por Arísia Barros
Sentado a porta da loja do comércio da grande Maceió, o menino conta moedas que recolhe estendendo as mãozinhas e espichando um olhar longo e triste, que causa um rebuliço de sentimentos contraditórios, na emoção dos que passam rápidos, na velocidade da emergência diária.
Alguns olhares, mesmo que apressados agridem o menino, como a repudiar sua existência.
Os dentes do pequeno são como teclado de piano desafinado. Há muito perderam a função da mastigação, pois corroídos pela falta de higiene, traduzem a miséria absoluta.
É um menino bonito, entre 07 e 09 anos e apesar da ausência dos dentes tem um sorriso largo, iluminado que se reflete no brilho do olho esverdeado.
O menino tem a pele preta e traz no verde dos olhos o produto da tal miscigenação entre raças, a riqueza tão decantada neste país, mas que não contribui em nada para tirar o menino da exposição da pobreza.
Para o país miscigenado esse menino que pede moedas, sentado na porta da loja, continua a ser preto e a ele está destinado-socialmente- as muitas calçadas invisíveis da vida ou as esquinas obscuras de políticas públicas.
A infância do menino é carregada de estigmas. Memória coletiva da história cativa.
O vendedor da loja observando a contação das moedas pergunta: Você está na escola?
A criança um tanto envergonhada balança a cabeça em negativa.
E o vendedor: Oxê, menino porque você não está na escola?
A criança de sexo masculino e de pele preta olha no olho do vendedor e explode: A escola não é lugar pra neguinho!
Desce as cortinas.
O racismo nas terras de Cabral fala em diferentes línguas, sem arredar pé de invadir novos espaços, alcançar novos mundos, principalmente os da infância.
Ato II: Como reinventar a democracia no Brasil com o olhar da liberdade social, além da cor da pele?
Fonte: Raízes da África