O tamanho do rombo

É possível que o total de recursos públicos cuja destinação foi indevida seja ainda maior

A democracia brasileira vem sofrendo abalos de fontes e magnitudes variadas. Alguns, orquestrados nos bastidores, só têm se tornado públicos em razão de investigações policiais. Outros, praticados às claras, são mais fáceis de identificar.

É o caso da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 9/2023, em tramitação no Congresso Nacional para mudar as regras de eleições pretéritas e perdoar ilegalidades cometidas com dinheiro público por partidos políticos dos mais diversos matizes ideológicos.

Na semana passada, a Folha divulgou que, no pleito de 2022, candidatos pretos e pardos deixaram de receber R$ 741 milhões e mulheres, outros R$ 139 milhões. Tudo em razão do descumprimento das cotas de gênero e de raça previstas na legislação eleitoral vigente.

São cifras impressionantes, mas é possível que o total de recursos cuja destinação foi indevida seja ainda maior. Por falta de um sistema unificado de controle nacional da execução das multas condenatórias, não há um número oficial sobre o tamanho do rombo que a “PEC da Anistia” representará caso seja aprovada.

Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) durante discussão e votação de propostas legislativas – Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

Quando um partido ou pessoa é condenada a devolver dinheiro público, atualmente a informação permanece dentro de cada processo. Essa dinâmica impede, por exemplo, que se saiba com precisão qual candidato recebeu o maior número de multas por propaganda irregular. Além disso, a Justiça Eleitoral não controla quais débitos permanecem pendentes.

Para enfrentar essa situação, o TSE aprovou minuta de resolução que faculta ao Ministério Público Eleitoral a execução de multas eleitorais, sanções e penalidades pelo descumprimento de decisões judiciais, e centraliza o controle do fluxo das cobranças no Tribunal Superior, que deverá implantar um sistema eletrônico. Fruto de um debate iniciado em 2018, a iniciativa é urgente e necessária, mas de nada adiantará se estivermos à mercê de um Congresso que legisla em causa própria, até contra o Estado Democrático de Direito.

+ sobre o tema

Extremo climático no Brasil joga luz sobre anomalias no planeta, diz ONU

As inundações no Rio Grande do Sul são um...

IR 2024: a um mês do prazo final, mais da metade ainda não entregou a declaração

O prazo para entrega da declaração do Imposto de Renda...

Mulheres em cargos de liderança ganham 78% do salário dos homens na mesma função

As mulheres ainda são minoria nos cargos de liderança...

‘O 25 de abril começou em África’

No cinquentenário da Revolução dos Cravos, é importante destacar as...

para lembrar

O que fazer com os monstros que nos rodeiam, uma vez descobertos?

Há monstros entre nós. Pessoas com as quais você...

Prefeitura lança livro sobre cultura afrodescendente e indígena

Após o lançamento ainda haverá a divulgação do...

Vandalismo em obra no Rio de Janeiro demonstra racismo e deve ser abolido

No Espaço em Obra desta semana, Guilherme Wisnik comenta o ato...

Armadilhas da sensibilidade

A sensibilidade tem suas armadilhas. Para alguns, diante da...

IBGE: número de domicílios com pessoas em insegurança alimentar grave em SP cresce 37% em 5 anos e passa de 500 mil famílias

O número de domicílios com pessoas em insegurança alimentar grave no estado de São Paulo aumentou 37% em cinco anos, segundo dados do Instituto...

Fome extrema aumenta, e mundo fracassa em erradicar crise até 2030

Com 281,6 milhões de pessoas sobrevivendo em uma situação de desnutrição aguda, a ONU alerta que o mundo dificilmente atingirá a meta estabelecida no...

Presidente de Portugal diz que país tem que ‘pagar custos’ de escravidão e crimes coloniais

O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, disse na terça-feira que Portugal foi responsável por crimes cometidos durante a escravidão transatlântica e a era...
-+=