A fidelidade não é natural

Comentando o “Se eu fosse você”

Por Regina Navarro Lins Do Uol

A questão da semana é o caso do homem que sente tesão por outros homens, mas seu namorado exige exclusividade. Esse é um conflito que ocorre com frequência. Apesar de todos os ensinamentos que recebemos desde que nascemos – família, escola, amigos, religião – nos estimularem a investir nossa energia sexual em uma única pessoa, a prática é bem diferente. Uma porcentagem significativa de homens e mulheres casados, ou numa relação estável, compartilha seu tempo e seu prazer com outros parceiros.

A antropóloga americana Helen Fisher conclui que nossa tendência para as ligações extraconjugais parece ser o triunfo da natureza sobre a cultura. “Dezenas de estudos etnográficos, sem mencionar inúmeras obras de história e de ficção, são testemunhos da prevalência das atividades sexuais extraconjugais entre homens e mulheres do mundo inteiro. Embora os seres humanos flertem, apaixonem-se e se casem, eles também tendem a ser sexualmente infiéis a seus cônjuges.”

O professor de ciências sociais Elías Schweber, da Universidade Nacional Autônoma do México, reforça essa ideia. “Na infidelidade influem fatores psicológicos, culturais e genéticos que nos levam a afastar a ideia romântica da exclusividade sexual. Não existe nenhum tipo de evidência biológica ou antropológica na qual a monogamia é ‘natural’ ou ‘normal’ no comportamento dos seres humanos. Ao contrário, existe evidência suficiente na qual se demonstra que as pessoas tendem a ter múltiplos parceiros sexuais.”

Um dos pressupostos mais universalmente aceitos em nossa sociedade é o de que o casal monogâmico é a única estrutura válida de relacionamento sexual humano, sendo tão superior que não necessita ser questionado. Na verdade, nossa cultura coloca tanta ênfase nisso, que uma discussão séria sobre o assunto dos relacionamentos alternativos é muito rara.

Entretanto, as sociedades que adotam a monogamia têm dificuldades em comprovar que ela funciona. Ao contrário, parece haver grandes evidências, expressas pelas altas taxas de relações extraconjugais, de que a monogamia não funciona muito bem para os ocidentais. O argumento de que o ser humano é “predestinado” à monogamia é difícil de sustentar.

Portanto, uma vez que nós humanos nos damos tão mal com a monogamia, outras estruturas de relacionamento livremente escolhidas também devem ser consideradas. E para não haver mágoas e culpas é fundamental que a nossa visão do amor e do sexo seja passada claramente para o outro desde o início do relacionamento.

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