Racismo embutido: 140 tons de marrom e os “critérios técnicos” da escolha de autores brasileiros pela Funarte para irem à Feira de Livros em Frankfurt – Por: Michaela Metz

Artigo de Michaela Metz para o jornal Süddeutsch Zeitung sobre racismo no Brasil. Traduzido Gilmar Jost e Marcos Romão.

Foram os próprios alemâes que levantaram a lebre ainda em agosto, sobre o racismo embutido no critério de escolha dos escritores brasileiros que participam este ano da feira de Livros de Frankfurt.

Causou espanto a autora do artigo, o fato de somente 1 escritor negro e 1 escritor indígena estarem nesta lista. A autora foi fundo na pesquisa, e apresentou um quadro da realidade de discriminação racial no Brasil, publicado através do renomado Diário sueddeutscheZeitung.

Enquanto isto no Brasil a Ministra da Cultura Marta Suplicy justifica que a escolha de 68 escritores brancos entre setenta notáveis, foi apenas um “critério técnico” e não um “critério étnico”.

Para o advogado Humberto Adami do “IARA’ em artigo publicado em seu blog, “a utilização do critério técnico apenas, é inconstitucional e ilegal. E dá margem a vexames internacionais, como dito. A utilização do conceito de ação afirmativa deve ser espraiado para todo staff da administração pública brasileira, através de parecer do Advogado Geral da União, o qual é vinculante e obrigatório, para que se evite que ministros da Presidente Dilma Roussef propiciem experiencias como a presente, que nos submetem ao encontro com a face mais evidente do racismo no Brasil, que tem sido motivo de denúncia do Movimento Negro brasileiro, e afronta aos Direitos Humanos.”

Em entrevista para o Globo, Marta Suplicy , demonstra uma completo desconhecimento da produção intelectual dos negros e indígenas no Brasil e sua penetração no mercado de livros europeu, ao afirmar que um dos critérios utilizados, “foi o da escolha de autores que tivessem livros traduzidos em língua estrangeira — disse Marta. —Toda lista tem sempre um recorte que provoca discussão. O Brasil vive um momento de transformação, o que vai permitir que, nas próximas gerações, tenhamos um número maior de negros participando. Hoje, infelizmente, não temos.”

Ainda no artigo publicado em seu blog, o advogado Humberto Adami, ressalta; “Uma rápida pesquisa na internet nos informa que em 2011, foi lançada, pela Fundação Biblioteca Nacional a coletânea Literatura e Afrodescendência no Brasil: Antologia Crítica, que reúne, em quatro volumes, textos de 100 escritores negros, do século 18 aos dias atuais. A Fundação Biblioteca Nacional também está sob comando da ministra Marta. Entre os autores há nomes como Machado de Assis, Cruz e Souza e Lima Barreto, e, entre os contemporâneos, Nei Lopes, Joel Rufino dos Santos e Muniz Sodré. Abdias Nascimento, Cidinha Sillva, Ana Maria Gonçalves, podem ser lembrados. Achei ainda o nome de Conceição Evaristo, doutora em Literatura comparada, pela UFRJ, com obras publicadas no Estados Unidos. Anos atrás, andando em Washington, trombei, estupefato, com uma exposição em homenagem à http://pt.wikipedia.org/wiki/Carolina_de_Jesus“. A ministra Marta Suplicy pode se informar sobre quem foi, e quantos livros publicou. Ou contratar uma assessoria mais eficiente.”

O internacionalmente renomado fotógrafo Januário Garcia, nos lembra, que “Moema Parente Augel” da Universidades de Bielefeld na Alemanha, há muitos anos trabalha com a literatura afrobrasileira, inclusive tem vários livros de escritores negros brasileiros traduzido para o alemão.” Mamapress lembra à assessoria de imprensa da Ministra, que hoje dia existe um “robot” chamado “Google”, acessível até para as elites brancas do ministério da cultura onde se pode pesquisar sobre a produção intelectual de outras etnias que não seja a eurodescendente brasileira. Como poderia dizer Guerreiro Ramos, já está passando do “patológico” a cegueira branca cultural brasileira, que através da própria Ministra da Cultura, nos acena com uma espera de mais 125 anos, para irmos como intelectuais e escritores à Frankfurt. Que os assessores da ministra tomem conhecimento da “Amazon”, pois lá vão encontrar os negros e indígenas pelo mundo, que eles não conseguem nem querem ver nem pintados no Brasil.

Fica para a ministra a pergunta do Advogado Humberto Adami em seu blog: ” porque não usou a ação afirmativa para negros e índios, que o Supremo Tribunal Federal aprovou por 11 a 0?

