotti, Lúcia Ramos Monteiro, Maurício Hashizume, Maurício Monteiro Filho, Pablo Uchôa, Renato Godinho, Ricardo Mendonça e Spensy Pimentel as contribuições enviadas.

Evitei manuais e afins mais técnicos nessa lista, mas nada impede que apareçam em uma segunda. Incluso estão livros de fotos e graphic novels – afinal, reduzir uma boa história a um texto é besteira.

Mas vale lembrar: isso é para ajudar a inspirar. Jornalismo não se aprende nos livros, o que passa necessariamente pela vivência diária, conhecendo o outro, o diferente. É legal ter bons livros na bagagem, mas eles não substituem bagagem de vida. Que, por mais crucial que seja para um bom jornalismo é o que mais falta na profissão. Seja por falta de oportunidade ou de vontade.

Inspiração, que é boa quando nos carrega para longe. E é excelente quando nos faz mergulhar lá dentro. No início de “O jornalista e o assassino”, Janet Malcolm, sintetiza:

“Qualquer jornalista que não seja demasiado obtuso ou cheio de si para perceber o que está acontecendo sabe que o que ele faz é moralmente indefensável. Ele é uma espécie de confidente, que se nutre da vaidade, da ignorância ou da solidão das pessoas. Tal como a viúva confiante, que acorda um belo dia e descobre que aquele rapaz encantador e todas as suas economias sumiram, o indivíduo que consente em ser tema de um escrito não ficcional aprende — quando o artigo ou livro aparece — a sua própria dura lição. Os jornalistas justificam a própria traição de várias maneiras, de acordo com o temperamento de cada um. Os mais pomposos falam de liberdade de expressão e do ‘direito do público a saber’; os menos talentosos falam sobre a Arte; os mais decentes murmuram algo sobre ganhar a vida.”

Boa leitura!

PS: Sei que deveria explicar cada um deles e ainda farei isso um dia. Procratinadores do mundo, uni-vos. Por ora, basta a lista.

