Ministério da Cultura vê ato de racismo

Por: Rafael Amaral

 

Ciganos protestam em frente ao Fórum e classificam retirada de criança dos braços da mãe como autoritarismo

 

 

O Ministério da Cultura, por meio da SID (Secretaria de Identidade e Diversidade Cultural), classificou nesta quinta-feira que a atitude da Justiça e da Guarda Municipal (arrancar a mãe dos braços da filha), além de violenta, foi motivada por preconceito.

– Leia mais: Mãe já está com a filha nos braços

Em nota, a SID informou que o padre Wallace Zanon, coordenador Nacional da Pastoral dos Nômades do Brasil, teria entrado em contato com a Diocese de Jundiaí, para que a Igreja acompanhasse o caso.

 

Protestos
A comunidade cigana reagiu com protestos contra a retirada da filha de Dervana Dias. Nesta quinta-feira, cerca de 20 ciganos passaram o dia em frente ao Fórum de Jundiaí.

 

“Nem na Itália de Berlusconi é possível ver cenas como essa”, disse Marcia Yáskara, 69 anos, que representa o povo cigano pela Apreci (Associação de Preservação da Cultura Cigana), de São Paulo, referindo-se às imagens mostradas na televisão.

“O Brasil é o único país que teve um presidente cigano”, disse, sobre Juscelino Kubitschek. “E nem por isso temos uma política pública que nos favorece”, afirmou Márcia.

 

O advogado que cuida do processo, Frederico Depieri, 35, esteve no local e conversou com os ciganos.

Em nota, a advogada do Centro de Referência dos Direitos do Povo Cigano, Vanessa Martins de Souza, afirmou ter entrado em contato com o Ministério Público de Jundiaí e pediu providências.

 

“Somos um povo unido, apesar de distantes quando se trata de cidades em que estamos”, disse a cigana Azimar Orlow, da Cerci (Centro de Estudos e Resgate da Cultura Cigana), que ficou assustada com as imagens que passaram na televisão.

“Aquela é uma atitude que faz lembrar de Auschwitz”, declarou, em referência ao nazismo.

 

‘Mães da Praça do Fórum’ é  antecedente
Jundiaí tornou-se conhecida em todo o país por um movimento surgido em 1995, que reuniu cerca de 40 familiares de crianças retiradas dos pais pela Justiça.

 

Conhecido como “Mães da Praça do Fórum”, o caso influenciou mudanças na Lei de Adoção, onde a preferência passou a ser por familiares ou por outros brasileiros.

 

O movimento foi assessorado pelo advogado Marco Antonio Colagrossi, que esteve com algumas mães na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Senado Federal sobre o assunto, em 1999.

 

Muitas crianças foram enviadas para adoção internacional, em processos que causaram suspeitas sobre a Justiça, a Promotoria e funcionários municipais naquela época.

 

Na cidade, o veículo de apreensão ficou conhecido no período como “cata-criança”.

 

Um dos casos mais graves registrados na época foi de um garoto retirado dos pais em 1996 e que apenas foi liberado aos tios em 2000, quando o juiz Luiz Beethoven Giffoni Ferreira deixou Jundiaí.

Ciganas irritam comerciantes no Centro
Os comerciantes ouvidos na rua Barão do Triunfo (onde Delvana foi encontrada pela Guarda Municipal) e da rua do Rosário dizem que as ciganas que ficam no Centro atrapalham as vendas, pois pedem para ler a mão de clientes nas portas das lojas e pedem dinheiro.

 

“As ciganas entram e pedem dinheiro para os clientes, até roupas em alguns casos”, diz uma vendedora de uma loja de sapatos que não quis se identificar.

 

“É normal elas ficarem por aqui, lendo a mão das pessoas”, declarou o representante de uma loja de roupas, Marciel Lopes, 25 anos, “Acontece de clientes mudarem de calçada quando vêem as ciganas aqui na frente.”

A vendedora Jaqueline Cristina, 19, diz que elas sempre estão na companhia de crianças. “Elas sempre entram na loja e pedem alguma coisa.”

 

Os comerciantes e vendedores das lojas na Barão do Triunfo disseram que não viram a ação da Guarda Muncipal na segunda-feira, quando a cigana Dervana estava com sua filha.

 

“Algumas ciganas ficam pela rua vendendo balas”, diz um comerciante.

 

De acordo com uma vendedora, nas últimas semanas, a quantidade de ciganas aumentou nas ruas do Centro.

 

 

Fonte: Rede Bom Dia

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