92 Anos: Reflectir sobre a personalidade de Nelson Mandela

por: Faustino Henrique

Comemora-se amanhã o Dia Internacional de Nelson Mandela, uma data instituída pela ONU, observada em todo o mundo, o que transforma o antigo Presidente e nacionalista sul-africano no único homem vivo – não há memória de algum já falecido com as mesmas honras – a ter um dia a si dedicado.

É algo de realce, não tenhamos a menor dúvida, sobretudo se olharmos para tudo quanto o antigo presidente sul-africano, hoje transformado num semi-deus, representa num mundo em que avultam os choques civilizacionais, em que crescem as rivalidades étnicas e religiosas, em que as disputas políticas afastam a concertação e o diálogo.

Neste dia, o antigo Presidente sul-africano comemora igualmente 92 anos de vida e muitos sectores, dentro e fora da África do Sul, congratularam-se intensamente pelo facto de Mandela ter tido a possibilidade de assistir os momentos que envolveram a realização do Campeonato do Mundo de futebol. “O homem que sofreu tanto, quando saiu da prisão deu tudo pelo seu país para alcançar a paz, a solidariedade e humanismo, teve um sonho: o de ver o Mundial de Futebol no seu país. Este sonho tornou-se numa realidade”, foram com estas palavras que o Presidente da FIFA, Sepp Blatter, caracterizou a personalidade de Nelson Mandela.

Nelson Mandela é, na verdade, um autêntico ícone internacional, cuja trajectória de luta anti-apartheid se confunde com a própria história de luta do povo sul-africano contra o regime segregacionista, que existiu na África do Sul desde meados de 1940 até 1994. Num dia como este, o antigo combatente anti-apartheid apela os seus concidadãos e, de uma maneira geral, a todos quantos se revêem nele, para dedicarem 67 minutos a trabalhos voluntários nas suas comunidades. O número corresponde aos anos que Nelson Mandela dedicou aos seus esforços que culminaram no derrube do Apartheid e na democratização da Africa do Sul, em 1994. Em África, podemos dedicar os 67 minutos a muitas outras reflexões, nomeadamente sobre os caminhos que o continente está a trilhar, nesta altura em que a bandeira da integração económica, da prevenção dos conflitos, do combate ao vírus da sida têm sido hasteada bem alto.

Mas o ideal de Mandela estende-se um pouco para além disso na medida em que enquanto se manteve como Presidente da África do Sul, no curto período entre 1994 a 1999, sempre deu primazia à reconciliação, tendo chegado a delegar poderes, durante a sua ausência, ao seu arqui-rival político, Mangusuthu Buthelesi.

Detentor de mais de 250 medalhas ou condecorações, incluindo o prestigiado Nobel da Paz, em 1993, o antigo Presidente da África do Sul, embora não tenha sido o percursor da desistência voluntária do poder político, reencarna o que muitos antevêem como o político africano moderno. É uma espécie de professor emérito da reconciliação política, da não-violência e da cultura da tolerância, pressupostos que fazem hoje da África do Sul um exemplo inacreditável para muitos círculos. Constitui uma pena que as novas gerações africanas saibam muito pouco sobre o percurso de panafricanistas da craveira de Nelson Mandela, cuja defesa pessoal durante o célebre Processo de Rivónia devia constar em currículos escolares.

No período entre 1990 e 1994, quando Nelson Mandela dirigiu a delegação do ANC às negociações com o Partido Nacional, liderado pelo ex-Presidente Frederick de Klerk, existia uma atmosfera bastante sombria relativamente ao que viria a tornar-se a África do Sul pós-apartheid.
Muitos vaticinavam que o país deixaria de ser o mesmo a partir de 1994, quando realizou as suas primeiras eleições envolvendo todas a população do país e, dezasseis anos depois, a passagem do poder da minoria branca para maioria negra decorreu sem grandes sobressaltos.
Não há dúvidas de que grande parte deste sucesso se deve ao legado de Nelson Mandela, consubstanciado nas premissas que incute nas gerações mais novas de que a concertação, em detrimento da via da violência, é a melhor forma de se atingir os objectivos que se pretende. Não será exagero nenhum dizer que os políticos africanos, alguns seguidores declarados de Mandela, não veriam o seu poder cair na rua se bebessem um pouco do legado que este grande ícone político africano e mundial possui. E, sendo assim, que a África inteira reflicta sobre o Dia Internacional Nelson Mandela.

Fonte: Jornal da Angola

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