  1. 1984, de George Orwell
  2. A Alma Encantadora das Ruas, de João do Rio
  3. A Ascensão e Queda do Terceiro Reich, de William L. Shirer
  4. A Jangada de Pedra, de José Saramago
  5. A Luta, de Norman Mailer
  6. A Mulher do Próximo, de Gay Talese
  7. A Noite dos Proletários, de Jacques Rancière
  8. A Primeira Vítima, de Phillip Knightley
  9. A Rosa do Povo, de Carlos Drummond de Andrade
  10. A Sangue Frio, de Truman Capote
  11. Abusado: o Dono do Morro Santa Marta, de Caco Barcellos
  12. Abutre, de Gil Scott-Heron
  13. Aí pelas Três da Tarde, conto de Raduan Nassar no livro Menina a Caminho
  14. Ao Vivo do Corredor da Morte, de Mumia Abu-Jamal
  15. As Ilusões Perdidas, de Balzac
  16. As Origens do Totalitarismo, de Hannah Arendt
  17. Bombaim, Cidade Máxima, de Suketu Mehta
  18. Cabeça de Turco, de Günter Wallraff
  19. Caixa Preta, de Ivan Sant’anna
  20. Capão Pecado, de Ferréz
  21. Clarice na Cabeceira, de Clarice Lispector (org. Aparecida Maria Nunes)
  22. Coração das Trevas, Joseph Conrad
  23. Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski
  24. De Pernas pro Ar, Eduardo Galeano
  25. Dedo-Duro, de João Antonio
  26. Devassos no Paraíso, de João Silvério Trevisan
  27. Dez dias que abalaram o mundo, de John Reed
  28. Dom Casmurro, de Machado de Assis
  29. Ébano: minha vida na África, de Ryszard Kapuscinski
  30. Elogiemos os homens ilustres, de James Agee e Walker Evans
  31. Entre os vândalos, de Bill Bufford
  32. Entrevista: o diálogo possível, de Cremilda Medina
  33. Fábrica de mentiras, de Günter Walraff
  34. Fama e Anonimato, de Gay Talese
  35. Gomorra, de Roberto Saviano
  36. Gostaríamos de informá-lo de que amanhã seremos mortos com nossas famílias: Histórias de Ruanda, de Philip Gourevitch
  37. Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa
  38. Hiroshima, de John Hersey
  39. Jornalistas e Revolucionários, de Bernardo Kucinski
  40. K., de Bernardo Kucinski
  41. Ligeiramente Fora de Foco, de Robert Capa
  42. Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa
  43. Malagueta, Perus e Bacanaço & Malhação do Judas Carioca, de João Antônio
  44. Maus, de Art Spiegelman
  45. Medo e Delírio em Las Vegas, de Hunter S. Thompson
  46. Minha razão de viver, de Samuel Wainer
  47. Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto
  48. Muito longe de casa, de Ishmael Beah
  49. Na natureza selvagem, de Jon Krakauer
  50. Na Pior em Paris e Londres, George Orwell
  51. Nada de novo no front, de Erich Maria Remarque
  52. No Logo, de Naomi Klein
  53. Notícias de um Sequestro, de Gabriel García Marquez
  54. Notícias do Planalto, de Mário Sérgio Conti
  55. O Ano I da Revolução Russa, de Victor Serge
  56. O Brasil Privatizado, de Aloysio Biondi
  57. O Estado de Exceção, de Giorgio Agamben
  58. O Guia dos Curiosos, de Marcelo Duarte
  59. O Inverno da Guerra, de Joel Silveira
  60. O jornalista e o assassino, de Janet Malcolm
  61. O livro das vidas: obituários do New York Times, de Matinas Sukuzi Jr. (org.)
  62. O Mundo Assombrado pelos Demônios, de Carl Sagan
  63. O Processo, de Franz Kafka
  64.  O Quinze, de Rachel de Queiroz
  65. O Reino e o Poder, de Gay Talese
  66. O Segredo de Joe Gould, de Joseph Mitchell
  67. O Tesouro de Sierra Madre, de B. Traven
  68. O teste do ácido do refresco elétrico, de Tom Wolfe
  69. Olga, de Fernando Morais
  70. On the Road, de Jack Kerouac
  71. Operação Massacre, de Rodolfo Walsh
  72. Os mandarins, de Simone de Beauvoir
  73. Os novos cães de guarda, de Serge Halimi
  74. Os Sertões, de Euclides da Cunha
  75. Os Testamentos Traídos, de Milan Kundera
  76. Os últimos soldados da guerra fria, de Fernando Morais
  77. Pela bandeira do paraíso, de Jon Krakauer
  78. Perdoa-me por me traíres, de Nelson Rodrigues
  79. Planeta Favela, de Mike Davis
  80. Por quem os sinos dobram, de Ernest Hemingway
  81. Procedimento Operacional Padrão, de Errol Morris e Philip Gurevitch
  82. Radical Chic e o novo jornalismo, de Tom Wolf
  83. Rota 66, de Caco Barcellos
  84. Sagarana, de Guimarães Rosa
  85. Sapato Florido, de Mario Quintana
  86. Shaking the Foundations: 200 Years of Investigative Journalism in America, de Bruce Shapiro
  87. Showrnalismo: a notícia como espetáculo, de José Arbex Jr.
  88. Sidarta, de Hermann Hesse
  89. Sobre a televisão, de Pierre Bourdieu
  90. Sobre Ética e Imprensa, de Eugênio Bucci
  91. Terra Sonâmbula, de Mia Couto
  92. The Black Hole of Empire, de Partha Chatterjee
  93. The Onion Field, de Joseph Wambaugh
  94. Toda Mafalda, de Quino
  95. Todos os Homens do Presidente, de Carl Bernstein e Bob Woodward
  96. Tudo o que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade, de Marshall Berman
  97. Uma história de Sarajevo, de Joe Sacco
  98. Vidas Secas, de Graciliano Ramos
  99. Vigiar e Punir, de Michel Foucault
  100.  Viver para Contar, de Gabriel García Marquez

 

Fonte: Blog do Sakamoto

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