74% das mulheres encarceradas são mães e cumprem pena em estrutura masculinizada

Especialistas e parlamentares criticaram em audiência na Câmara o sistema prisional feminino e a presença de crianças em um ambiente pensado apenas para homens

Do Rede Brasil Atual

Foto: Mario Tama/Getty Images

 Especialistas e parlamentares apontaram que uma série de abusos, violências e violações de direitos têm ocorrido dentro do sistema prisional feminino brasileiro, durante encontro realizado nesta quinta-feira (29), na Câmara dos Deputados, para debater o encarceramento de mulheres, uma ação prevista pela campanha internacional de “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres.

O Brasil já é o quarto país que mais prende mulheres, em sua maioria negras (62,5%), jovens entre 18 e 29 anos (mais de 70%) e condenadas por tráfico de drogas, de acordo com dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen). Dos diversos problemas levantados, especialistas e parlamentares destacaram a presença de crianças nos estabelecimentos penais, chegando a um total de 1.111, quando somadas as de todas as unidades do país.

“É preciso ter um olhar prioritário para crianças com mães privadas de liberdade. Elas são estigmatizadas e há estudos que demonstram que essas crianças têm mais chances de delinquir”, alertou a coordenadora de Políticas para Mulheres e Promoção das Diversidades do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), Susana Almeida, sobre os impactos sociais que o encarceramento de mães, que são pouco mais de 70%, podem resultar, de acordo com portal da Câmara.

No início deste ano, em consonância ao Marco Legal da Primeira Infância, o Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu habeas corpus coletivo para que mulheres, com filhos de até 12 anos ou com deficiência, aguardassem o julgamento em casa, uma vez que, 45% das mulheres privadas de liberdades não têm condenação.

Ainda de acordo com o Infopen, apenas 16% das unidades prisionais brasileiras têm celas para gestantes, 14% têm berçário ou centro de referência materno-infantil e 3% têm creche, além de estarem em uma estrutura pensada para homens.

“É fácil esquecer que mulheres são mulheres sob a desculpa de que todos os criminosos devem ser tratados de maneira idêntica. Mas a igualdade é desigual quando se esquecem das diferenças. É pelas gestantes, os bebês (…) que temos que lembrar que alguns desses presos, sim, menstruam”, afirmou Nana Queiroz  em seu livro Presos que Menstruam, que reúne relatos sobre os quatro anos que acompanhou a vida de mulheres no cárcere.

+ sobre o tema

São Paulo publica estudo sobre mobilidade das mulheres na cidade

A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU) acaba de...

A primeira brasileira negra a escalar o Everest ganha biografia

“Dia 1º de abril. Parecia até mentira. Aretha, 37...

Por que não há uma única mulher entre os 39 atletas mais bem pagos do mundo

Às vésperas das Olimpíadas do Rio de Janeiro, a...

para lembrar

Jovem gay é morto a facadas no Terminal Jabaquara

Outros dois homens também foram esfaqueados e estão internados em...

Milhares de mulheres saem às ruas de São Paulo por igualdade e autonomia

A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB),...

Cerca de 3 milhões de mulheres são vítimas de mutilação genital todo ano

Apesar do alto número de vítimas, medidas políticas contra...

A invisibilidade dos homens trans na bandeira colorida

Grupos transexuais lutam para trazer à tona discussões de...
spot_imgspot_img

Sueli Carneiro analisa as raízes do racismo estrutural em aula aberta na FEA-USP

Na tarde da última quarta-feira (18), a Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP) foi palco de uma...

O combate ao racismo e o papel das mulheres negras

No dia 21 de março de 1960, cerca de 20 mil pessoas negras se encontraram no bairro de Sharpeville, em Joanesburgo, África do Sul,...

Ativistas do mundo participam do Lançamento do Comitê Global da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver

As mulheres negras do Brasil estão se organizando e fortalecendo alianças internacionais para a realização da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem...
-+=