por Alzira Rufino –
A Violência Silenciada nada sutil e cordial ainda muito vivenciada pela maioria das mulheres e jovens negras.
Ainda fala-se nos partidos e movimentos sociais que a discussão do racismo e a violência contra a mulher negra divide, que devemos primeiro enfrentar a desigualdade social; que denunciar o homem negro por violência doméstica o cidadão enfrentaria uma sentença maior por ser agressor negro “precisamos antes de tudo conscientizar e chamar o homem negro para o debate”.
Entendo que a violência contra a mulher a pobreza e a exclusão no Brasil tem cor, e que é possível sim assumir o compromisso de denunciar para não mais aceitar pancada de marmanjo, seja homem adulto ou jovem.
O que significa para as mulheres e jovens mulheres negras apropriar-se dos instrumentos de direito para ter acesso à Justiça, fazendo cumprir leis que retiram os agressores de mulheres sobreviventes da violência doméstica o confortável refúgio da impunidade?
Delegacia da Mulher não pode ser perfumaria onde o racismo desestimula a denúncia.
Silenciar é espalhar a epidemia da violência doméstica praticada por homens adultos e jovens negros, contra as esposas, companheiras e as namoradas .. O legado de ontem ainda continua; nós ainda não conseguimos dar uma resposta às nossas antepassadas. Quantas morreram e as que sobreviveram trazem na alma e no corpo, feridas que não cicatrizam.
E o que dizer da violência normatizada praticada por jovens pais negros evadidos que não assumem a paternidade?
Colaborar com a idéia do ruim com ele,pior sem ele é dar continuidade a saga de nossas avós, perpetuando essa violência doméstica, nada sutil e cordial.
Neste século, nossas conquistas não podem mais aceitar o papel das mulheres e jovens heroínas que continuam aceitando a sobrecarga de trabalho duro por assumirem sozinhas o sustento do lar e dos filhos.
Basta da aceitação deste tipo de violência cotidiana em nossos lares onde se é conivente com o repasse da responsabilidade para as avós, as mães e as tias.
Queremos no futuro ver as crianças negras sendo filhas da mãe e do pai, com o direito de serem criadas e educadas por quem as gerou.
Queremos no futuro jovens negras contrariando as estatísticas:
Violência Doméstica, exploração do suor do nosso trabalho cometida pelos namorados e companheiros negros, doenças venéreas, AIDS, gravidez precoce, até quando?
Não podemos deixar-nos contaminar por essa bactéria, idéia do patriarcado de ontem, ainda bastante enraizada no seio das famílias negras e que destrói nosso sangue, nossas células, nossa mente.
Violência Silenciada nada sutil e cordial ainda vivenciada pela maioria das mulheres e jovens negras, não podemos mais aceitar.
Afinal, pancada de amor,seja lá de quem for,dói e muito!
Casa de Cultura da Mulher Negra de Santos