Jogadoras de vôlei denunciam racismo de torcedores na Superliga B Feminina

Enviado por / FontePor Lucas Espogeiro, do ge

Dani Suco, Camilly Ornellas e Thaís Oliveira, do Tijuca Tênis Clube, afirmam que ouviram gritos de "macaca" e imitações do animal durante partida contra o Curitiba Vôlei, no Paraná

Três jogadoras do Tijuca Tênis Clube denunciaram manifestações racistas de torcedores do Curitiba Vôlei em jogo da Superliga B. A partida, realizada no ginásio do Círculo Militar do Paraná, em Curitiba, aconteceu na noite de sexta-feira (26) e terminou com vitória da equipe paranaense por 3 sets a 2. De acordo com a central Dani Suco, a ponteira Camilly Ornellas e a levantadora Thaís Oliveira, foram ouvidos sons de macaco vindos das arquibancadas.

Três jogadoras do Tijuca Tênis Clube denunciaram manifestações racistas de torcedores do Curitiba Vôlei em jogo da Superliga B. A partida, realizada no ginásio do Círculo Militar do Paraná, em Curitiba, aconteceu na noite de sexta-feira (26) e terminou com vitória da equipe paranaense por 3 sets a 2. De acordo com a central Dani Suco, a ponteira Camilly Ornellas e a levantadora Thaís Oliveira, foram ouvidos sons de macaco vindos das arquibancadas.

Após a partida, a central foi abordada por um torcedor do Curitiba Vôlei, que também garantiu ter ouvido as manifestações racistas. Thaís, por sua vez, disse que demorou mais a entender o que estava acontecendo. Mas, ao prestar atenção nas reações vindas das arquibancadas, alegou que ouviu até gritos de “macaca”.

– A partida seguiu normalmente, como se nada estivesse acontecendo. E isso deixa a gente muito triste, de verdade. Essas coisas (ações racistas) têm que parar – afirma a levantadora.

No vídeo gravado e postado, o trio de atletas do Tijuca Tênis Clube questiona o regulamento da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV). Dani conta que os responsáveis não colocaram os relatos de racismo na súmula, alegando que o documento deveria ter apenas “algo relacionado ao jogo”. As reclamações das jogadoras, então, foram adicionadas ao relatório do delegado da partida.

Em 2022, a CBV anunciou que os clubes poderiam perder um ponto se atletas, comissão técnica, torcedores ou dirigentes estivessem envolvidos em casos de racismo. O único jeito de escapar da punição seria encontrando os responsáveis e adotando medidas contra eles.

Em nota enviada ao ge, a CBV disse que “não tem poder punitivo e nem de polícia”. A entidade ainda garantiu que repudia “qualquer tipo de preconceito ou ato discriminatório” e está fazendo “levantamento do material comprobatório – imagens do jogo, súmula, relatório do delegado da partida e manifestações de atletas e clubes envolvidos”. O material “será encaminhado aos órgãos competentes (principalmente Ministério Público, autoridade policial, STJD e Comitê de Ética), para que sejam tomadas todas as medidas cabíveis no âmbito esportivo e perante o poder público e demais instâncias” (veja íntegra da nota no fim da matéria).

Por meio das redes sociais, o Curitiba Vôlei disse que está ciente dos relatos das atletas do Tijuca Tênis Clube, mas afirma que “até o momento, não se pôde constatar, seja pelas imagens ou áudio da partida, a ocorrência do alegado”. A equipe paranaense afirmou que continuará apurando e que, na próxima segunda-feira, entregará as imagens da partida “para as autoridades competentes” (veja íntegra da nota no fim da matéria).

Em conversa com o ge, o Tijuca Tênis Clube revelou que recebeu contato da CBV, por meio do ex-levantador Marcelinho, e disse que se reunirá com a entidade na próxima semana. O clube carioca já acionou seu departamento jurídico para acompanhar o caso e publicou nota nas redes sociais (confira no fim da matéria).

Apoio de técnico do Curitiba

Nas redes sociais, a denúncia repercutiu entre fãs da Superliga, que cobram uma investigação. Técnico do Curitiba, Pedro Moska também falou sobre o caso. O treinador, primeiro, se dirigiu a Dani, Camilly e Thaís. Disse que, se tivesse ouvido as manifestações racistas, pararia o jogo. Depois, enviou uma mensagem para toda a comunidade do vôlei.

– Quando vocês decidem vir e apreciar o nosso esporte, é bom que saibam: aqui é lugar de preto, de LGBTQIAPN+, de respeito, de educação. Se isso indispõe você, aqui não é seu lugar. É nosso. Quando você é racista com um de nós, é racista com todos. Quando é homofóbico com um de nós, é homofóbico com todos – escreveu.

Confira a íntegra das notas de CBV, Curitiba Vôlei e Tijuca Tênis Clube

Confederação Brasileira de Vôlei:

“A Confederação Brasileira de Voleibol repudia e não admite qualquer tipo de preconceito ou ato discriminatório, e entende que o esporte é uma ferramenta para propagação de valores como o respeito, a tolerância e a igualdade. Como a CBV não tem poder punitivo e nem de polícia, está fazendo o levantamento do material comprobatório – imagens do jogo, súmula, relatório do delegado da partida e manifestações de atletas e clubes envolvidos. Este material será encaminhado aos órgãos competentes (principalmente Ministério Público, autoridade policial, STJD e Comitê de Ética), para que sejam tomadas todas as medidas cabíveis no âmbito esportivo e perante o poder público e demais instâncias. A CBV acompanhará os desdobramentos do caso e não medirá esforços para que todos os responsáveis sejam identificados e punidos”

Curitiba Vôlei:

“Através da presente nota, o Curitiba Vôlei vem a público informar que está ciente quanto às alegações dos fatos supostamente ocorridos na partida desta sexta-feira.
Até o momento, não se pôde constatar, seja pelas imagens ou áudio da partida, a ocorrência do alegado.
O Clube informa ainda que seguirá apurando a situação e, caso consiga identificar a ocorrência dos atos ofensivos, os levará imediatamente às autoridades competentes e voltará a se manifestar.
Por fim, o Curitiba Vôlei salienta o seu repúdio a quaisquer atos de intolerância e preconceito, reafirmando o seu compromisso com o respeito ao próximo e, sobretudo, com a verdade.
Em complemento, o Curitiba Vôlei informa que disponibilizará, já na segunda-feira, todas as imagens da partida para que as autoridades competentes possam apurar os fatos.
Novamente, o Clube ratifica que não compactua com atitudes discriminatórias e jamais medirá esforços para que a justiça seja feita!”

Tijuca Tênis Clube:

“Lamentável o incidente de racismo ocorrido na data de ontem, 26/01/2024, em Curitiba. Durante a partida de vôlei feminino, a torcida proferiu insultos racistas contra atletas negras.
A discriminação racial no esporte não apenas compromete a integridade e o espírito competitivo, mas também representa um sério obstáculo ao desenvolvimento. Ao segregar talentos com base em características raciais, perdemos a oportunidade de enriquecer o esporte com diversas perspectivas e habilidades. A verdadeira excelência esportiva só pode ser alcançada em ambientes inclusivos e equitativos.
Repudiamos veementemente essa conduta que vai contra os princípios de respeito e igualdade que sempre devem prevalecer.
Devemos promover a inclusão e repudiar qualquer forma de preconceito.
O Tijuca Tênis Clube se compromete a tomar as medidas para erradicar o racismo e garantir um ambiente seguro e inclusivo para todos os atletas”

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