O cristianismo real de padre Júlio Lancellotti enfurece a matilha do ódio

Um homem idoso, de gestos frágeis, reconhecido em todo Brasil por sua misericórdia, e que luta incansavelmente todos os dias para levar dignidade às pessoas em situação de rua, passou a ser ameaçado de morte.

Monsenhor Júlio Renato Lancellotti, 71 anos, dos quais 35 são dedicados a ajudar moradores de rua, portadores de HIV, dependentes químicos, menores abandonados e detentos em condições desumanas, é pároco da igreja São Miguel Arcanjo, no bairro da Mooca, em São Paulo, e vigário-coordenador da Pastoral do Povo de Rua.

Ele voltou aos holofotes nos últimos dias após uma entrevista concedida por um deputado paulista ultrarreacionário que o xingou, provocando uma onda de hostilidades contra o religioso.

Semear o ódio contra alguém que transpira uma caridade tão estupenda, que nem o deputado, eu, ou vocês seríamos capazes de transpirar, é assustador. Abraçar, ouvir e alimentar quem não tem absolutamente nada e que vive largado, sujo, dormindo pelas ruas, é a face mais pura de um Cristo vivo.

Tem coisas que embrulham o estômago. Parece inconcebível imaginar que haja um sujeito capaz de ofender, xingar, perseguir ou ameaçar um homem que dedica cada dia de sua vida a aliviar o sofrimento das pessoas que compõem as camadas sociais mais invisíveis e vulneráveis, sem ganhar nada em troca. Mas acreditem, neste país doente e de contornos psicopáticos, até uma alma tão generosa é vítima do ódio tomado como padrão de vida.

Nessa onda grotesca que varre o Brasil, alcunhada vulgarmente de bolsonarismo, não há espaço para o altruísmo de padre Júlio. O cristianismo visto com bons olhos é o dos estelionatários da fé, das acrobacias exorcistas dos cultos teatrais, é o cristianismo dos boletos e maquininhas de cartões, dos padres e pastores picaretas, soberbos, demagogos, dos carrões importados e dos templos nababescos. É o cristianismo comercial e/ou medieval, no qual o ser humano é o que menos importa.

Padre Júlio Lancellotti já foi ameaçado por criminosos e policiais, extorquido por ex-assistidos e tomado como refém em rebeliões. O medo nunca o fez retroceder um centímetro sequer. Sua missão é levar a bondade e a solidariedade. Conduzir a esperança. Ele é o maior cristão que conheço. Tenho certeza que seus detratores acham a mesma coisa e só por isso o combatem.

Mesmo numa Igreja Católica com setores muito conservadores, monsenhor Júlio Lancellotti é respeitado, assim como seu trabalho. Há muita gente no alto clero que não gosta de sua obra, mas desrespeitá-la é vilipendiar o cerne da fé cristã.

A bondade bruta produz um respeito imenso. É como se aquele homem não aceitasse o sofrimento dos irmãos e desafiasse a miséria do povo da rua. Padre Júlio o faz por Cristo, com Cristo e em Cristo, na unidade do Espírito Santo. Só os canalhas podem odiá-lo.

Cabe a todos os brasileiros munidos de senso de humanidade a defesa deste homem que doa sua vida para minorar o oceano de desventuras das sofridas criaturas que vagam sem rumo pelas ruas da maior metrópole do país.

Ou nos posicionamos com veemência contra o ódio colérico desses anormais, ou seremos obrigados a conviver permanentemente com a violência e a fúria doentia que ameaça nos afogar.

Protejam o padre Júlio Lancellotti. Pelo Brasil, pelo fiapo de cristianismo genuíno que nos restou e pelos desvalidos das ruas.

Eles só podem recorrer a este valioso homem.

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