Para a intelectual e ativista antirracista Elisa Larkin Nascmento:
Como ficou patente, somente Paulo Lins foi selecionado por sua obra ‘Cidade de Deus’. Lins não participa do conjunto de escritores negros contemporâneos que participam da chamada ‘ literatura de combate ‘. ´Sua obra, entretanto, é uma manifestação poderosa de ficção e aclamadíssimo pela crítica. Sem dúvida, não poderia ficar de fora de qualquer seleção. Porém, a falta de informação de setores do Minc, sobretudo pela Fundação Biblioteca Nacional, nos faz pensar que o etnocentrismo orientou todo o processo de escolha de escritores e obras.” (a. Marcos Romão)

140 tons de marrom, por Michaela Metz

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“O debate sobre o racismo na Brasil é obscurecido pela polidez e os estereótipos de uma alegria multicultural”
(Michaela Metz)

Se cor de café, bronzeado, meio branco, meio preto ou torrado – a cor da pele desempenha um papel enorme no Brasil. Mas o debate sobre o racismo no país é mascarada pela polidez e estereótipos de vitalidade multicultural. Este será também o caso em Frankfurt, onde o país se apresenta na Feira do Livro, em outubro.

Na Feira do Livro de Frankfurt setenta autores brasileiros são convidados deste ano, o que deve dar ao público alemão uma impressão do país anfitrião deste ano e de sua literatura. “A lista inclui representantes da cultura indígena, bem como descendentes de africanos e europeus”, disse Galeno Amorim, presidente do comitê organizador brasileiro.

À primeira vista, no entanto, é apenas uma parte da delegação autores afro brasileiro Paulo Lins, que cresceu na favela “Cidade de Deus”, no Rio de Janeiro, e tornou-se conhecido por seu best-seller “Cidade de Deus”. O livro gerou um filme que em 2004 foi nomeado para quatro Oscars. O único representante indígena do Brasil na Feira do Livro é o filósofo Daniel Costa Monteiro de Belém do Pará, no norte. Ele pertence à tribo dos Munduruku. Em 2004, ele foi agraciado com o grande prestígio no Brasil Prêmio Jabuti por seu livro “COISAS do Índio” (coisas do Indio).

Segregação e o ônus da colonial

Há no Brasil mais de 140 nomes diferentes para cores de pele, incluindo: cor de café, café com leite, canela, chocolate, galego, meio branco, meio marrom, meio-negro ou torrado. Muitos destes termos têm a intenção de dar a impressão de um pouco mais de cor branca à pele dos negros. Mesmo os brasileiros comuns tendem a classificar os seus conterrâneos negros mais próximos como sendo de pele mais clara – apenas por polidez. Porque a cor da pele não é, no Brasil, como nos Estados Unidos, caracterizada por etnia, mas por aparência.

Atrás da polidez, no entanto, se esconde uma realidade brutal. Jornalista e escritor Luiz Ruffato que vai fazer na Feira do Livro de Frankfurt, o discurso de abertura: “Temos no Brasil uma sociedade muito injusta onde vivemos de forma segregacionista. Há índios e negros e há uma elite branca na sociedade sem qualquer responsabilidade para o país em que vive “. A sociedade brasileira ainda usa os critérios do período colonial, disse Ruffato.

Usamos o futebol como uma imagem apropriada. Por exemplo, na final da Copa das Confederações, no Estádio do Maracanã, o Brasil contra a Espanha no final de junho: “No topo da arquibancada os brancos e ricos sentaram-se para ver no campo, os negros jogarem, os negros suam para proporcionar um espetáculo para os brancos .. ”

Paulo Lins e Daniel Munduruku Portanto, estas são as chances de dois homens minorias? Nem um pouco. Embora os índios sejam apenas 0,4 por cento da população brasileira, porque desde o Século 16 sao massacrados sistematicamente. Os afro-brasileiros, no entanto, são a maioria no país. Com o último censo, em 2010, pela primeira vez derrubou o dinheiro. Dos quase 191 milhões de brasileiros são designados como 47,73 por cento brancos, 50,74 por cento, como preto ou marrom.

Os entrevistados tiveram que escolher entre cinco opções, branco, preto, marrom (pardo) decidir, amarelo e indígena. O termo “pardo” é a tentativa de encontrar um termo geral para as inúmeras tonalidades de cor da pele. Pardo também é “cinza, duvidoso.” “Pardo não é cor de pessoas, é uma cor de gatos ou papel de embrulho”, disse o historiador Wania Sant’Anna. Além disso, o movimento negro, rejeita a palavra pardo da categoria para tons de pele.

