13 de maio de 1888 – 132 anos de Abolição: Homenagem a um grande abolicionista

Para mim, André Pinto Rebouças, negro baiano nascido em 1838 e formado em engenharia pela Escola Militar do Rio de Janeiro, foi o maior líder da corrente progressista da Abolição da Escravatura. Essa articulação foi derrotada em favor da política imigrantista cujo propósito era excluir a população negra do projeto de nação e branquear a população. João Batista de Lacerda, representando o Brasil no Congresso de Raças em Londres, em 1911, garantia que dali a 100 anos, ou seja em 2011, não haveria nenhuma pessoa negra no Brasil.

Senhores de escravizados, inconformados com a perda de sua propriedade e a recusa de indenização por parte da Princesa Isabel e de outras personalidades, da noite pro dia viraram republicanos e apoiaram a derrubada da monarquia pouco mais de um ano depois, por meio de um golpe militar.

Numa economia eminentemente agrícola a perda da mão de obra foi um golpe inaceitável para esses senhores, cujos descendentes ainda estão no poder no Brasil de 2020.

Voltando a Rebouças, ele afirmava que:
“A emancipação do escravo e sua regeneração através da propriedade rural” só seria possível se houvesse uma “subdivisão racional das exageradas extensões de terra possuídas por nossos fazendeiros de café e de açúcar”. Em sua opinião “ser livre e ser proprietário rural constitui a maior aspiração do escravo desta terra miserável” Rebouças foi um obstinado defensor da reforma agrária, áspero tribuno e escritor de inúmeros artigos e cartas contra quem ele acusava de “grandes senhores territoriais e landlords”. O escravista e grande proprietário fundiário Antônio Prado em sua verve apaixonada foi chamado por ele de “facinoroso”.

Rebouças era também grande amigo do imperador e de toda a família real, e de muitos outros poderosos e influentes, a quem estava sempre buscando convencer (inclusive com projetos de leis que formulava) sobre imposto territorial, cadastro, e a urgência de uma reforma agrária, bem como de outras medidas de cunho social. Dentre essas medidas encontra-se “um projeto de Lei para Educação, Instrução e Elevação do nível moral dos libertos, em contraposição aos projetos de proteção aos fazendeiros e comissários de café …”

E para evitar que os negros apelassem para a violência, enquanto seus contemporâneos se esmeravam em propor medidas repressivas, esse grande reformador social sugeria “constituir Sociedades e Clubes para educação, instrução e aperfeiçoamento da Raça Africana”
Estou escrevendo um livro sobre racismo e a construção da república brasileira. Estou tratando de nossas lutas armadas (Canudos, Contestado e a Revolta da Chibata – haverá outras?) e as lutas no campo institucional, nos anos mais recentes. Solicito a vocês que me leram até aqui a gentileza de me sugerir livros, museus, filmes e outras fontes que possam me ajudar a construir a nossa saga em um país tão escandalosamente injusto e desigual como o Brasil. Agradecimentos.
diva moreira

 

Leia Também:

Quem foi André Rebouças, abolicionista que batiza a Avenida Rebouças

A Saga dos Engenheiros Rebouças

 

+ sobre o tema

Evento do Arquivo Nacional marca os 130 anos da Abolição da Escravatura no Brasil

Ações integram a comemoração dos 180 anos do Arquivo...

Crítica: ‘A última abolição’

“A última abolição” tem dois objetivos principais. O primeiro...

para lembrar

Consciência Negra: conheça nomes que lutaram pelo fim da escravidão no Brasil

Neste domingo (20/11) é comemorado o Dia da Consciência Negra....

13 de Maio, uma data que nos jogou ao léu

Por mais de três séculos, o negro escravizado impulsionou...

Treze de maio nas ruas

No papel, e só no papel, foi abolida a...

13 de Maio – Grandes defensores da abolição

Uma luta social, política e econômica Campanha pelo fim da...
spot_imgspot_img

Documentário aborda o apagamento da negritude de Chiquinha Gonzaga

A trajetória de Chiquinha Gonzaga (1847-1935) é analisada sob novo viés em documentário que estreia nesta segunda (5/2), no canal Curta!. Dirigido por Juliana...

Quem foi Manuel Querino, intelectual negro baiano nascido há 182 anos

Uma das personalidades mais importantes da história da Bahia e do Brasil, o escritor, jornalista, historiador, político, desenhista, músico e pintor Manuel Querino completa, em...

Liberdade e trabalho digno: nunca foi só sobre alforria

E se a escravidão ainda fosse legalmente autorizada? E se o cotidiano de trabalhadores/as permanecesse orientado pela possibilidade de prisão caso essas pessoas não...
-+=