Branco primeiro a ser servido

Desde 1988, o racismo e a discriminação é um crime no Brasil. O cotidiano parece diferente. Advogados negros, jogadores de futebol ou políticos são regularmente inspecionados à mão armada pela polícia quando estão andando de carro. São barrados em edifícios de escritórios ou restaurantes (também por um porteiro preto). Os garçons servem primeiro o branco e, em seguida, o convidado de pele escura. Os modelos nas capas de revistas brasileiras são brancos, tão branco como Gisele Bundchen. Assim como as estrelas das novelas populares são loiras e brancas. Aos pretos são dados papéis mais leves, como empregadas domésticas, motorista ou pessoas do mal.

As teorias raciais cruéis com que as elites brancas no século 19 , planejaram o o reassentamento, a deportação, a esterilização eo extermínio dos negros, foram produtos originais da Europa.

Em resposta aos anos sombrios, “Casa Grande e Senzala” de Gilberto Freyre lancado em 1938, como trabalho sociológico era considerada leitura básica sobre o mito da democracia racial no Brasil. Ele viu a colaboraçãoo de brancos, negros e índios como uma oportunidade para o Brasil, que deve ser baseada na coexistência harmoniosa de grupos étnicos. Hoje, suas teorias são criticadas, uma vez que esta suposta harmonia impediu um debate sobre o problema real.

Proibição de Carnaval para os negros

Getúlio Vargas, que governou o Brasil 1930-1945 como um ditador, precisava de um forte sentimento nacional em seu estado centralizado. Tão rapidamente quanto possível, procurou caracterizar uma identidade brasileira atrás deste país enorme. Neste momento, a cultura afro-brasileira com o seu samba, os desfiles de carnaval, a arte marcial Capoeira e a fé no Candomblé fé deram identidade à nação brasileira.

O que hoje é considerado o epítome do Brasil, anteriormente era proibida sob punição. Capoeira e Candomblé era proibidos, seus mestres e sacerdotes foram perseguidos, o carnaval era um tabu para os negros. Samba foi considerado como “música negra” de incivilizados.

No entanto, a apropriação de sua cultura não protegeu afro-brasileiros ciontra a discriminação . Mesmo 125 anos após o fim da escravidão, “coloreds” e índios frequentam hoje piores escolas do que as escolas frequentadas pelas criança branca, ganham menos, não podem pagar consultas médicas e morrem estatisticamente mais cedo. Muitas vezes através da violência policial.

Gilberto Carvalho, chefe do Gabinete Presidencial, em Brasília, recentemente reclamou: “A violência contra a juventude negra aumentou consideravelmente. É como um avião cair a cada semana com mais de três centenas de jovens do céu.”. Um total de quase 35.000 negros foram assassinados em 2010 no Brasil. Para efeito de comparação – nos Estados Unidos, cujos cidadãos não têm escrúpulos em lidar com armas de fogo, cerca de 13.000 pessoas morreram de forma violenta em 2010.

A única maneira de escapar a esta miséria é a educação. 15 por cento dos brancos conseguem um lugar em uma universidade estadual brasileira. No entanto, apenas cerca de cinco por cento dos afro-brasileiros conseguem o mesmo. Escolas públicas do Brasil são terríveis, quem não pode pagar uma escola privada está em desvantagem. Muitos abandonam a escola após quatro ou cinco anos.

“Belíndia” muitos brasileiros chamam seu país. Quem tem dinheiro e a cor da pele certa, vive uma vida de padrões Europeus. Todos os outros lutam com os problemas de um país em desenvolvimento, como a Índia. E o racismo não é apenas o dia-a-dia da vida no Brasil, ele é institucionalizada: Dos 513 deputados no Congresso Nacional brasileiro só 30 sao descritos como de pele escura.

No entanto, há sinais positivos: Um avanço foi a eleição do primeiro negro presidente Joaquim Barbosa do Supremo Tribunal Federal no Brasil no ano passado. Seu sucesso tem o poder simbólico. Presidente do Brasil Dilma Rousseff está planejando agora cotas, para pessoas negras e indígenas em cargos públicos. A receita para o sucesso é o programa “Bolsa Família” criado pelo ex-presidente Lula da Silva, que está no centro da sua política social. A bolsa apóia as famílias que mandam seus filhos regularmente para a escola e para vacinação.

Depois de uma mudança constitucional, em março, as empregadas, principalmente negras, que cuidam das famílias brancas o tempo todo, lavam e cuidam as crianças, têm os mesmos direitos dos demais trabalhadores. Até agora, os trabalhadores domésticos eram considerados como propriedade quase privada do empregador, sem direitos, e sempre disponível, alojados em uma câmara sem janelas ao lado da cozinha. Em debate no Senado, a importância desta nova lei foi comparado com a abolição da escravatura em 1888.

Quão mais bem sucedido seria o país maravilhoso se os negros, a maioria dos seus cidadãos, não fossem degradados como cidadãos de segunda classe?

Fonte: Mama Press

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